O calor era sufocante. O sol brilhava com uma intensidade cruel, e o vento seco do Texas não fazia mais do que espalhar poeira pelo ar. Rosé olhou pela janela do carro enquanto o pai dirigia pela estrada deserta. Cada quilômetro parecia um peso adicional nos seus ombros. O Texas era diferente de tudo que ela conhecia — Vasto, árido, quase deserto. A cidade onde agora teria que viver era um aglomerado de casas espalhadas, como se alguém tivesse decidido largar construções ao acaso. Parecia tão sem vida quanto ela se sentia.
Quando chegaram à nova casa, Rosé mal olhou para a fachada. Entrou sem dizer uma palavra, arrastando sua mala pelo corredor estreito. O pai tentou quebrar o gelo, indicando o quarto onde ela ficaria e oferecendo ajuda para desempacotar, mas Rosé apenas balançou a cabeça, murmurando um rápido — Eu me viro, pai.
Ela encostou a porta do quarto e se jogou na cama, encarando o teto por longos minutos. Era um espaço pequeno, decorado de forma impessoal, como se ninguém tivesse se importado em tornar aquilo um lar. Rosé não se deu ao trabalho de desfazer as malas. Parecia inútil. Ela sentia que não pertencia àquele lugar, que nunca pertenceria.
As horas passavam devagar. Rosé ficava trancada, escrevendo em seu caderno de capa dura. O lápis se movia freneticamente pelas páginas, quase como se as palavras fossem uma forma de escapar. Ela escrevia sobre mundos distantes, sobre pessoas que encontravam o que procuravam, sobre personagens que conseguiam o que ela jamais teria: paz. Rosé tinha ideias para livros inteiros, histórias que fervilhavam em sua mente como um refúgio para tudo o que estava sentindo naquele momento.
No fundo, ela sonhava em publicar algo, deixar sua marca em um mundo que parecia indiferente à sua dor. Escrever era a única coisa que fazia sentido, o único pedaço de controle que restava. Era como se, ao criar histórias, ela pudesse moldar um destino diferente para si mesma, um onde não se sentisse tão perdida.
No entanto, o cotidiano era uma batalha constante contra a solidão. Rosé passava boa parte do dia sozinha, enquanto o pai trabalhava e a namorada dele, Rachel, tentava se aproximar, mas sem sucesso. Rachel era uma mulher de cabelos loiros, um sorriso largo e uma voz baixa porém animada demais para a rotina monótona daquela casa. Era o tipo de pessoa que tentava fazer tudo parecer normal, mesmo quando nada estava.
Certa tarde, depois de mais um dia entediante, Rachel bateu na porta do quarto de Rosé — Posso entrar? — perguntou, hesitante.
Rosé hesitou antes de responder, revirando os olhos enquanto se afastava da porta — Tá bom.
Rachel entrou com uma bandeja nas mãos, um sorriso forçado no rosto. Havia um copo de suco e um sanduíche ali, como uma oferta de paz. — Eu fiz um lanche para você. Achei que poderia estar com fome..
Os passos de Rachel ecoavam pelo chão de madeira escura do quarto de Rosé, uma pequena penteadeira de um tipo de madeira clara, porém com plástico, sua bolsa da escola, e um armário.
Rosé mal olhou para o prato. — Obrigada, Rachel, mas eu não estou com muita fome agora. — disse, sem muita emoção.
Rachel tentou iniciar uma conversa, olhando ao redor do quarto como se procurasse algo para comentar. — É... eu sei que não deve estar sendo fácil para você. Mudar para cá, tão de repente... Eu quero que você saiba que pode contar comigo, tá? — disse, tentando soar amigável.
Rosé apenas assentiu, sem muita vontade de continuar a conversa. A presença de Rachel era um lembrete constante do que tinha sido tirado dela. — Valeu. Eu sei que você tá tentando — respondeu, mas sua voz não tinha entusiasmo.
Rachel respirou fundo, percebendo que suas tentativas de aproximação não iam muito longe. — Bom, se precisar de alguma coisa, é só chamar. Vou deixar você descansar — disse antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si.
Assim que ficou sozinha, Rosé voltou para seu caderno. Ela rabiscou alguns parágrafos, mas sua mente estava dispersa. A raiva que sentia do pai e a presença constante de Rachel a sufocavam. Tudo parecia uma constante lembrança de que sua vida havia sido arrancada de seu controle.
Mais tarde, depois de várias horas trancada, Rosé decidiu sair do quarto. Precisava esticar as pernas, fazer algo que a distraísse do peso que sentia no peito. Caminhou até a cozinha, onde Rachel estava mexendo em uma panela, o som do óleo fervendo preenchendo o silêncio. Rosé se sentou à mesa, observando sem muito interesse.
Rachel tentou puxar assunto. — Como foi seu dia? — perguntou, enquanto mexia a comida.
Rosé deu de ombros, olhando para as próprias mãos. — Normal. — respondeu de forma curta.
Rachel forçou um sorriso. — Vai se acostumar. Eu sei que parece estranho no começo, mas esse lugar tem suas vantagens. A cidade é pequena, mas tem algumas coisas legais pra fazer. Tem um café na esquina, o dono é super gente boa. Quem sabe você não conhece alguém por lá?
Rosé apenas murmurou algo inaudível, sentindo que aquela conversa não levaria a lugar algum. Ela não queria explorar, não queria conhecer ninguém. Queria sua mãe de volta, queria sua antiga vida de volta. Tudo parecia tão errado.
À noite, quando todos já estavam em seus quartos, Rosé se pegou olhando para as estrelas pela janela do quarto. O céu do Texas era vasto, cheio de pontos brilhantes, mas mesmo assim, ela se sentia presa. Era uma ironia cruel estar em um lugar tão aberto e, ainda assim, sentir-se sufocada.
Rosé pensava nas histórias que escrevia, nos personagens que criava para se distrair da própria realidade. Em suas narrativas, ela era a heroína que conseguia encontrar uma saída, que lutava contra a dor e vencia. Mas a vida real era muito mais difícil, as cicatrizes mais profundas, e as respostas muito mais distantes.
No fundo, Rosé sabia que continuar escrevendo era sua forma de sobrevivência. Era uma maneira de manter viva a parte de si que ainda acreditava em algo mais, mesmo que pequeno. Ela voltou para a cama, abraçando o travesseiro, enquanto o caderno aberto exibia as páginas rabiscadas de suas últimas criações. A única coisa que ela sabia é que, de alguma forma, aquelas histórias eram tudo o que lhe restava.
Rosé adormeceu com o coração pesado, mas com a cabeça cheia de palavras e ideias que a mantinham, de alguma forma, conectada com o que importava. Ela prometeu para si mesma que, mesmo naquele deserto emocional, continuaria escrevendo. Era sua forma de encontrar um sentido em meio ao caos, de criar um mundo onde ainda pudesse se sentir inteira.
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ᘡ ۫ 𖨂 𓈒 Querido Texas ۟ ៹ 𓂂
FanfictionEm meio ao caos e aos traumas de uma adolescência marcada pela perda e pelo vício, Rosé e Lalisa se encontram e se tornam inseparáveis, duas almas perdidas buscando redenção uma na outra. Desde a adolescência conturbada no Texas até os dias frios em...