Laços e Riscos

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Os dias que se seguiram foram de uma intensidade quase insuportável. O Mundial estava à espreita, e a equipe treinava com uma dedicação absoluta. Cada salto, cada giro e cada aterrissagem eram carregados de expectativa e pressão. Flávia, apesar de todo o tumulto interno, tentava se concentrar no que sabia fazer de melhor: a ginástica.

No entanto, mesmo enquanto seu corpo se movia com precisão, sua mente continuava a vagar, dividida entre o que sentia por Júlia e o que começava a sentir por Pedro. As palavras de Júlia, sobre dar tempo ao tempo, ecoavam em sua cabeça, mas o tempo parecia ser um luxo que ela não podia se permitir.

Durante um treino especialmente exaustivo, Chico pediu que todos parassem para uma conversa. Havia uma energia nervosa no ar, e Flávia podia sentir o peso do que estava por vir.

— Estamos a poucos dias do Mundial — começou Chico, olhando cada um nos olhos. — Sei que todos vocês têm treinado com tudo que têm, mas quero que saibam que o que vai decidir nossa vitória não é apenas a técnica. É a união. Vocês precisam confiar uns nos outros, e isso significa deixar de lado qualquer coisa que esteja distraindo vocês.

Os olhos de Chico passaram rapidamente de Flávia para Júlia e, em seguida, para Pedro, que se mantinha em silêncio no fundo do grupo.

— A partir de agora, quero que vocês se concentrem apenas no que realmente importa: a equipe. Não podemos nos dar ao luxo de perder o foco. Estamos aqui para vencer.

As palavras de Chico deixaram todos em silêncio. Flávia sabia que ele estava certo, mas como ela poderia simplesmente desligar seus sentimentos? Como poderia colocar a equipe em primeiro lugar quando tudo dentro dela estava em tumulto?

Após a reunião, os treinos recomeçaram com uma intensidade renovada. Mas, para Flávia, cada movimento era acompanhado de uma batalha interna. Ela sentia o olhar de Pedro sobre ela, e cada vez que se aproximava de Júlia, um peso invisível apertava seu coração.

Dias Depois....

Finalmente, o dia do Mundial chegou. A arena estava lotada, e a atmosfera era eletrizante. O Brasil era um dos favoritos, e todos os olhos estavam voltados para as ginastas que representariam o país.

Nos bastidores, enquanto a equipe se preparava, Chico reuniu todos para uma última palavra de incentivo.

— Vocês chegaram até aqui com muito esforço e sacrifício. Agora é o momento de mostrar ao mundo do que vocês são capazes. Lembrem-se: vocês são uma equipe. E, como equipe, nada pode pará-los.

Flávia respirou fundo, tentando acalmar os nervos. Olhou para Júlia, que lhe deu um pequeno sorriso de incentivo. Naquele momento, Flávia percebeu que, apesar de tudo, a amizade delas ainda estava ali, forte o suficiente para resistir a qualquer tempestade.

Quando chegou a vez de Flávia competir, ela se concentrou em cada movimento, deixando que o ritmo e a técnica a guiassem. Tudo o que havia treinado, tudo pelo que havia lutado, culminava naquele momento.

As rotinas foram executadas com perfeição, e a equipe brasileira conseguiu se classificar entre os melhores. A tensão nos bastidores era palpável enquanto esperavam os resultados.

Finalmente, os juízes anunciaram os vencedores. O Brasil havia conquistado o ouro. A vitória foi recebida com gritos de alegria e lágrimas de alívio. Flávia sentiu uma onda de emoção tomar conta dela ao perceber que, apesar de todos os desafios, eles haviam conseguido.

Após a cerimônia de premiação, a equipe foi levada para uma festa em homenagem à vitória. A celebração era uma mistura de euforia e alívio, com todos os atletas se permitindo relaxar pela primeira vez em semanas.

Foi durante essa festa que Júlia finalmente usou o terninho que havia escolhido com tanto cuidado. Quando ela entrou na sala, Flávia ficou sem palavras. Júlia estava deslumbrante, e por um momento, Flávia sentiu seu coração acelerar.

— Você está incrível — disse Flávia, sem conseguir esconder a admiração em sua voz.

Júlia sorriu, um sorriso que trazia uma mistura de timidez e confiança.

— Obrigada, Flávia. Eu queria que esta noite fosse especial.

As duas passaram grande parte da noite juntas, conversando, rindo e, por um breve momento, esquecendo todas as complicações que as rodeavam. Pedro observava de longe, respeitando o espaço entre elas, mas não pôde evitar de sentir uma pontada de ciúmes.

Quando a noite chegou ao fim, Flávia se viu sozinha em uma varanda, olhando para o horizonte e refletindo sobre tudo o que havia acontecido. Júlia se aproximou silenciosamente, ficando ao seu lado.

— Eu estava pensando em como as coisas mudaram para nós — disse Flávia, com um leve suspiro.

— Eu também — respondeu Júlia, olhando para Flávia com uma intensidade que fez o coração dela disparar.

— Sabe, independentemente de tudo, eu quero que a nossa amizade continue — disse Flávia, com sinceridade.

Júlia assentiu, tocando levemente a mão de Flávia.

— Eu também, Flávia. Sempre.

Elas ficaram em silêncio por mais alguns momentos, apenas apreciando a companhia uma da outra. Havia ainda muito a ser resolvido, mas naquele momento, tudo o que importava era que estavam ali, juntas.

O futuro ainda era incerto, mas Flávia sabia que, de alguma forma, elas encontrariam uma maneira de fazer tudo dar certo.

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