A Chama da Decisão

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O vento rugia em torno de Pedra do Dragão, trazendo consigo o eco das ondas quebrando nas rochas lá embaixo. Lucerys, ainda sentindo o peso das palavras de Baela, decidiu buscar refúgio na caverna onde seu próprio dragão, Arrax, descansava. A presença da criatura sempre trouxe a ele um estranho senso de paz, como se as chamas dentro do dragão pudessem acalmar o fogo que ardia dentro de si.

Ao entrar na caverna, o calor o envolveu imediatamente. Arrax, com sua coloração dourada e creme, ergueu a cabeça preguiçosamente, observando seu cavaleiro com olhos curiosos. Lucerys caminhou até ele, deslizando uma mão carinhosa sobre as escamas quentes. O dragão emitiu um som grave, uma mistura de ronronar e rosnado, enquanto se aninhava ao toque.

— Você sempre sabe como me acalmar, não é, garoto? — Lucerys murmurou, sentindo a tensão em seus ombros aliviar um pouco.

Ele se sentou ao lado do dragão, encostando-se em uma parede de pedra, observando as pequenas labaredas de fogo que escapavam ocasionalmente das narinas de Arrax. Mas, mesmo ali, cercado pelo conforto familiar de seu dragão, a inquietação dentro dele não cessava. A conversa com Aemond e o peso da noite fatídica continuavam a girar em sua mente, como uma tempestade que se recusava a passar.

A lembrança da noite fatídica era um fantasma que o perseguia. A chuva torrencial daquele dia parecia ser uma metáfora para o turbilhão de emoções que se abateu sobre ele. A noite havia começado como qualquer outra, mas a perseguição de Aemond, o confronto sobre o Mar Estreito, e o ataque de Vhagar a Arrax haviam transformado tudo. O rugido de Vhagar e o grito desesperado de Arrax se misturaram com o som da tempestade, criando uma sinfonia de caos e dor que nunca o deixaria.

A mente de Lucerys se voltava frequentemente para aquela noite terrível. As imagens de Arrax sendo derrubado pela força da tempestade, a asa de seu fiel dragão se partindo em meio ao caos, eram memórias que nunca o deixavam. Ele se lembrava da sensação de desespero e impotência enquanto a tempestade os envolvia, o vento cortante e a chuva cegante tornando impossível qualquer tentativa de controle. E, mais do que tudo, ele se lembrava do olhar frio e implacável de Aemond, montado em Vhagar, observando enquanto Arrax lutava para se manter no ar.

O medo, a raiva e a tristeza de quase perder seu dragão, quase perdendo também a própria vida, eram cicatrizes profundas que moldavam suas interações com Aemond. Cada encontro era uma batalha interna, um conflito entre o desejo ardente de vingança e uma conexão inexplicável que ele não conseguia negar. A lembrança daquela noite, o momento em que Arrax perdeu um pedaço de sua asa, caindo em uma espiral descontrolada, assombra seus sonhos e permeia seus pensamentos, tornando cada passo em direção ao futuro uma luta contra os demônios do passado.

De repente, o som de passos ecoou na caverna, interrompendo seus pensamentos.

Lucerys se virou, seu coração saltando ao ver quem se aproximava.

Era Aemond.

Ele estava ali, sua figura alta e imponente contrastando com a escuridão da caverna. O olho violeta de Aemond brilhava com uma intensidade quase predatória, enquanto ele avançava, parando a alguns metros de Lucerys.

— Você não deveria estar aqui — disse Lucerys, tentando manter a voz firme, mas sem sucesso. O medo e a confusão se misturavam em seu peito.

Aemond ignorou o aviso, aproximando-se lentamente. Havia algo diferente nele, uma suavidade inesperada em seus movimentos.

Quando ele parou a poucos passos de Lucerys, seu olho fixou-se no jovem Velaryon com uma intensidade que fez o coração de Lucerys acelerar.

- Eu não consegui ficar longe - disse Aemond, sua voz baixa e rouca. - Precisamos terminar o que começamos.

Lucerys se levantou rapidamente, seu corpo tenso. Ele queria dizer algo, afastar Aemond de vez, mas as palavras não saíam. Em vez disso, ele apenas ficou ali, preso entre o medo e uma atração inexplicável.

- Aemond, você... você precisa parar - finalmente conseguiu dizer, sua voz quase um sussurro. — Isso não vai terminar bem para nenhum de nós.

Aemond deu mais um passo à frente, agora tão perto que Lucerys podia sentir o calor de sua respiração.

— Talvez eu não me importe — respondeu

Aemond, seu olho queimando com uma intensidade que Lucerys nunca tinha visto antes. — Talvez eu queira que tudo isso queime.

Antes que Lucerys pudesse reagir, Aemond agarrou sua nuca, puxando-o para um beijo feroz. Era um beijo cheio de raiva, desejo, e algo mais sombrio que ambos temiam admitir. Lucerys tentou resistir por um instante, mas logo cedeu, permitindo que o fogo entre eles consumisse tudo.

O mundo ao redor desapareceu, e por um breve momento, nada mais existia além do calor e da fúria entre eles. Arrax, sentindo a turbulência emocional de seu cavaleiro, levantou a cabeça e soltou um rugido baixo, mas permaneceu em seu lugar, observando com olhos atentos.

Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes, seus corpos pressionados um contra o outro. Lucerys estava atordoado, incapaz de entender o que acabara de acontecer. Mas antes que ele pudesse processar, Aemond falou novamente, sua voz cheia de determinação.

- Eu não vou desistir de você, Lucerys. Não importa o que aconteça.

Lucerys olhou para ele, seus olhos cheios de confusão e medo.

- Mas... e se isso nos destruir? — perguntou, sua voz tremendo.

Aemond ergueu a mão, acariciando o rosto de Lucerys com uma suavidade que contrastava com a ferocidade de seus sentimentos.

- Então queimaremos juntos - respondeu

Aemond, suas palavras são um juramento sombrio.

Enquanto o eco da promessa de Aemond pairava na caverna, Lucerys sabia que a decisão estava se aproximando. Eles estavam no precipício de algo perigoso, algo que poderia destruir não apenas a eles, mas a todos ao seu redor. E, apesar de tudo, ele sentia que não poderia evitar o destino que os aguardava.

O fogo entre eles estava aceso, e agora, era apenas uma questão de tempo até que tudo fosse consumido.

Flames of the Glory- LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora