Choque de Emoções

152 9 0
                                    

No dia seguinte ao jantar, Flávia e Júlia chegaram ao ginásio carregando o peso do que quase havia acontecido na noite anterior. Havia uma tensão no ar, algo não dito, mas que ambas sentiam intensamente. Pedro também parecia perceber, embora não soubesse a verdadeira causa.

O treino começou normalmente, mas logo ficou claro que a concentração de Flávia e Júlia estava comprometida. Os movimentos, normalmente precisos, estavam um pouco fora de ritmo, e Chico não demorou a perceber.

— Concentração, meninas! — ele gritou, enquanto observava atentamente a rotina. — O Mundial está chegando, não podemos nos dar ao luxo de erros!

As duas assentiram, tentando voltar ao foco, mas a verdade é que suas mentes estavam em outro lugar. Quando finalmente o treino terminou, Flávia estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Ela sabia que precisava falar com Pedro, esclarecer as coisas antes que se complicassem ainda mais.

Ela o encontrou do lado de fora do ginásio, encostado na parede, olhando para o céu. Parecia distraído, talvez até preocupado. Quando Flávia se aproximou, ele a olhou com um sorriso que não alcançou seus olhos.

— Precisamos conversar — disse ela, sem rodeios.

Pedro assentiu, endireitando-se. Ele já sabia que algo estava errado, mas esperou que Flávia tomasse a iniciativa.

— Eu… estou confuso, Pedro — começou ela, tentando encontrar as palavras certas. — Ontem, no jantar com a Júlia, aconteceu algo que… eu não esperava.

Pedro estreitou os olhos, a preocupação em seu rosto se intensificando.

— O que aconteceu? — ele perguntou, a voz calma, mas carregada de tensão.

— Eu e Júlia, nós… quase nos beijamos — admitiu Flávia, sentindo uma onda de alívio misturada com medo ao finalmente dizer em voz alta.

O silêncio que se seguiu foi opressor. Pedro olhou para ela, sua expressão mudando de surpresa para dor e depois para algo mais difícil de decifrar.

— Eu sabia que vocês duas tinham algo especial, mas… isso? — Ele passou a mão pelo cabelo, visivelmente abalado. — E o que isso significa para nós, Flávia?

Flávia engoliu em seco, sentindo o peso da pergunta. Ela mesma não tinha todas as respostas, mas sabia que não poderia continuar ignorando o que estava sentindo.

— Eu não sei, Pedro. Estou tão confusa quanto você. Gosto de você, de verdade, mas o que sinto por Júlia… é diferente. E não sei como lidar com isso.

Pedro balançou a cabeça, dando um passo para trás, como se estivesse tentando criar distância entre eles. A dor em seus olhos era evidente, mas havia algo mais ali, algo que Flávia não conseguia identificar.

— Você sabe o quanto eu gosto de você, Flávia. E eu estava disposto a lutar por isso, por nós. Mas… Júlia? — Ele respirou fundo, tentando se acalmar. — Isso muda tudo.

Flávia se aproximou, tentando estender a mão para ele, mas Pedro recuou.

— Pedro, por favor, eu não queria que fosse assim. Eu só quero ser honesta com você, e comigo mesma. Não quero te magoar, mas também não posso fingir que nada está acontecendo.

Pedro ficou em silêncio por alguns segundos, e então sua expressão mudou, endurecendo.

— Você já pensou que talvez eu tenha ciúmes, Flávia? De ver vocês duas tão próximas, sabendo que pode haver algo mais entre vocês? E o que eu faço com isso? — Ele cruzou os braços, seu tom ficando mais intenso. — Eu não quero competir pelo seu coração, Flávia, especialmente não com uma amiga em comum.

Flávia sentiu o peito apertar. Sabia que Pedro tinha razão, que a situação era extremamente complicada, mas ainda assim, ela não podia negar o que sentia.

— Eu não estou pedindo para você competir, Pedro. Eu só… eu só preciso de tempo para entender o que realmente quero.

Pedro soltou uma risada amarga.

— Tempo? Flávia, acabamos de passar o mundial.Nós todos estamos à beira de um colapso com essa pressão que foi colocada sobre a gente. E agora, eu tenho que lidar com isso também?

Antes que Flávia pudesse responder, Júlia apareceu ao longe, vindo em direção a eles. Parecia ter sentido a tensão no ar, mas não hesitou em se aproximar.

— Está tudo bem aqui? — perguntou Júlia, lançando um olhar preocupado para Flávia e depois para Pedro.

Pedro virou-se para ela, e Flávia pôde ver a tempestade de emoções passando por seus olhos. Ele não respondeu imediatamente, mas quando o fez, suas palavras foram carregadas de uma mistura de frustração e dor.

— Não, Júlia, não está tudo bem — respondeu Pedro, sua voz fria. — Nada disso está certo. Eu estou cansado de ser o terceiro nessa história.

Júlia pareceu surpresa com a intensidade das palavras de Pedro. Ela olhou para Flávia, tentando entender o que havia acontecido.

— Pedro, eu… — começou Júlia, mas Pedro levantou a mão, interrompendo-a.

— Não, Júlia. Eu não quero ouvir mais nada. Eu preciso de um tempo longe disso tudo — disse ele, antes de se virar e começar a se afastar.

Flávia sentiu uma onda de culpa e tristeza enquanto o via partir. Ela olhou para Júlia, que também parecia devastada pelo que acabara de acontecer.

— Flávia, eu sinto muito — murmurou Júlia, seus olhos cheios de arrependimento.

Flávia não soube o que dizer. Apenas se aproximou de Júlia e a abraçou, sentindo que, de alguma forma, precisavam enfrentar aquilo juntas, mesmo que não soubessem como.

O abraço foi um misto de conforto e desespero, e ambas sabiam que o caminho à frente seria difícil.  E as emoções à flor da pele não ajudavam muito, a única coisa que podiam fazer era tentar se manter firmes, uma ao lado da outra, enquanto tudo ao redor parecia desmoronar.

Além da amizade Onde histórias criam vida. Descubra agora