୨୧ De Volta Ao Caos :: 13

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As noites em Las Vegas tornaram-se mais longas e perigosas para Rosé. A promessa de uma vida melhor feita por Lalisa parecia uma miragem no meio do deserto — sedutora e inalcançável. Rosé sabia que a amizade com Lalisa era uma estrada cheia de curvas inesperadas, mas cada decisão errada que tomavam juntas parecia fazer parte de um pacto silencioso, como se estivessem destinadas a cair juntas ou não cair de jeito nenhum.

Lalisa não demorou a apresentar a Rosé uma nova forma de viver — algo entre a adrenalina de sempre estar em risco e a falsa sensação de controle sobre o caos ao seu redor. No começo, eram apenas encontros suspeitos com pessoas que Lalisa conhecia, rostos sorridentes e falas suaves, mas que carregavam a tensão de algo sombrio por trás. Depois, vieram as promessas de dinheiro fácil, de aventuras que tirariam Rosé do buraco em que estava.

A gente consegue, sabe? — Lalisa disse certa noite, enquanto jogava um maço de notas sobre a mesa do apartamento de Rosé, que ficava no terceiro andar de um prédio velho e mal cuidado. — Não é tão difícil quanto parece

Rosé encarava o dinheiro, os olhos pesados de dúvida e cansaço. Ela sabia o que aquilo significava. Aquele dinheiro não vinha de empregos comuns, de trabalho honesto. Era sujo, assim como o caminho que Lalisa estava traçando para as duas.

Isso é de onde, exatamente? — Rosé perguntou, sem conseguir esconder o tom cético. Ela olhou para Lalisa, que estava casualmente jogada no sofá, as pernas esticadas sobre a mesa, como se nada pudesse atingi-la.

Apenas... Conexões. Gente que paga bem por favores — Lalisa deu de ombros, acendendo um cigarro. Ela parecia não se importar com os riscos, o olhar distante como se já estivesse acostumada com aquele tipo de vida.

Você tá falando de quê? — Rosé insistiu, cruzando os braços e se aproximando lentamente, tentando decifrar o que realmente estava em jogo.

Trabalho fácil. A gente leva uma coisa daqui pra ali, troca por outra coisa, pega o dinheiro e fim. Nada demais — Lalisa soprou a fumaça, fazendo círculos no ar enquanto falava com uma tranquilidade desconcertante.

Rosé respirou fundo. Aquilo era mais do que ela havia imaginado quando aceitou se reconectar com Lalisa. Mas havia algo de hipnótico na promessa de uma saída, de uma vida menos sufocante do que a que tinha.

Você sabe que isso é loucura, né? — Rosé murmurou, embora parte dela estivesse cedendo à ideia. Tudo parecia tentador demais para recusar.

É, mas o que a gente vai fazer? Continuar limpando chão de cassino? Fazendo bico em loja que nem paga direito? — Lalisa respondeu, um brilho desafiador nos olhos. Ela se levantou, pegando uma garrafa de vodka da geladeira e servindo dois copos. — Às vezes, a gente tem que sujar as mãos pra conseguir sair da merda

Rosé pegou o copo sem hesitar, como se aquele gesto selasse um pacto. Elas brindaram silenciosamente, as palavras de Lalisa ecoando na mente de Rosé como uma verdade dura e incontestável. O primeiro gole queimou, mas a sensação de fazer parte de algo maior — mesmo que perigoso — trazia um alívio estranho.

Na semana seguinte, Lalisa apareceu com uma missão. Um encontro em um bar no centro, uma troca de pacotes que elas não deveriam abrir ou questionar. Era simples, rápido, e as duas precisavam apenas parecer discretas. Mas a adrenalina corria em suas veias como se estivessem participando de um grande assalto.

Tenta não olhar tão assustada, tá? — Lalisa sussurrou para Rosé enquanto caminhavam até a entrada do bar. Lalisa estava diferente; seus olhos focados e a postura firme, quase como uma profissional do crime. — Só sorri, age normal, e deixa que eu falo por nós

Elas entraram no bar, um lugar abafado com luzes vermelhas e cheiro de cigarro impregnando o ar. Sentaram-se em um canto, aguardando o contato. Rosé observava as pessoas ao redor, os olhos varrendo cada detalhe do ambiente, o coração batendo rápido. Ela não conseguia esconder o nervosismo, mas Lalisa, ao seu lado, parecia no controle de tudo.

E aí — Lalisa cumprimentou o homem que se aproximou, um tipo robusto com tatuagens nos braços e uma expressão dura. Ele jogou uma bolsa preta sobre a mesa, sem dizer uma palavra.

Tá aqui. Igual você pediu — Lalisa falou, deslizando um envelope para ele. O homem pegou a bolsa e o envelope, analisou o conteúdo por alguns segundos e assentiu. Foi rápido, simples, sem grandes complicações. Mas para Rosé, a sensação de estar fazendo algo tão errado a deixava dividida entre o medo e a euforia.

Depois de saírem, Rosé ainda sentia a tensão nos ombros, mesmo com Lalisa soltando risadas despreocupadas ao seu lado. Era um jogo perigoso, e Rosé sabia que cada vez mais estavam se aprofundando em um caminho sem volta.

Você faz parecer fácil, mas a gente podia ter se ferrado muito lá dentro — Rosé comentou, jogando a mochila sobre o banco do carro enquanto Lalisa dirigia.

A vida é assim. A gente só se ferra se parar de tentar. E olha, se for pra cair, melhor cair tentando algo que presta do que morrer de tédio nessa cidade — Lalisa respondeu, apertando o volante com força enquanto acelerava pelas ruas escuras de Vegas. Rosé olhou para ela, sentindo uma mistura de admiração e receio. Lalisa sempre parecia saber o que fazer, mas Rosé questionava onde aquilo tudo as levaria.

As semanas seguintes foram um turbilhão. Elas se envolveram em esquemas maiores, com riscos maiores. O dinheiro chegava, mas o perigo também. Rosé sentia a linha tênue entre estar no controle e perder tudo, mas a presença de Lalisa tornava aquilo mais suportável. Era como se as duas estivessem presas em uma dança caótica, onde cada passo errado poderia ser o último.

Lalisa, não acha que a gente tá indo longe demais? — Rosé perguntou certa noite, enquanto contava o dinheiro que haviam recebido. O som das notas sendo empilhadas era quase hipnotizante.

Qual é, Rosé... Tudo tem um risco. Mas olha onde a gente tá agora. Não preciso mais aguentar meu pai bêbado, você não tá mais naquela espelunca de bar. Não vale a pena? — Lalisa se aproximou, segurando o rosto de Rosé entre as mãos, tentando fazer com que ela visse a vida que estavam construindo.

Rosé suspirou, sentindo o peso de tudo sobre seus ombros. Parte dela queria acreditar nas palavras de Lalisa, queria se convencer de que estavam no caminho certo, mas a outra parte não podia ignorar os sinais de alerta.

Eu só... Eu não quero acabar mal, Lisa. Não quero que a gente acabe como... como eles, sabe? — Rosé disse, a voz trêmula. Havia algo de desesperador naquela confissão. Lalisa a abraçou, puxando-a para perto, como se pudesse protegê-la de todos os monstros que rondavam.

Eu tô aqui. A gente vai ficar bem — Lalisa sussurrou, e pela primeira vez Rosé quis acreditar de verdade. Elas eram uma equipe, uma dupla que se entendia sem precisar de palavras. E mesmo no meio do caos, havia um estranho conforto em saber que estavam juntas.

No fundo, ambas sabiam que estavam brincando com fogo. Mas enquanto houvesse a promessa de liberdade, elas continuariam dançando na beira do abismo, desafiando o destino e se agarrando à única coisa que ainda fazia sentido: a amizade que, apesar de tudo, as mantinha vivas.

ᘡ    ۫    𖨂    𓈒   Querido Texas  ۟    ៹    𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora