7. Memórias

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"Lá nos confins da memória, vejo você

Vozes que a gente ouviu

Cenas que a vida expôs

Coisas que a gente sentiu

Só nos dois

Cada um vai na sua estrada

Um por um, vou ao lado seu

Ser irmão, ter o meu coração

Em duas jornadas"

— Duas Jornadas, 5 a Seco

P.o.v. João

Três dias depois, eu estava em meu novo apartamento.

Com o Vicente, é claro.

O prédio não só aceitava animais como já tinha até telas na janela e na sacada.

Estou dando tanta sorte ultimamente que estou começando a estranhar.

Medo de tudo desabar de novo.

Eu ainda não tinha comprado muitos móveis, apenas uma cama, um fogão e um arranhador gigantesco para o Vicente brincar.

Por falar no meu filho, ele me parece bem feliz na casa nova, no começo ele tinha medo de mim e fugia, mas agora brinca, escala as coisas e dorme comigo todas as noites.

Ne sinto bem menos solitário.

Aproveitando minha manhã livre, depois de alimentar Vicente e brincar com ele, decido ir ver a Gio, quero contar as novidades.

E bem, para isso só preciso atravessar a rua.

Toco a campainha e a porta se abre depois de uns instantes.

Gio está no telefone, mas ela acena pra mim animadamente.

Gio: — Eu sei, eu sei, relaxa Pepeu, eu vou ficar bem. — Silêncio, provavelmente a pessoa do outro lado da linha falando. — Sim, eu juro, pode ficar tranquilo, a Malu precisa mais de você do que eu hoje, boa sorte, se cuida. — Silêncio outra vez, ela sorri. — Também te amo, tchau.

Ela deixa o celular sobre a bancada e vem até mim.

Gio: — Jão, que bom te ver! — Ela me abraça.

Jão: — Ei, Gio, como você está?

Gio: — Estou bem, irmão, e você?

Jão: — Bem melhor do eu imaginava. — Sorri. — Era o Pedro no telefone?

Gio: — Sim. — Ela deu uma risada nasal. — O Pedro ia vir aqui hoje, mas uma amiga nossa vai precisar de ajuda, e ele tá sempre tentando ser tudo pra todo mundo.

Jão: — Como assim?

Gio: — O Pedro, ele passou por muita coisa, e agora ele meio que se sente responsável por todas as pessoas que ele ama, de vez enquanto a gente tem que lembrar ele que não precisa agir como se fosse nosso pai. — Ela ri fraco. — Mas me conta, alguma novidade?

Jão: — Meio que muitas. — Sorri. — Eu aluguei um apartamento.

Gio: — Mentira? Aqui?

Jão: — Sim, literalmente, no prédio da frente.

Contei sobre os detalhes da minha mudança e também sobre ter adotado Vicente.

Dádiva - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora