Na Academia, o clima parecia ainda mais sombrio enquanto os alunos se dirigiam para a aula de necromancia. A presença do Professor Thanatus, o lich que ocupava a cadeira de Magias das Trevas e Necromancia, trazia uma tensão palpável ao ar. Não era incomum que os mais novos tremessem ao cruzar o caminho dele, mesmo com o lich suprimindo sua Aura de Medo. A sala onde Thanatus ministrava suas aulas era um reflexo de sua própria natureza. Escura, com paredes revestidas de pedras frias e cobertas por tapeçarias que retratavam rituais antigos e cenas de necromancia, o ambiente era tão lúgubre quanto o próprio professor. À medida que os alunos ocupavam seus lugares, Thanatus já estava à frente da sala, imóvel como uma estátua, observando cada um deles com seus olhos brilhantes e avermelhados, que pareciam penetrar a alma dos presentes. Com um gesto lento e deliberado, Thanatus iniciou a aula.
— hoje vocês aprenderão algo mais complexo. — um movimento fluido de sua mão esquelética, ele conjurou um raio que saiu disparado em direção a um dos animais de treinamento dispostos na sala. O raio púrpura envolveu o alvo, drenando-lhe as forças de maneira visível. — essa magia trena o vigor físico e até mental, muito prático. A vida é breve, e com isso, vocês tornarão mais curta ainda.
O animal demonstrava cansaço e depois fadiga, até cair incondicionalmente.
Thanatus gesticulou novamente, cessando o efeito.
— agora vocês irão prática, e esses são os animais de testes.
Ao fundo, o som distinto de trancas sendo liberadas ecoou pelo ambiente. Gaiolas se abriram uma a uma, permitindo que os animais, antes confinados, saíssem hesitantes. Os druidas, posicionados mais atrás, observavam em silêncio, seus semblantes marcados por relutância, como se lutassem contra uma decisão que não desejavam tomar.
— alguns aqui não precisa realizar tais teste, mas eu insisto. — disse o professor.
Com um salto ágil, o felino pousou graciosamente sobre a mesa de Khaled. Era um gato alaranjado, de pelo espesso e brilhante, que contrastava com o brilho das velas no aposento. Ele soltava um leve rosnado sempre que suas patas encostavam nos braços finos de Khaled, como se o contato despertasse curiosidade. Khaled ergueu uma sobrancelha, observando o animal com cautela, mas também com um toque de fascínio.
— é sério isso? — disse Khaled olhando para o felino.
— que irônico não é. — era o professor. — bem, tenha um bom teste todos vocês.
Khaled lançou um olhar em volta, percebendo que cada colega também tinha recebido um companheiro peculiar. Na mesa de Daemon, uma pequena lagartixa repousava tranquilamente, sua pele escamosa refletindo a luz suave do ambiente. Mary segurava nos braços um filhote de cachorro, cuja cauda balançava com entusiasmo descompassado, arrancando-lhe um sorriso involuntário. Já Alid, impassível como sempre, mantinha um corvo empoleirado no braço, suas penas negras brilhando sob a luz enquanto o animal o encarava com olhos atentos e inteligentes.
— senhor, nós não podemos fazer isso, pois somos servos de Allihanna e isso é contra a nossa fé. — a druida falou nervosamente.
— entendo, mas esse tipo de fé não tem significado acadêmico. — o professor se levanta e caminha até a jovem druida. — como se chama?
Ela encarava o professor.
— Bryana, senhor.
— então senhorita, Bryana, sugiro que você volte para sua floresta, pois aqui é um aula de necromancia. — disso o professor impassivelmente.
A garota levantou-se e saiu da sala sem olhar para trás. O professor permaneceu em pé, varrendo os rostos dos alunos com um olhar inquisitivo, aguardando pacientemente para ver se mais alguém seguiria o exemplo. Quando ficou claro que ninguém se manifestaria, ele assentiu brevemente, como se encerrasse um julgamento silencioso, e retornou ao seu assento com passos firmes e controlados.
— continuando. O raio do enfraquecimento é, como o nome já diz, enfraquecimento. Vocês tem essas espécie na mesa, usem como teste.
O gato continuava a rosnar baixinho, suas vibrações irritantes cortando o silêncio, enquanto Khaled passava os dedos suavemente pelo alaranjado, tentando acalmá-lo – ou talvez a si mesmo. Ele respirou fundo, tentando se concentrar para conjurar o feitiço que o professor exigira. Porém, o rosnado insistente do felino parecia uma barreira intransponível. "Acho que esse negócio de necromancia não é para mim", pensou, frustrado.
Ele tentou uma vez. Nada. Tentou uma segunda vez. O mesmo resultado. Na terceira tentativa, apenas o silêncio da falha. Khaled suspirou profundamente, afundando-se em sua cadeira, enquanto o gato, indiferente à sua angústia, continuava rosnando, como se zombasse de seu esforço.
— é típicamente normal, ter pessoas prodígios na arte das trevas, e outras não. — Thanatus falou seu tom impassível.
Khaled desviou o olhar para seus amigos. Daemon e Mary enfrentavam claras dificuldades; canalizar o chi para executar aquelas magias parecia exigir mais deles do que o esperado. Daemon mantinha o semblante estoico, mas as gotas de suor em sua testa traíam o esforço que fazia. Mary, por sua vez, franzia o rosto em uma expressão de concentração intensa, mordendo o lábio inferior enquanto tentava controlar a energia que emanava de suas mãos.
Alid, no entanto, já havia terminado seu teste. Sentado calmamente, ele escrevia em um livro com sua caligrafia precisa, indiferente ao ambiente ao redor. A pena em sua mão parecia deslizar sem pressa, mas com eficiência, como se não houvesse nada mais natural no mundo.
Mary ergueu os olhos por um instante, observando Alid com um suspiro breve e quase imperceptível, antes de redirecionar sua atenção ao pequeno filhote em sua frente, determinada a concluir sua tarefa. Khaled assistia à cena em silêncio, fascinado por Alid.
Quando a porta da sala de necromancia se fechou com um rangido pesado, Thanatus permaneceu imóvel, como uma estátua esculpida em sombras. Seus olhos, antes brilhantes com uma intensidade quase sobrenatural, diminuíram até se tornarem duas brasas fracas, enquanto ele mergulhava em pensamentos profundos. Era um silêncio que pesava no ambiente, carregado de mistérios que nenhum de seus alunos ousava – ou sequer conseguia – compreender. Thanatus parecia um enigma vivo, alguém que habitava um espaço entre o presente e algo muito mais sombrio e distante.
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Fênix Negra: A Amuleto do Conhecimento
FantasyA história se passa em Valkaria, especificamente na Baixa Vila de Lena, e segue Khaled, um jovem Qareen bardo com grandes aspirações. Ele está prestes a entrar na prestigiada Academia Arcana. O enredo também acompanha Daemon, irmão de Mary, que busc...