୨୧ De Volta Para Casa :: 18

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Rosé se sentia mal enquanto caminhava pelas ruas de Las Vegas. O brilho das luzes e o barulho constante dos cassinos não tinham o mesmo encanto de antes, agora, tudo parecia uma confusão caótica que refletia o turbilhão dentro de sua mente. Sentada em um banco de praça, ela acendeu um cigarro, observando a fumaça subir lentamente enquanto tentava organizar seus pensamentos.

Os últimos dias tinham sido um borrão de decisões impulsivas e arrependimentos silenciosos. Estar ao lado de Lalisa parecia mais insustentável do que nunca, e a linha entre lealdade e autodestruição começava a desaparecer. Rosé sabia que precisava se afastar, mas o medo de ficar sozinha e sem rumo tornava a escolha ainda mais dolorosa.

Ela pegou o celular do bolso e, sem pensar muito, digitou o nome de Jennie Kim na barra de pesquisa. Era um impulso estranho, quase mórbido, mas algo dentro dela precisava entender o que exatamente tinha acontecido com a ex-namorada de Lalisa. As notícias antigas surgiram rapidamente, uma mistura de reportagens e rumores que pintavam um retrato sombrio da jovem que Rosé nunca conheceu pessoalmente, mas que parecia assombrar suas memórias.

Jennie Kim, encontrada morta em um quarto de hotel em Busan na Coreia do Sul. Overdose, disseram os relatórios preliminares.

"Vou fazer a live do meu suicídio, e do meu túmulo
Antes que essa vontade de morrer suma"

"Mesmo sendo chamada de incoveniente
Ela sempre esteve lá
Ela sempre esteve sozinha
A garota foi em frente e morreu
Mesmo se você perguntar para o FBI
Você nunca entenderá a mensagem dela
Ela esteve sempre gritando"

Um caso arquivado, sem muitas respostas, apenas especulações. Rosé sentiu um nó na garganta ao ler as palavras, como se algo dentro dela estivesse se partindo lentamente. Será que Lalisa sabia de tudo isso? E se soubesse, quanto tempo ela conseguia carregar esse peso sem quebrar?

Rosé fechou o celular com força, jogando-o no banco ao seu lado. Ela esfregou o rosto com as mãos, tentando apagar a imagem de Jennie e a sensação de que estava se afogando nas escolhas de outra pessoa. — Eu preciso sair daqui. Preciso... pensar — ela murmurou para si mesma, acendendo outro cigarro enquanto o vento frio da madrugada soprava seu cabelo para trás.

Texas. As planícies áridas, as estradas intermináveis, o cheiro de terra e liberdade que sempre a fizeram sentir em casa. Rosé tinha pegado um ônibus sem nem pensar direito, embarcando numa jornada de volta às suas raízes, como se o Texas pudesse oferecer algum tipo de resposta que ela não conseguia encontrar em Las Vegas.

Na casa da tia, ela se acomodou em um pequeno quarto que cheirava a naftalina e lembranças antigas. As paredes eram decoradas com fotos de família, lembranças de um tempo que parecia tão distante agora. Ela passou os primeiros dias apenas vagando pela cidade, visitando lugares que costumava frequentar quando adolescente, antes de sua vida se enredar no caos que era Lalisa Pavlikosvky.

— Você parece tão diferente, Roseanne — disse sua tia, enquanto servia uma xícara de café quente. — Tem algo nos seus olhos. Como se você tivesse visto mais do que qualquer jovem da sua idade deveria ver..

Rosé deu um sorriso triste, segurando a xícara com as mãos trêmulas. — É só a vida, tia. Às vezes, ela bate mais forte do que a gente espera

A conversa seguiu leve, mas Rosé não conseguia se desprender dos pensamentos que a acompanhavam. Ela se perguntava como tinha chegado até ali, como tudo que um dia pareceu promissor agora era uma sombra distorcida do que poderia ter sido. As noites eram longas, e o sono raramente vinha. Era como se sua mente estivesse presa num ciclo sem fim de memórias, medos e incertezas.

Lalisa tinha um jeito de invadir seus pensamentos, mesmo quando estava longe. Rosé lembrava de todos os momentos que compartilharam, das risadas, dos planos insanos, das noites em que tudo parecia possível. E, claro, das brigas, dos desentendimentos e da sensação sufocante de estar presa em uma espiral que só descia.

— Por que eu ainda me importo tanto? — Rosé se perguntou em voz alta, jogada na cama do quarto, os olhos fixos no teto. — Ela só... destrói tudo que toca. E eu continuo voltando, sempre voltando. Por quê?

Ela sabia a resposta, mas não queria admiti-la. O amor, a lealdade, a atração incontrolável por Lalisa, como um vício do qual ela não conseguia se livrar. Rosé pegou o celular novamente, navegando pela internet sem rumo até encontrar uma página sobre a Ucrânia. Não sabia por que tinha clicado ali, mas a curiosidade a puxou. Imagens de Kiev, de Odessa, de lugares que ela nunca tinha pensado em visitar, mas que agora pareciam uma possível fuga.

Ucrânia. Porque tudo levava de volta a Lalisa? A mente de Rosé vagou para um cenário que ela mesma não conseguia explicar: fugir, deixar tudo para trás, começar do zero em um lugar onde ninguém a conhecia. — Talvez eu devesse só desaparecer. Ucrânia... ou qualquer outro lugar. Só sair dessa bagunça e tentar ser alguém que eu não odeie tanto

Ela fechou os olhos, lembrando do sotaque russo carregado de Lalisa quando ela estava bêbada ou drogada, falando sobre lugares que Rosé nunca entendia. — Daonde vem isso, Lalisa? Porra... Você nem sabe o que faz comigo. Não sabe mesmo

O Texas não oferecia muitas respostas, apenas a certeza de que Rosé não podia continuar vivendo daquela forma. Ela precisava fazer uma escolha, e a decisão estava cada vez mais clara. Fugir parecia a solução mais fácil, mas também a mais covarde. E ela não sabia se estava pronta para desistir, não de Lalisa, mas de si mesma.

No dia antes de partir, Rosé olhou para o espelho, encarando seus próprios olhos pela primeira vez em muito tempo. Viu uma garota quebrada, mas que ainda tinha uma faísca de algo — esperança, talvez. Uma vontade de encontrar alguma paz, mesmo que o caminho fosse cheio de pedras. Ela arrumou suas coisas rapidamente, sem pensar muito. Só precisava sair de lá, tentar reconstruir alguma coisa antes que fosse tarde demais.

Quando Rosé voltou a Las Vegas, tudo parecia exatamente igual, mas algo dentro dela tinha mudado. As luzes, os bares, o cheiro familiar de álcool e cigarro — nada mais a atraía da mesma forma. Ela sabia que precisava de mais do que um plano impulsivo ou de uma fuga para algum país distante. Precisava encontrar o controle que tinha perdido, precisava deixar Lalisa e o passado para trás, de alguma forma.

Mas o pequeno amor por Lalisa continuava lá, ardendo em algum lugar profundo, um lembrete constante de todas as escolhas erradas que fez. Rosé acendeu mais um cigarro enquanto caminhava pela avenida principal, sentindo a fumaça encher seus pulmões enquanto tentava afastar a dor.

E assim, Rosé se encontrava mais uma vez em um ponto de ruptura. Entre o desejo de seguir em frente e a inevitável atração por tudo que a mantinha presa. Era um jogo de perder ou perder, mas ela estava disposta a tentar ganhar alguma coisa de si mesma, mesmo que fosse apenas a coragem de seguir outro caminho.

Rosé sabia que, de uma forma ou de outra, seu futuro estava na balança. E, desta vez, ela faria a escolha por ela mesma, e não por mais ninguém.

ᘡ    ۫    𖨂    𓈒   Querido Texas  ۟    ៹    𓂂Onde histórias criam vida. Descubra agora