Mesmo que a voz e atmosfera nesse momento seja como ondas e se quebre, estou esperando pelo dia que vão se tranquilizar. Rezo de novo até que chegue ao céu. Me desespero com o passar do tempo. As memórias que eu tinha esquecido voltam pra mim... — The Day
Lyan Ashford
Já era tarde quando meu celular começou a vibrar.
Eu encontrava-me sentada no peitoril da janela da sala com um livro de química na mão, enquanto observava a festa que acontecia na casa da frente.
Quando comecei a faculdade, meses atrás, minha mãe disse várias e várias vezes que festas não eram muito importantes, e que o estudo em si, sim, era essencial.
E eu sempre concordei. Sempre achei festas uma perda de tempo.
Mas talvez eu só achasse isso porque nunca tinha ido, de fato, a uma.
Senti o telefone do meu celular vibrar diversas vezes na cabeceira do sofá e corri para pegá-lo quando estava prestes a cair no chão.
Ouvi o barulho do livro chocando-se contra a madeira velha quando pulei do peitoril, mas sequer liguei. Mil vezes algumas folhas amassadas que um celular a menos.
— Alô? — atendi a ligação, sem ao menos ver quem era.
— Ah, oi filha, tudo bem? — a voz da minha mãe soou familiar e reconfortante.
— Sim, está tudo tranquilo, mãe.
— Como está em casa? Trancou as portas? Já são quase nove horas.
— Claro, não se preocupe.
— Sério? Mas e esse barulho todo?
— Uns universitários estão fazendo uma festa da fraternidade, eu acho.
— Hum... — minha mãe murmurou calmamente. — E você está dentro de casa, certo?
— Certo.
— Ótimo, continue assim. Se envolver com esses recém-adultos sem juízo não lhe dará um futuro bom. Sabe disso, não é? — perguntou.
Sua voz saiu calma, mas eu sabia que se estivesse parada em minha frente, mamãe me mataria com o olhar, analisando minha resposta com atenção.
— Sei, mãe. Eu estava estudando, na verdade.
— Oh, me desculpe, querida. Atrapalhei você?
— Não, na verdade, não. Estava prestes a fazer um lanche. Por que me ligou?
Ela fez uma pequena pausa antes de dizer:
— Sabe... semana que vem estou indo visitar o túmulo do seu pai. Quer ir junto?
Papai... Já se faziam cinco anos desde a sua morte.
E isso me fazia pensar que era incrível o modo como o tempo passava surpreendentemente rápido, apesar das dores e traumas não.
— Claro, eu irei — falei, caminhando em direção ao peitoril e me sentando lá novamente.
Alguns garotos da fraternidade notaram minha presença na enorme janela transparente e começaram a me chamar para a festa, falando coisas como "E aí, gata, vem, vamos nos divertir", mas apenas ignorei, mostrando-lhes o dedo do meio.
Idiotas. Eles não passavam de idiotas.
— Provavelmente não terei aula. Dia dezesseis é um final de semana, correto?
— Sim.
— Ótimo, estarei livre. Nos falamos depois, mãe. Se cuida!
Mamãe desligou após murmurar um "eu te amo", e continuei sentada no peitoril com o celular na mão, observando toda aquela movimentação de pessoas bêbadas e insanas adentrando e saindo da fraternidade.
O que era tão divertido em festas?
E por que se deixavam chegar a um ponto tão desprovido de dignidade?
Por Deus!
— Não é divertido. Não é legal. Na verdade, é destrutivo — comentei, desbloqueando o meu celular.
Estava indo para o Instagram numa tentativa de distrair um pouco a mente de tudo.
Aulas, família, festas, papai, Ezra...
Todas essas coisas eram coisas que eu deveria parar de esquecer. E, dentre todas elas, você era a única que permanecia pulsando com mais intensidade em meu ser.
— Não é errado se eu observar seu perfil — falei, quando estava prestes a digitar seu nome. — Afinal, se ele me aceitou, isso quer dizer que eu posso vê-lo.
Passei a mão pelo cabelo levemente antes de ir até a sua conta.
Seu nome estava escrito sem abreviações ou códigos esquisitos no perfil, como a maioria das pessoas faziam, e sua biografia continha apenas um link direcionado ao Tumblr.
Parecia vazio.
Mas combinava com você, justamente por isso.
A falta de informação. A curiosidade crescente.
— Quem é você, Ezra Devrion? — perguntei, ao observar suas fotos.
A maioria estavam em preto e branco e eram poucas.
Tinha no máximo umas trinta fotos, geralmente tiradas na faculdade, algumas festas, você na praça fumando, amigos também da faculdade, um gatinho preto — ao menos você parecia gostar de animais — e algumas fotos sorrindo.
Mas, até onde eu sabia, isso não dizia nada sobre você. A não ser o fato de ser amado por todos, mas isso sempre foi óbvio.
Então fui até o início do seu perfil novamente e entrei no Tumblr.
Todavia, se arrependimento matasse, Ezra, eu provavelmente estaria morta.
Não pela rede social em si, mas pelos acontecimentos que iriam se transcender a partir disso.
Dessa maldita curiosidade. Ou talvez desse maldito destino.
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I did not want to get close to you
RomanceLyan Ashford é uma garota de dezoito anos que acabou de entrar na universidade dos seus sonhos. Em seu primeiro dia de aula, ela imaginou que tudo transcorreria de maneira suave e pacata, até receber aquele olhar. Aquele maldito olhar que tanto a in...