Na véspera do Teste do Vento, Khaled se dirigiu com determinação à sala do diretor da Academia Arcana. A atmosfera estava carregada de expectativa e ansiedade, e Khaled sentia o peso dos desafios que se aproximavam. Ele bateu na porta ornamentada de madeira escura e entrou quando foi chamado, encontrando Talude, o Mago Supremo, imerso em seus livros e pergaminhos. A sala era um espetáculo de conhecimento e poder arcano. Estantes repletas de tomos antigos se estendiam até o teto, e uma grande mesa estava coberta com pergaminhos e artefatos mágicos. No centro da sala, um trono de pedra ornado com runas mágicas destacava-se como o assento de Talude, que se levantou ao ver Khaled.
— Khaled, — cumprimentou Talude com uma voz profunda e sábia. — O que o traz a minha sala em uma hora tão séria?
Khaled, com a expressão carregada de preocupação, aproximou-se da mesa do diretor.
— Mestre Talude, eu gostaria de saber mais sobre o amuleto do conhecimento que Vicent pegou. O que exatamente ele representa e qual é o seu propósito? Estou preocupado com o que Vicent pretende invocar com ele.
Talude se sentou de volta em seu trono, seu olhar penetrante fixo em Khaled. Ele fez um gesto para que Khaled se acomodasse em uma cadeira próxima.
— O amuleto do conhecimento é um dos poderosos objetos de invocação. Ele é parte de um grupo de artefatos que têm o poder de invocar entidades de grande poder e influência. O que Vicent pretende fazer com ele é, de fato, uma preocupação válida, mas não temos conhecimento completo de suas intenções.
Khaled franziu a testa, o desconforto evidente em seu rosto. — Então, não há nada que possamos fazer para impedir isso?
Talude suspirou profundamente, uma expressão de preocupação passando por seu rosto.
— Minha decisão de não intervir diretamente é guiada pelo desejo da deusa Wynna. Ela, em sua infinita sabedoria, acreditou que seria mais prudente permitir que os eventos se desenrolassem conforme o seu curso natural. Acredita-se que há uma razão maior para que as coisas aconteçam dessa forma, algo que pode ser revelado apenas com o tempo.
— E quanto a mim? Você mencionou que sou filho do grande Khalid. Isso tem alguma importância em relação a essa situação?
— Sim, Khaled. Seu pai, Khalid, é um dos seres mais poderosos e sábios que já existiram. Ele foi um pilar fundamental na construção e na manutenção da Academia. Sua herança e o legado que carrega são de grande importância. Mesmo diante dos desafios que enfrenta, lembre-se de que você tem uma força interior notável, herdada do seu pai. Isso é algo que deve te encorajar a enfrentar o que vem pela frente com coragem e confiança.
Khaled respirou fundo, absorvendo as palavras de Talude.
— Agradeço por suas palavras, Mestre Talude. Vou fazer o meu melhor para estar à altura das expectativas e enfrentar os desafios que surgirem.
— Confio em você, Khaled. Lembre-se de que a verdade e a sabedoria muitas vezes surgem das situações mais inesperadas. Não se deixe desviar do seu caminho. Acredito que você tem a força necessária para enfrentar qualquer adversidade.
Após a conversa com Talude, Khaled sentiu-se mais revigorado. Caminhou pelos corredores da Academia, os pensamentos ainda centrados nas palavras do Mestre Supremo, quando um chamado familiar o fez parar. Xeipe, o líder do Grêmio da Liberdade, aproximou-se de Khaled com um sorriso animado.
— Khaled! Bom te ver. Eu estava justamente procurando por você.
Khaled retornou o sorriso, embora ainda estivesse um pouco pensativo.
— Oi, Xeipe. O que há de novo?
Xeipe parecia entusiasmado.
— Estamos preparando um ensaio para a apresentação que faremos amanhã à noite, antes do início do Teste do Vento. Gostaríamos que você participasse com uma apresentação musical. O público será composto por alunos, mestres e até mesmo alguns visitantes especiais. Seria uma ótima oportunidade para você mostrar seu talento e também aliviar um pouco a tensão que todos estão sentindo.
Khaled hesitou por um momento, mas o convite de Xeipe e a perspectiva de uma apresentação pública eram atraentes. Ele sabia que um momento descontraído poderia ajudar a aliviar a pressão.
— Claro, Xeipe. Eu ficaria feliz em participar. Que tipo de apresentação você gostaria que eu fizesse?
Xeipe guiou Khaled até uma das salas de ensaio, uma ampla sala com pisos de madeira polida e paredes adornadas com tapeçarias coloridas. O espaço estava decorado com instrumentos musicais variados, criando um ambiente vibrante e acolhedor.
— Temos um palco montado ali — indicou Xeipe, apontando para um pequeno palco no canto da sala, iluminado por tochas. — Queremos que você se sinta à vontade para escolher qualquer peça que você ache apropriada. O que importa é que você encante a todos com sua performance.
Khaled acenou com a cabeça, apreciando a disposição do local. Ele caminhou até um dos pianos de cauda que estavam dispostos no canto da sala e começou a tocar algumas notas, testando o instrumento. A suavidade das teclas e o som rico do piano ajudaram a acalmar seus nervos.
Quando o momento da apresentação chegou, a sala estava cheia de espectadores ansiosos. Alunos de diversos grêmios, mestres da Academia e visitantes estavam reunidos, criando uma atmosfera animada e cheia de expectativa. Khaled subiu ao palco, seu olhar encontrando o de Xeipe, que lhe lançou um gesto encorajador. Com um último suspiro para reunir sua confiança, Khaled começou a tocar. A música que ele escolheu era uma peça emotiva e evocativa, com uma melodia que misturava notas suaves e intensas, transportando o público para uma experiência quase mágica. Cada acorde era executado com precisão e sentimento, e a maneira como Khaled se entregava à música encantava todos na sala. Os espectadores estavam absortos, com muitos fechando os olhos para se deixar levar pela beleza da apresentação. A melodia de Khaled parecia dançar pelo espaço, envolvente e cativante, criando uma conexão emocional profunda com cada um presente. O piano ressoava com um som puro e encantador, e a habilidade de Khaled era evidente em cada movimento de seus dedos.
Ao final da performance, o salão explodiu em aplausos e vítores. Khaled se curvou modestamente, um sorriso satisfeito no rosto. Xeipe foi o primeiro a se aproximar, seus olhos brilhando de admiração.
— Isso foi incrível, Khaled! Sua música realmente trouxe uma energia especial para todos nós.
Khaled sorriu para Xeipe, sentindo-se grato pela oportunidade de se expressar e por ter contribuído para o espírito da noite.
— Obrigado, Xeipe. Fico feliz que todos tenham gostado. Espero que isso ajude a criar um clima positivo para o teste amanhã.
A manhã seguinte trouxe um clima de expectativa crescente à Grande Academia Arcana. Daemon, preparava-se para uma sessão de treinamento particularmente exigente com o mestre Chibi-sensei. A reputação do mestre como um dos maiores praticantes de Mahou-jutsu da região tornava o encontro ainda mais significativo. O campo de treinamento estava localizado nos arredores da Academia, em uma área ampla e aberta, cercada por altares de pedra e sinais mágicos que emitiam uma aura de concentração e poder. O sol matinal iluminava o local, criando sombras longas e dramáticas que se moviam ao ritmo das técnicas praticadas. Chibi-sensei, com sua estatura diminuta e aparência imponente, esperava Daemon com uma postura serena. Embora pequeno em tamanho, a presença do mestre era grandiosa, emanando uma aura de sabedoria e autoridade. Seus olhos, brilhantes e penetrantes, observavam Daemon com um misto de curiosidade e expectativa. Daemon, de pé à distância, fez uma reverência respeitosa.
— Mestre Chibi-sensei, estou pronto para o treinamento.
Chibi-sensei fez um gesto de aprovação e começou a falar com uma voz suave, porém firme.
— Muito bem, Daemon. O Mahou-jutsu exige não apenas habilidade técnica, mas também uma profunda conexão com sua própria energia interior. Vamos começar com os fundamentos e depois avançaremos para técnicas mais complexas.
Daemon assentiu, respirando profundamente para se preparar para o desafio. Chibi-sensei começou a guiá-lo através de uma série de exercícios de concentração e controle, utilizando uma combinação de posturas físicas e visualizações mentais. Cada movimento era executado com precisão e graça, demonstrando a complexidade da arte que Chibi-sensei dominava. Enquanto o treinamento avançava, Chibi-sensei fez uma pausa para explicar a importância da técnica.
— O Mahou-jutsu é uma dança entre a mente e o corpo. Cada movimento deve ser executado com a máxima precisão, e sua energia deve fluir como uma corrente ininterrupta. Sinta a conexão com o universo e permita que sua magia se manifeste de maneira fluida.
Daemon seguiu as instruções com dedicação, seu corpo se movendo em harmonia com os comandos do mestre. A cada técnica aperfeiçoada, Daemon sentia um aumento no controle sobre suas habilidades, uma sensação de crescente domínio sobre a magia que antes parecia tão elusiva. A prática intensa continuou por horas, e Chibi-sensei, apesar de sua pequena estatura, não demonstrou sinais de cansaço. Seu olhar atento e sua orientação constante ajudaram Daemon a superar desafios e a refinar suas habilidades.
Após uma última sequência de exercícios, Chibi-sensei fez um gesto final e parou diante de Daemon, que estava suado e ofegante, mas visivelmente satisfeito.
— Você demonstrou um grande progresso, Daemon. Seu esforço e dedicação são evidentes. Continue praticando com esse mesmo empenho, e você se tornará um mestre do Mahou-jutsu.
Daemon inclinou-se profundamente, agradecido.
— Obrigado, Mestre Chibi-sensei. Suas instruções foram valiosas e me ajudaram a compreender melhor minhas habilidades.
Chibi-sensei sorriu, um gesto raro, mas significativo.
— Lembre-se, Daemon, a verdadeira maestria vem da combinação de técnica e entendimento. Nunca pare de aprender e crescer.
A tarde avançava e o sol começava a se esconder atrás das nuvens, criando um clima mais sombrio no campus da Academia Arcana. Mary, que passara o dia em reflexão após a batalha e a recepção fria de Khaled, decidiu que precisava confrontar Alid. Sua determinação a guiou até o jardim externo, um local tranquilo que contrastava com o tumulto interno que Mary sentia. Alid estava sentado em um banco de pedra, olhando para um livro antigo que estava aberto em seu colo. Ele parecia alheio ao mundo ao seu redor, absorvido em suas leituras. Quando Mary se aproximou, sua presença não passou despercebida. Ele ergueu os olhos, encontrando o olhar intenso e determinado dela.
— Alid — Mary começou, sua voz carregada de tensão. — Precisamos falar.
Alid fechou o livro com calma e olhou para Mary com um olhar neutro.
— Mary, o que é? Você parece perturbada.
Mary respirou fundo, reunindo coragem para enfrentar a situação.
— Não é só uma conversa qualquer. É sobre você e Khaled. Eu sei que você não pode entender, mas minha devoção a Khaled vai além do simples afeto. É algo que transcende o que você e eu possamos ter.
Alid ergueu uma sobrancelha, o olhar se tornando mais atento.
— Do que você está falando?
Mary deu um passo à frente, o olhar fixo e desafiador.
— Eu sei que você e Khaled têm algo especial. E eu não vou permitir que isso o afaste dele. Não importa o quanto eu me esforce para entender, eu não posso aceitar que você seja um obstáculo para o que eu sinto.
O tom de Mary estava carregado de uma mistura de dor e raiva.
— Você é meu inimigo, Alid. Não só porque você está entre mim e Khaled, mas porque eu sinto que você representa tudo o que eu temo: a perda de algo que eu amo.
Alid se levantou, o olhar de surpresa e entendimento refletindo em seus olhos verdes.
— Mary, eu não vim aqui para competir com você. Se eu estou entre você e Khaled, é apenas porque ele é importante para mim também. Não é uma questão de competição.
Mary balançou a cabeça, frustrada.
— Você não entende! Não se trata apenas de competição. É sobre o que eu sinto e o que eu tenho que lutar para proteger. Se isso significa que eu tenho que te considerar um inimigo para preservar o que eu mais valorizo, então assim será.
A expressão de Alid mudou, passando de surpresa para uma seriedade ponderada.
— Eu entendo que você está lutando com seus sentimentos, Mary. Mas fazer de mim um inimigo não vai resolver nada. Pode apenas causar mais dor e conflito.
Mary respirou fundo, os olhos marejados.
— Eu não tenho escolha. Eu preciso proteger o que eu amo, mesmo que isso signifique criar barreiras e inimigos ao longo do caminho.
Alid deu um passo para trás, a resignação em seu olhar.
— Se essa é a sua decisão, então farei o melhor para respeitá-la, mesmo que eu ache que isso é um erro.
Com um último olhar triste, Alid se afastou, deixando Mary sozinha no jardim. Ela se apoiou contra uma árvore, o peso da conversa e a luta interna ainda pesando sobre ela. O confronto havia revelado a complexidade de suas emoções e a dura realidade de suas escolhas.
No fundo de uma caverna subterrânea, iluminada apenas pela luz trêmula de algumas tochas, Vicent e Toede se encontravam em uma reunião secreta. A atmosfera era carregada de tensão e mistério, refletindo a importância do que estava em jogo. Vicent estava em pé diante de um pequeno altar de pedra, onde cuidadosamente escondia o Amuleto do Conhecimento sob uma camada de poeira e pedras soltas. Toede observava, seu olhar atento.
— Então, Vicent, o que faremos agora? O amuleto está bem escondido?
Vicent assentiu, passando a mão sobre o altar como se estivesse avaliando sua própria obra.
— Sim, está bem escondido. Mas o plano não termina aqui. Agora que temos o amuleto, precisamos garantir que nossos próximos passos sejam perfeitos.
Toede levantou uma sobrancelha.
— E qual é o próximo passo?
Vicent sorriu de maneira enigmática.
— Precisamos descobrir exatamente onde a próxima relíquia. Apenas sabendo onde está, poderemos preparar a próxima fase do nosso plano.
Enquanto Vicent falava, uma sombra sinuosa começou a se formar na entrada da caverna. O Elfo Negro apareceu, seus olhos brilhando com uma luz sinistra. Ele se aproximou com passos silenciosos, sua presença causando uma sensação de desconforto imediato.
— Vicent, Toede — disse o Elfo Negro com uma voz que parecia ecoar das profundezas da escuridão. — Eu ouvi que você tem algo que eu preciso.
Vicent virou-se lentamente, um sorriso no rosto.
— E o que seria, caro Ghurnaeg Zolve?
O Elfo Negro se aproximou mais, seus olhos fixos no rosto de Vicent.
— A localização da Fênix Negra.
Vicent estudou o Elfo Negro por um momento, avaliando suas intenções.
— Ah, sim. Eu poderia fornecer essa informação. Mas há um preço, como sempre.
O Elfo Negro fez um gesto impaciente.
— Diga o que você quer. Não tenho tempo para negociações prolongadas.
Vicent inclinou a cabeça, os olhos brilhando com um brilho astuto. — Quero que você ajude a garantir que a próxima fase do meu plano seja executada sem falhas. Precisamos que a Fênix Negra seja atraído para uma armadilha específica.
Toede interveio com um tom de ceticismo.
— E como você pretende fazer isso?
Vicent começou a traçar um plano no chão com o dedo, desenhando símbolos e anotações rápidas.
— Usaremos uma distração para atrair o grupo para uma área isolada. Uma vez que estiverem lá, será mais fácil lidar com eles. A localização do grupo será uma peça chave para garantir o sucesso desta armadilha.
O Elfo Negro olhou para o plano com interesse crescente.
— E quanto à nossa parte nisso?
Vicent sorriu amplamente.
— Você terá um papel crucial. A distração deve ser convincente o suficiente para garantir que eles não suspeitem do que está por vir. Quando a hora chegar, nós nos encarregaremos da execução.
O Elfo Negro assentiu lentamente, compreendendo a complexidade do plano.
— Entendido. Eu cuidarei da localização do grupo e os manterei sob observação até que o momento certo chegue.
Vicent olhou para o Elfo Negro com um olhar satisfeito.
— Ótimo. Enquanto isso, prepararemos tudo o que for necessário para a armadilha. Precisamos garantir que nada dê errado.
Com um aceno de cabeça, o Elfo Negro desapareceu na escuridão, deixando Vicent e Toede sozinhos na caverna. Vicent voltou a olhar para o altar onde o amuleto estava escondido, um sorriso satisfeito no rosto. O plano estava em andamento, e ele estava mais perto do que nunca de alcançar seus objetivos.
Toede, ainda inquieto, observou o sorriso de Vicent com uma mistura de respeito e dúvida.— Você realmente acha que tudo vai correr como planejado?
Vicent se virou para Toede, o olhar firme e resoluto.
— Com a preparação adequada e um pouco de sorte, sim. Agora, é apenas uma questão de tempo até que nossos objetivos se concretizem.
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Fênix Negra: A Amuleto do Conhecimento
FantasyA história se passa em Valkaria, especificamente na Baixa Vila de Lena, e segue Khaled, um jovem Qareen bardo com grandes aspirações. Ele está prestes a entrar na prestigiada Academia Arcana. O enredo também acompanha Daemon, irmão de Mary, que busc...