୨୧ Imaturidade Suficiente :: 16

2 1 0
                                    

Rosé acordou com o som insistente de seu celular vibrando na mesinha de cabeceira. Ela mal teve tempo de abrir os olhos e já sentia a dor de cabeça latejante da noite anterior. O apartamento estava mergulhado em uma penumbra sufocante, com roupas espalhadas pelo chão e garrafas vazias de bebidas que pareciam ecoar os erros cometidos na madrugada. Com um suspiro pesado, ela alcançou o celular e viu o nome de Lalisa piscando na tela.

Rosé atendeu, a voz rouca e preguiçosa. — Fala, Lisa

Do outro lado, a voz de Lalisa soava animada, como se a ressaca não tivesse feito nem cócegas nela. — Acorda, Rosie! Tenho um plano hoje. E vai dar dinheiro. Muito dinheiro

Rosé se sentou na cama, tentando juntar as peças. — Plano? Que tipo de plano? Você sabe que essas suas ideias não costumam dar certo

Lalisa riu, uma risada que misturava confiança e loucura. — Não dessa vez. Eu juro. Tem um cara que conhece um cara que conhece outro cara. A gente só precisa buscar a encomenda, entregar, e pronto. Dinheiro fácil. Nada de complicação!

Rosé esfregou os olhos, sentindo a boca seca e amarga. Ela sabia que os esquemas de Lalisa nunca eram tão simples quanto pareciam. Mas a promessa de dinheiro fácil era tentadora demais para ignorar, especialmente com as contas acumulando e a sensação constante de estar à beira do precipício. — Tá, tá bom. Onde a gente se encontra?

Elas se encontraram em um estacionamento abandonado nos arredores de Vegas. Lalisa estava encostada em seu carro velho, o cabelo loiro preso em um coque bagunçado e um cigarro pendurado entre os lábios. Rosé acendeu seu próprio cigarro, inalando a fumaça como se precisasse desesperadamente daquele alívio temporário.

— Então, qual é o plano, chefe? — Rosé brincou, soltando a fumaça devagar.

Lalisa sorriu, mas seus olhos mostravam um brilho de nervosismo que Rosé percebeu de imediato. — Simples. A gente pega a mala com o cara lá no fim da rua e entrega pro Dimitri. Só isso. Fácil, rápido, sem stress

Rosé deu mais uma tragada, pensativa. — E o que tem nessa mala que vale tanto assim?

Lalisa deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas Rosé conhecia bem o suficiente para perceber a mentira. — Coisas que não são da nossa conta. A gente só faz a entrega. O dinheiro tá no fim do caminho

O coração de Rosé batia acelerado. Ela sabia que estavam se metendo em algo arriscado, mas a presença de Lalisa ao seu lado sempre fazia parecer que tudo era possível, que o perigo era apenas uma parte da diversão. Elas caminharam até o local combinado, e Rosé sentiu um frio na espinha ao ver o homem que as esperava — um sujeito alto, careca, com tatuagens que subiam pelo pescoço e um olhar que parecia pesar cada movimento delas.

Lalisa pegou a mala sem hesitar, um sorriso ousado no rosto. — Fácil assim. Vamos nessa

O caminho até o ponto de entrega era uma mistura de silêncio tenso e risadas nervosas. Rosé olhava pela janela do carro, fumando mais um cigarro enquanto observava as luzes de Vegas piscando no horizonte, como um lembrete constante de que elas estavam longe de casa e de qualquer tipo de segurança. Lalisa falava sem parar sobre o que fariam com o dinheiro — viagens, roupas, festas — e Rosé sorria de lado, tentando se convencer de que, talvez, essa fosse a chance delas.

Quando chegaram ao local de entrega, Dimitri já estava esperando, cercado por dois capangas. Rosé saiu do carro devagar, seus passos ecoando no chão de concreto. Lalisa segurava a mala com força, e Rosé pôde ver o leve tremor em suas mãos. A troca era para ser rápida, sem complicações, mas assim que Lalisa estendeu a mala, um dos capangas de Dimitri puxou uma arma, apontando diretamente para elas.

— O que é isso? — Rosé tentou manter a voz firme, mas seu coração batia tão forte que ela quase não conseguia respirar.

Dimitri deu um passo à frente, a expressão fria e calculista. — Vocês acham que a gente é idiota? Essa mala tá vazia. Onde tá a mercadoria?

Rosé e Lalisa trocaram olhares rápidos, e a ficha caiu de que tinham sido passadas para trás. Lalisa tentou argumentar, mas antes que pudesse terminar, o capanga deu um passo à frente, empurrando-a com força. — Vocês duas tão ferradas. A gente vai ter uma conversinha agora.

O pânico tomou conta de Rosé, que instintivamente deu um passo para trás, tentando pensar em uma saída. Mas Lalisa, mesmo com medo, ergueu o queixo e enfrentou Dimitri com um olhar desafiador. — A gente não sabia de nada. Alguém enganou a gente. Mas pode deixar, a gente resolve

Dimitri riu, mas era uma risada sem humor, cheia de desdém. — Resolver? Vocês não resolvem nem a própria vida. Se não aparecer com a mercadoria até amanhã, não quero nem saber o que vai acontecer. Sumam daqui

As duas saíram correndo, o coração disparado e o medo pulsando na pele. Entraram no carro de Lalisa, e ela deu a partida com tanta força que os pneus chiaram contra o asfalto. A raiva estava estampada em seu rosto, e Rosé sentia-se culpada por não ter questionado mais antes de se envolver naquilo. — Que caralho, Lisa. A gente quase morreu ali. E agora?

Lalisa bufou, os dedos batendo no volante com impaciência. — Agora a gente acha o cara que passou a mala pra gente e faz ele devolver a coisa certa. Não tem outra opção

Rosé jogou a cabeça para trás, fechando os olhos por um momento, sentindo o peso do cigarro queimando entre seus dedos. — Isso é uma loucura, você sabe. A gente tá brincando com fogo !

Lalisa deu um sorriso torto, aquele sorriso que Rosé odiava tanto quanto amava, porque sempre significava encrenca. — Loucura é a gente desistir agora. Se a gente for pra baixo, vai ser lutando

Horas depois, Rosé e Lalisa estavam sentadas no chão sujo de um estacionamento vazio, fumando e tentando descobrir qual seria o próximo passo. Rosé observava a fumaça subir no ar, cada tragada um escape temporário da realidade. — Sabe, Lisa... às vezes eu penso que a gente devia ter ficado no Texas. Nada disso estaria acontecendo se a gente não tivesse saído de lá

Lalisa olhou para Rosé, os olhos cheios de uma mistura de frustração e uma estranha ternura. — A gente sempre ia se meter em problema, Roseanne. Seja no Texas, na Rússia ou aqui. É o que a gente é. Não dá pra mudar isso!

Rosé suspirou, jogando o cigarro no chão e apagando ele com o pé. — Eu só não quero perder você. Não de novo. Não assim.

Lalisa se aproximou, colocando a mão no ombro de Rosé. — Você nunca vai me perder. A gente se meteu nessa juntas, e juntas a gente vai sair. É só mais um obstáculo, e a gente já superou piores

As palavras de Lalisa traziam um conforto momentâneo, mas Rosé sabia que estavam andando na beira do abismo. Elas se abraçaram, um abraço cheio de promessas silenciosas e medos não ditos. Estavam presas em um ciclo que parecia impossível de quebrar, mas, pelo menos naquele momento, Rosé sabia que não estava sozinha.

Com a cabeça encostada no ombro de Lalisa, Rosé fechou os olhos, desejando por um segundo que tudo fosse diferente. Mas mesmo sabendo dos riscos, das consequências, e do perigo que se tornava cada vez mais real, ela não conseguia imaginar seguir em frente sem Lalisa ao seu lado.

ᘡ    ۫    𖨂    𓈒   Querido Texas  ۟    ៹    𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora