୨୧ Maldito Pintassilgo :: 14

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Rosé sentia o chão desmoronar sob seus pés. O quadro que guardava desde a adolescência, escondido como um segredo sombrio, estava em perigo. Tudo começou com um telefonema anônimo, um sussurro do outro lado da linha dizendo que sabiam sobre o que ela escondia, que sabiam o valor do que ela mantinha trancado a sete chaves.

Isso é impossível — Rosé falou para Lalisa, andando de um lado para o outro na sala de seu pequeno apartamento. O telefone ainda tremia em suas mãos, e o olhar de desespero tomava conta de seu rosto — Ninguém sabia onde ele estava, Lisa. Ninguém .

Lalisa observava em silêncio, seu rosto uma máscara de preocupação mal disfarçada. Ela não entendia completamente o apego de Rosé àquela pintura, mas sabia que o quadro representava mais do que um pedaço de arte. Era a última conexão de Rosé com um passado que ela não conseguia deixar para trás, um símbolo de tudo o que ela havia perdido.

Rosé, calma. — Lalisa se aproximou, pegando o telefone da mão de Rosé e o jogando no sofá. — A gente resolve isso. Me fala exatamente o que aconteceu .

Rosé respirou fundo, tentando organizar os pensamentos — Eles sabiam sobre o quadro. Disseram que se eu não entregasse logo, iam me achar, que sabem onde eu moro... Eu não sei o que fazer, Lisa!

Lalisa franziu o cenho, analisando a situação. — Eles só querem te assustar. Esse quadro... é valioso demais pra eles só aparecerem aqui e levar, se fosse fácil já tinham feito isso. Eles não podem arriscar e a gente também não. Temos que ser mais espertas

Rosé balançou a cabeça, tentando afastar o pânico — A gente tem que tirar ele daqui. Agora. Levar pra algum lugar seguro antes que alguém venha atrás

Lalisa pensou por um momento, a mente já traçando um plano — Tem um depósito que eu usava pra guardar uns... trabalhos. É seguro. A gente leva pra lá, pelo menos até descobrir quem tá por trás disso..

Rosé assentiu, ainda tensa, mas aliviada por Lalisa estar ao seu lado. Pegaram o quadro, enrolado em panos e escondido no fundo do armário. Rosé segurava com cuidado, como se o peso da obra pudesse desmoronar a qualquer momento. O quadro era tudo que restava de um tempo que ela se recusava a esquecer, e a ideia de perdê-lo para alguém que não entendia seu valor a aterrorizava.

Elas dirigiram em silêncio, o motor do carro de Lalisa ronronando baixinho pelas ruas escuras de Vegas. Rosé olhava pela janela, os pensamentos embaralhados. Ela lembrava dos dias em que roubou o quadro, da sensação de adrenalina e culpa misturadas. O quadro era um segredo que ela e Lalisa compartilhavam, um elo que as conectava de maneira quase inquebrável.

O depósito ficava em uma parte esquecida da cidade, cercado por armazéns abandonados e terrenos baldios. Lalisa parou o carro em frente a um portão enferrujado, saindo rapidamente para destrancá-lo. Rosé desceu logo em seguida, segurando o quadro com firmeza.

Vai ficar tudo bem. Vamos guardar isso aqui e pensar em um jeito de sair dessa — Lalisa disse, olhando para Rosé com um misto de determinação e preocupação. Ela sabia que o quadro significava mais do que Rosé deixava transparecer.

Elas entraram no depósito, um espaço escuro e úmido, cheio de caixas empilhadas e objetos encobertos por lonas. Lalisa apontou para um canto mais escondido, onde uma estante velha oferecia alguma proteção — Aqui. Ninguém vai achar

Rosé colocou o quadro no chão com cuidado, suas mãos tremendo levemente. Ela se afastou, encarando a pintura como se estivesse se despedindo de uma parte de si mesma — Não posso acreditar que isso tá acontecendo. Esse quadro... é tudo o que eu tenho

Lalisa se aproximou, colocando uma mão em cima da de Rosé  — Eu sei. Mas a gente vai dar um jeito. Esse quadro é seu, e ninguém vai tirar isso de você. Eu prometo

Elas ficaram em silêncio por alguns instantes, ambas perdidas em pensamentos. Rosé sabia que o perigo que enfrentavam era real, mas a presença de Lalisa trazia uma centelha de esperança. Estavam juntas naquela luta, como sempre estiveram, e nada parecia impossível quando Lalisa estava ao seu lado.

Depois de trancarem o depósito, Lalisa e Rosé voltaram para o carro. A noite estava silenciosa, mas Rosé sentia que algo estava prestes a desmoronar. — E se eles vierem atrás da gente de novo? E se descobrirem o depósito?

Lalisa deu de ombros, ligando o carro e acelerando pela estrada deserta. — A gente faz o que sempre fez. Corre, se esconde, luta. Não vamos deixar que tirem isso de você, Rosé

Rosé olhou para Lalisa, sentindo uma mistura de gratidão e medo. A amizade delas sempre fora um porto seguro em meio ao caos, mas agora, parecia que estavam navegando em águas mais perigosas do que nunca.

Lalisa dirigiu em silêncio por um tempo, mas depois se virou para Rosé com um sorriso desafiador. — E se, em vez de esconder, a gente der um jeito de pegar o que é deles?

Rosé franziu o cenho, surpresa com a sugestão. — O que você tá dizendo?

Lalisa deu um sorriso malicioso, os olhos brilhando com uma ideia que estava começando a tomar forma — Eu conheço gente. Gente que pode nos ajudar a virar o jogo. Se eles acham que podem intimidar você, então a gente mostra que estão errados. Vamos atrás deles!

Rosé hesitou, mas sentiu o coração acelerar com a proposta. Era perigoso, era insano, mas era exatamente o tipo de coisa que Lalisa faria — e que, de alguma forma, fazia sentido para as duas. — Você tem certeza? Isso pode acabar muito mal, Lisa.

Lalisa deu uma risada curta, os olhos fixos na estrada à frente. — Acabar mal? A gente já tá no fundo do poço. Agora, é só subir ou se afogar de vez. E eu não sou de afundar, Rosé.

Rosé sorriu, sentindo a velha adrenalina correr por suas veias. Ao lado de Lalisa, o impossível parecia possível, e o medo se transformava em combustível para seguir em frente. — Então vamos acabar com eles

O carro acelerou, cortando o silêncio da noite como um grito de desafio. Elas estavam entrando em um jogo perigoso, mas, pela primeira vez em muito tempo, Rosé sentia que tinha algo pelo que lutar. O quadro era mais do que um pedaço de arte — era um símbolo da vida que ela ainda queria ter. E com Lalisa ao seu lado, ela estava pronta para enfrentar qualquer coisa que viesse.

ᘡ    ۫    𖨂    𓈒   Querido Texas  ۟    ៹    𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora