Corações em Guerra

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Desde o fim do Mundial, as coisas entre Flávia e Pedro nunca mais foram as mesmas. A discussão que tiveram semanas atrás, com acusações de ciúmes e mágoas, criou uma barreira invisível entre eles. Mesmo quando estavam no ginásio, lado a lado, o silêncio entre os dois falava mais do que qualquer palavra poderia.

Pedro havia se afastado. Suas interações com Flávia tornaram-se breves e formais, restritas ao essencial. Ele não estava mais lá para as conversas após o treino, os sorrisos cúmplices ou as brincadeiras que faziam um ao outro rir. Para todos os efeitos, Pedro parecia uma sombra do que fora, e Flávia sentia isso como uma perda profunda, embora soubesse que era algo que ela havia, em parte, causado.

Aquela última briga continuava a ecoar na mente de Flávia. Pedro havia confrontado seus sentimentos por Júlia, questionando a proximidade entre as duas de uma forma que a pegara de surpresa. O ciúme dele era evidente, mas o que mais a magoara foi a sensação de que Pedro não confiava nela, de que ele a via como alguém que estava traindo a confiança deles.

Desde então, Flávia se sentia dividida. De um lado, havia a culpa pelo afastamento de Pedro e o desejo de reparar o que fora quebrado; do outro, havia a confusão que Júlia trazia a cada encontro, a cada olhar, a cada toque que parecia carregar algo mais.

Júlia, por sua vez, não escondia mais o que sentia. Desde o beijo que compartilharam, o clima entre elas no ginásio havia se tornado algo quase palpável, uma tensão que ambas tentavam disfarçar, mas que estava sempre presente. O problema era que, apesar do que sentiam, Flávia e Júlia ainda estavam tentando entender o que aquilo significava para elas.

Flávia olhava para Júlia durante o treino, e seus pensamentos se confundiam. Por um lado, a presença de Júlia era um conforto, uma certeza em meio ao caos de seus sentimentos. Por outro, a proximidade com ela a fazia questionar tudo o que achava que sabia sobre si mesma.

E assim, as duas continuavam nessa dança perigosa. Júlia fazia piadas de duplo sentido, tocava Flávia de forma casual, mas que carregava uma eletricidade que ambas sentiam. E Flávia, por sua vez, se pegava respondendo a essas provocações, quase sem perceber. O beijo que compartilharam no treino ainda estava fresco em sua memória, um momento de pura emoção que ambas tentavam, em vão, esquecer.

Mas a realidade não podia ser ignorada. Pedro estava cada vez mais distante, e Flávia sabia que não poderia continuar adiando a decisão que precisava tomar. Ela precisava escolher entre tentar consertar o que tinha com Pedro ou explorar o que estava crescendo entre ela e Júlia. No entanto, ambas as opções pareciam dolorosas de uma maneira ou de outra.

Naquele dia, enquanto guardava seus equipamentos após o treino, Flávia sentiu a presença de Pedro se aproximando. Ele estava hesitante, como se não soubesse bem como abordar o que queria dizer, e isso a fez sentir um aperto no peito.

— Podemos conversar? — Ele finalmente perguntou, sua voz carregada de uma seriedade que Flávia não conseguia ignorar.

Flávia assentiu, sabendo que não havia mais como fugir daquilo. Os dois se afastaram dos outros, buscando um canto mais reservado do ginásio.

— Eu pensei muito sobre o que aconteceu entre a gente, Flávia — começou Pedro, sem rodeios. — E eu não consigo entender por que as coisas chegaram a esse ponto. Eu sempre achei que éramos mais do que isso… mais do que essa confusão toda.

Flávia sentiu o peso das palavras de Pedro e soube que ele tinha razão. O que eles tinham não deveria ter se perdido tão facilmente, mas o fato era que algo havia mudado entre eles, e ela não sabia como reparar aquilo.

— Pedro, eu… eu também não queria que as coisas fossem assim. Mas muita coisa mudou, e eu não sei mais o que fazer para consertar isso — disse Flávia, sua voz vacilando enquanto tentava ser honesta.

Pedro a observou por um momento, seus olhos refletindo a dor que ele estava sentindo.

— Isso tem a ver com a Júlia, não é? — Ele perguntou, direto, sua voz carregada de uma tristeza que Flávia nunca tinha visto antes.

Ela hesitou, mas sabia que não podia continuar mentindo, nem para ele, nem para si mesma.

— Eu não sei, Pedro. Estou confusa. Júlia… ela mexe comigo de uma maneira que eu não consigo explicar, e isso me assusta — confessou Flávia, finalmente admitindo o que vinha tentando esconder.

Pedro respirou fundo, como se estivesse tentando absorver o impacto do que ela acabara de dizer. Ele deu um passo para trás, como se a distância física pudesse ajudar a processar aquilo.

— Eu só queria que as coisas voltassem a ser como eram antes, Flávia. Mas acho que isso não vai acontecer, não é? — Disse ele, sua voz cheia de resignação.

Flávia sentiu o coração apertar. Parte dela queria desesperadamente consertar o que tinha com Pedro, mas outra parte sabia que as coisas nunca seriam as mesmas.

— Eu sinto muito, Pedro. Eu realmente sinto — foi tudo o que ela conseguiu dizer.

Pedro assentiu, mais para si mesmo do que para ela, e se afastou, deixando Flávia sozinha com seus pensamentos.

Enquanto o observava sair, Flávia sabia que o que eles tinham estava desmoronando. E, embora isso a entristecesse, ela também sabia que precisava entender o que sentia por Júlia, por mais difícil que isso fosse.

No ginásio, Júlia observava de longe, ciente de que algo havia mudado. Ela e Flávia tinham se aproximado, mas o preço dessa proximidade estava começando a se mostrar alto demais. E enquanto Pedro se afastava, o que restava para Flávia e Júlia ainda era uma incógnita — algo que ambas precisariam enfrentar, cedo ou tarde.

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