A madrugada de Las Vegas parecia mais fria do que o normal, com o vento cortante varrendo as ruas desertas. Rosé e Lalisa estavam sentadas em um estacionamento sujo, o som distante dos carros e das sirenes preenchendo o silêncio incômodo entre elas. O cigarro pendia entre os dedos de Lalisa, enquanto Rosé olhava para o horizonte, como se buscasse respostas nas luzes da cidade que nunca dormia.
Lalisa acendeu outro cigarro, tragando profundamente antes de oferecer um a Rosé. — Quer um? Vai te ajudar a relaxar
Rosé balançou a cabeça, recusando com um gesto de mão. — Não, obrigada. Preciso manter a cabeça limpa pelo menos hoje. Mas acho que você não entende isso, né?
Lalisa deu de ombros, o sorriso presunçoso aparecendo no canto dos lábios. — Entendo que você anda tensa demais. A gente tá fazendo o que precisa pra sobreviver. Não tem certo ou errado aqui, Roseanne.
Rosé mordeu o lábio, sentindo o gosto amargo de palavras não ditas. Ela olhou para Lalisa, os olhos fixos nas mãos dela, que agora tremiam levemente enquanto segurava o cigarro. — E o que você vai fazer agora? Vai se afundar ainda mais? A gente não pode continuar assim, Lisa!
Lalisa deu uma risada curta, um som que parecia mais desesperado do que divertido. — A gente já tá afundada, Rosé. Não tem mais pra onde descer. O que importa agora é sobreviver, do jeito que der
—
Horas depois, Lalisa levou Rosé para um beco escuro, onde um grupo de homens as esperava com olhares que gritavam problemas. Rosé sentiu um arrepio percorrer sua espinha, a sensação de que algo terrível estava para acontecer. Lalisa estava agitada, falando rápido e com gestos exagerados, claramente sob efeito de alguma coisa.
Rosé segurou o braço de Lalisa, tentando puxá-la para longe. — Lisa, isso aqui não é uma boa ideia. A gente devia ir embora antes que piore.
Lalisa se desvencilhou com um movimento brusco, os olhos acesos pela adrenalina. — Nahh, relaxa, Rosie. Eu tenho tudo sob controle. É só um negócio rápido, e depois a gente tá livre. Confia em mim! Pelo menos uma vez.
Mas Rosé sabia que não era verdade. Sabia que o controle era uma ilusão que Lalisa se agarrava para não admitir o quão fora de curso suas vidas estavam. Antes que pudesse insistir, Lalisa se aproximou dos homens, e Rosé observou, o coração batendo descompassado. Era como assistir um filme onde o final já estava escrito, e não era bom.
Um dos homens, alto e com um sotaque pesado do Leste Europeu, puxou Lalisa para mais perto, sussurrando algo que Rosé não conseguiu ouvir. A expressão de Lalisa mudou instantaneamente, da confiança para o pânico, mas ela tentou disfarçar, rindo nervosa. — A gente vai resolver isso, cara. Só me dá mais um tempo
Mas o homem não estava disposto a negociar. Ele empurrou Lalisa contra a parede com brutalidade, e Rosé deu um passo à frente, sentindo o medo se transformar em raiva. — Solta ela seu caralhento, solta ela. A gente não quer problemas nessa porra.
O homem olhou para Rosé com desprezo, soltando Lalisa apenas para dar um aviso claro. — Você não manda em nada aqui. Ou você paga o que deve, ou tá fora. E sem desculpas.
Lalisa tentava se recompor, mas Rosé podia ver o desespero nos olhos dela. Elas saíram dali rapidamente, o silêncio pesado entre as duas. Rosé não conseguia mais esconder a frustração que vinha acumulando há semanas. — O que foi isso, Lisa Pavlikosvky? Você tá brincando com fogo e me arrastando junto. Até quando você vai continuar fazendo essas merdas?
Lalisa parou de andar, acendendo outro cigarro com as mãos trêmulas. Ela deu uma longa tragada antes de responder. — Eu tô tentando, Rosé. Tentando dar um jeito. Mas você não entende porque você não tá na minha pele. Eu faço o que preciso!
Rosé se aproximou, a voz embargada de raiva e decepção. — Eu tô do seu lado desde o começo. Eu tô afundando com você porque eu escolhi isso. Mas agora eu sinto que tô perdendo você e, pior, tô perdendo a mim mesma nessa bagunça toda
Lalisa encarou Rosé, e pela primeira vez em muito tempo, seus olhos estavam cheios de lágrimas que ela se recusava a deixar cair. — Eu nunca pedi pra você me seguir. Nunca pedi pra você se ferrar por mim. Você escolheu, Rosé. E agora a gente lida com isso juntas. Ou você vai fugir?
As palavras de Lalisa cortaram Rosé como uma faca, cada uma um lembrete doloroso de que as escolhas tinham consequências que iam além do que ela podia controlar. Rosé virou de costas, sentindo as lágrimas ardendo nos olhos enquanto andava para longe de Lalisa. Mas antes que pudesse se afastar, Lalisa segurou seu pulso com força, os olhos suplicando por algo que Rosé não conseguia decifrar. — Eu preciso de você. Mais do que eu gostaria de admitir. Eu sei que eu tô fodendo tudo, mas você é a única coisa que me mantém sã. Por favor, não me deixa agora.
Rosé se soltou, sentindo o peso do pedido de Lalisa pressionando contra seu peito. Ela sabia que estava num ponto de ruptura, que continuar significava perder mais do que poderia recuperar. Mas o amor e a lealdade que sentia por Lalisa eram como uma corrente pesada que a mantinha presa, mesmo quando tudo ao redor gritava para que ela corresse.
— Eu não sei mais o que fazer, Lisa. Eu sinto que tô perdendo o controle de tudo. Da minha vida, de você, de mim mesma — Rosé murmurou, a voz falhando enquanto lutava contra a vontade de se render novamente.
Lalisa se aproximou, deixando o cigarro cair no chão e esmagando-o com o pé. — A gente vai resolver isso. Eu prometo. Só não desiste agora. Não desiste de mim. Porque se você desistir, eu não sei se consigo continuar
Rosé encarou Lalisa, e naquele momento, elas estavam tão vulneráveis, tão quebradas, que a única coisa que restava era uma promessa silenciosa de que, de alguma forma, encontrariam uma saída. Mesmo que tudo estivesse desmoronando ao redor delas.
Lalisa pegou o pó que tinha no bolso, cheirou uma fileira sem nem piscar, e Rosé apenas assistiu, sem saber se gritava, chorava ou simplesmente aceitava que aquela era a realidade delas agora. Lalisa ofereceu a Rosé, que recusou com um aceno cansado. — Eu não posso continuar vendo você se destruindo assim. Isso tá acabando com a gente, Lisa
Mas Lalisa apenas deu um sorriso trêmulo, o olhar perdido, mas ainda cheio de uma teimosia que Rosé conhecia bem demais. — Eu sou assim, Rosé. Não dá pra mudar agora. A gente se adapta ou se perde. É o que tem pra hoje
—
O silêncio entre elas durou o resto da noite, um silêncio cheio de coisas que precisavam ser ditas, mas que nenhuma das duas tinha forças para falar. Rosé acendeu mais um cigarro, olhando para as estrelas escondidas pelo brilho excessivo de Vegas. A cidade que nunca dormia refletia o caos de suas vidas — brilhante, mas vazia, cheia de promessas falsas e caminhos que levavam sempre ao mesmo lugar.
E enquanto fumava, Rosé sabia que estava à beira de uma escolha que mudaria tudo. Ficar significava continuar se perdendo, mas ir embora parecia impossível quando seu coração ainda estava tão ligado a Lalisa. Elas eram um desastre em movimento, uma dupla inseparável, mesmo que cada passo as levasse mais perto do abismo.
Mas talvez, apenas talvez, fosse isso que elas realmente eram — duas almas perdidas tentando encontrar alguma forma de sobreviver, mesmo que o preço fosse alto demais.
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ᘡ ۫ 𖨂 𓈒 Querido Texas ۟ ៹ 𓂂
FanfictionEm meio ao caos e aos traumas de uma adolescência marcada pela perda e pelo vício, Rosé e Lalisa se encontram e se tornam inseparáveis, duas almas perdidas buscando redenção uma na outra. Desde a adolescência conturbada no Texas até os dias frios em...