୨୧ O que você quer, Lisa? :: 15

3 1 0
                                    

Rosé estava sentada no balcão do bar em que trabalhava, observando o movimento com um olhar distante. As noites em Las Vegas eram sempre uma mistura de luzes brilhantes e escuridão opressiva, e ela se sentia presa entre esses dois mundos, sem saber a que lugar realmente pertencia. As garrafas se alinhavam à sua frente, e o barulho de risadas e conversas preenchia o ar, mas sua mente estava longe dali, sempre voltando para o quadro, para Lalisa, e para tudo o que havia perdido.

Seu colega de trabalho, Michael, um cara alto com um sorriso fácil e olhos castanhos gentis, estava encostado no balcão ao seu lado, observando-a com curiosidade. Eles tinham se aproximado nas últimas semanas, um flerte despretensioso que rapidamente se transformou em algo mais. Era fácil estar com ele; Michael não fazia perguntas difíceis, e estar ao lado dele trazia uma sensação de normalidade que Rosé quase havia esquecido que existia.

O que você tá pensando? — ele perguntou, servindo uma bebida a um cliente antes de se voltar para ela. Rosé deu de ombros, tentando afastar a sombra de seus pensamentos.

— Nada importante. Só... coisas da vida

Michael sorriu, encostando-se mais perto, e Rosé sentiu a familiaridade do gesto, o calor que ele trazia. — Se você quiser desabafar, eu sou um bom ouvinte. Sei que às vezes é mais fácil falar com alguém que não vai julgar

Rosé olhou para ele, o sorriso leve em seus lábios, mas seus olhos traíam um cansaço que Michael não parecia perceber. — Você é um cara legal, sabia? Mas tem coisas que... nem sempre dá pra falar. Tem coisas que a gente carrega sozinha

Michael assentiu, entendendo a distância que ainda existia entre eles, mas sem pressioná-la. Ele se inclinou para mais perto, suas mãos roçando levemente as de Rosé sobre o balcão, um toque breve que carregava a promessa de algo mais. — Eu gosto de você, Rosé. E se você precisar de alguém, tô aqui. A gente podia sair qualquer dia desses. Pra esquecer um pouco de tudo isso

Rosé sorriu de volta, mas seu coração não estava ali. Michael era gentil, era seguro, e havia algo reconfortante em seus gestos simples, mas ele não era o que ela precisava. — Vou pensar, Michael. Obrigada

Enquanto ele se afastava para atender outro cliente, Rosé sentiu o peso da culpa afundar sobre seus ombros. Ela sabia que, por mais que tentasse, não conseguia se livrar do passado, dos sentimentos confusos que tinha por Lalisa. Michael era um refúgio temporário, mas seu coração, por mais que ela quisesse negar, ainda pertencia a um caos que só Lalisa parecia entender.

Depois do turno, Rosé caminhou pelas ruas de Vegas, a cabeça cheia de pensamentos dispersos. Ela passava pelos cassinos iluminados, pelo som de moedas caindo nas máquinas, e pelos turistas que vagavam como fantasmas em busca de uma sorte que nunca parecia chegar. Era uma cidade feita de sonhos quebrados, e Rosé sentia que se encaixava perfeitamente ali.

De repente, Lalisa apareceu ao seu lado, saindo das sombras como se tivesse surgido do nada. Ela estava com o cabelo bagunçado, um cigarro aceso entre os dedos e um sorriso travesso nos lábios. — Tava te procurando. Sabe como é... Vegas não é segura pra uma garota sozinha a essa hora

Rosé riu, mesmo que sem humor, e deu um empurrãozinho leve em Lalisa. — Eu tô bem. Tô com um amigo do trabalho. Tá tudo bem

Lalisa ergueu uma sobrancelha, intrigada. — Amigo, né? Já vi esse filme antes. Tá se envolvendo com outro babaca?

Rosé suspirou, passando as mãos pelos cabelos. — Não é nada disso. É só que... é fácil, sabe? Com ele não tem complicação. Não tem passado, não tem...

Lalisa interrompeu, dando uma tragada profunda no cigarro antes de soltar a fumaça em uma nuvem densa. — Não tem eu, você quer dizer. Sem drama, sem perigo. Sem as coisas que fazem a vida valer a pena

Rosé olhou para ela, os olhos cheios de uma mistura de tristeza e raiva. — Você faz parecer tão fácil, Lisa. Mas nem tudo é preto no branco. Eu tô tentando seguir em frente, esquecer... você sabe

Lalisa riu, mas havia um toque de amargura em sua voz. — Rosé, a gente não nasceu pra vida simples. Se fosse assim, você já tinha ido embora dessa cidade faz tempo. A gente é caos. E eu sei que, no fundo, é isso que te faz voltar pra mim toda vez.

Rosé queria argumentar, dizer que Lalisa estava errada, que ela queria sim uma vida simples e segura, mas as palavras morriam em sua garganta. Porque ela sabia que, por mais que tentasse, não conseguia se desligar do que sentia por Lalisa. Era como um ímã que a puxava de volta para a mesma trajetória de sempre, para os mesmos erros e as mesmas promessas quebradas.

O que você quer, Lisa? Por que você sempre aparece quando eu tô tentando... sei lá, seguir em frente? — Rosé perguntou, a voz baixa e tensa, como se estivesse finalmente enfrentando a pergunta que evitava há tanto tempo.

Lalisa olhou para Rosé, os olhos azuis faiscando sob as luzes de neon da cidade. — Eu quero que você seja honesta, Rosé. Com você mesma. Você ainda quer esse quadro, você ainda quer viver uma vida que não faz sentido pra ninguém além da gente. E eu tô aqui, sempre estive. Só falta você admitir isso

Rosé respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Lalisa. Ela sabia que era verdade, mas admitir era como entregar-se a um abismo sem fim. — E se eu não conseguir sair dessa, Lisa? E se eu só continuar me afundando com você?

Lalisa deu de ombros, jogando o cigarro no chão e apagando-o com a ponta do pé. — Então a gente afunda juntas. E quem sabe, a gente até gosta do fundo do poço. É mais profundo, é mais escuro, e ninguém nos acha lá embaixo

Rosé queria rir, mas não conseguiu. Ela sabia que estava presa em um ciclo vicioso, e que a presença de Lalisa só tornava tudo mais difícil. Mas também sabia que não conseguia imaginar a vida sem ela, sem o caos, sem a adrenalina e o perigo constante. E talvez, pensou ela, fosse isso que a fazia continuar voltando.

Elas caminharam em silêncio, uma ao lado da outra, como duas almas perdidas que, de alguma forma, encontraram um lar no meio da confusão. Rosé sabia que sua vida era uma bagunça, e que os sentimentos por Lalisa eram um nó impossível de desatar. Mas enquanto estivesse ao lado dela, a escuridão de Vegas parecia menos sufocante, e o passado menos doloroso.

ᘡ    ۫    𖨂    𓈒   Querido Texas  ۟    ៹    𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora