A escola era um labirinto de corredores estreitos e pouco barulhentos. Diferente do caos que Rosé esperava, o ambiente era surpreendentemente controlado, quase melancólico. Havia algo de decadente naquele prédio antigo, com suas paredes cinzentas e armários amassados. Era como se o tempo tivesse parado ali, deixando apenas os alunos para preencher os espaços com suas próprias frustrações e histórias mal resolvidas.
Rosé passava seus dias tentando se manter invisível. Ela se sentava nos fundos das salas, encostada na parede, com o caderno sempre aberto sobre a mesa, fingindo anotar alguma coisa enquanto sua mente vagava por lugares distantes. As aulas pareciam uma repetição infinita, e Rosé observava os professores sem muita atenção, seus olhos focando mais nas rachaduras das paredes do que nos quadros brancos manchados de tinta.
Nos intervalos, ela se afastava das rodas de conversa, preferindo um canto mais isolado do pátio. Havia sempre um burburinho de discussões e brigas, alguns gritos abafados, que ecoavam pelos corredores, mas Rosé preferia não se envolver. Não era só o desconforto de ser a novata; era o peso de uma rotina sem brilho, que a deixava mais cansada a cada dia.
Foi em uma dessas tardes, enquanto estava sentada sozinha em um banco perto do ginásio, que ela notou Lalisa pela primeira vez. Ela era uma garota alta, magra, com cabelos bagunçados e olhos que pareciam sempre distraídos. Rosé a reconhecia de vista, mas nunca havia trocado uma palavra com ela. Lalisa era uma presença constante nos cantos mais solitários da escola, sempre com um cigarro nas mãos ou rabiscando algo em um caderno.
Naquele dia, ela estava com os fones de ouvido, sentado em uma mesa com um olhar perdido. Parecia tão fora de lugar quanto Rosé se sentia, e talvez fosse isso que chamou sua atenção. Ela observou por alguns instantes antes de voltar ao próprio caderno, mas a presença de Lalisa a fez sentir uma estranha familiaridade, como se ambas compartilhassem o mesmo tipo de exílio voluntário.
Na semana seguinte, eles se encontraram de novo, dessa vez na biblioteca. Rosé estava folheando um livro sem interesse, quando Lalisa apareceu do nada e se sentou na cadeira ao lado, sem pedir licença. Ela a encarou, surpresa com a audácia, mas ela não parecia se importar.
Oi — ela disse, sem levantar os olhos do livro que segurava.
Oi — Rosé respondeu, um pouco desconcertada com a abordagem repentina.
O silêncio se instalou entre eles, mas não era desconfortável. Parecia mais uma trégua silenciosa, um entendimento tácito de que ambas precisavam de companhia, mesmo que não soubessem muito bem o que fazer com isso. Rosé olhou para o livro de Lalisa e ele estava em.. Russo?! Que tipo de pessoa lê um livro em Russo no Texas?!
— Por que você está me encarando assim? — Rosé soltou uma risada de leve, ainda sem saber exatamente o que dizer — Errmm... Seu livro!
Lalisa deu de ombros, como se já tivesse ouvido essa resposta antes — Meu livro?! я знаю что на крут! (eu sei que ele é legal!)— ela disse, com um sorriso de leve no rosto.
Ela não conseguiu segurar um pequeno sorriso, reconhecendo que havia algo de intrigante nela — Você parece o tipo de pessoa que se dá mal de propósito.. Esse seu olho roxo foi o que?!
Ela riu, colocando o livro de volta no sofá. — Ah, foi meu pai! Bom, talvez. Mas geralmente é o contrário... As coisas meio que me dão errado, mesmo que eu não tente.
Elas passaram a se encontrar com frequência nos corredores em alguns horários, quase como se suas rotinas finalmente tivessem se alinhado. A amizade cresceu aos poucos, com conversas curtas sobre as aulas, sobre como ambos odiavam a cidade e sobre como o tempo ali parecia passar devagar demais. Lalisa contava histórias sobre o seu passado com um certo tom cínico, sempre descrevendo situações difíceis com uma leveza que Rosé sabia ser apenas uma máscara.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ᘡ ۫ 𖨂 𓈒 Querido Texas ۟ ៹ 𓂂
FanfictionEm meio ao caos e aos traumas de uma adolescência marcada pela perda e pelo vício, Rosé e Lalisa se encontram e se tornam inseparáveis, duas almas perdidas buscando redenção uma na outra. Desde a adolescência conturbada no Texas até os dias frios em...