🪦Capítulo 16: Finalmente, chegamos à armadilha.

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Despertei com uma barulheira de uma sirene, como se a segurança de algo houvesse sido quebrada. Estava atrás de um choupo — árvore negra que crescia em grupos, no Campos de Asfódelos.

— Vamos, coma logo — Grover empurrava para minha boca uma colherada de ambrosia.

Na primeira mordida, já me sentia imensamente melhor.

— Foi um sufoco correr com você desacordada, sorte que Grover aqui andou malhando — brincou Percy, batendo no bíceps do menino-bode. — Ele lhe carregou sozinha!

— Béeeee! — exclamou Grover, incomodado com a brincadeira — Você é pesada.

Eu ri e encarei o teto da caverna. Ele era tão alto acima de nós que poderia passar por uma massa de nuvens de tempestade, a não ser pelas estalactites, que brilhavam em um cinza pálido e pareciam malvadamente pontudas. Senti falta da lua e das estrelas... Será que as veria novamente?

Comi mais uma dose de ambrosia e me levantei.

— Do que estamos nos escondendo? — sussurrei.

— Os seguranças. Descobriram que não éramos vivos e não queriam nos deixar passar, mas acho que os despistamos — explicou Annabeth.

— Ah, e obrigada, você foi genial botando o cachorro para dormir! — falou Percy, levantando-se.

— Simplesmente brilhante! — exclamou o menino-bode.

— É verdade, não teríamos conseguido passar sem você. — admitiu a amiga, sorrindo.

Nós seguimos, tentando nos misturar com a multidão de mortos e permanecendo de olho nos ghouls da segurança. Não pude deixar de procurar rostos familiares entre os espíritos de Asfódelos, porém era difícil olhar para os mortos. Seus rostos tremulavam. Todos pareciam ligeiramente zangados ou confusos. Eles até nos viam e falavam conosco, entretanto a voz soava como trepidações, como o chiado de morcegos. Depois que eles percebiam que você não conseguia entendê-los, fechavam a cara e se afastavam.

Os mortos não são assustadores. São apenas tristes.

Bem do nosso lado, havia uma grande tenda, negra com uma faixa que dizia: "JULGAMENTOS PARA O ELÍSIO E PARA A DANAÇÃO ETERNA Bem-vindos, Recém-Falecidos!"

Do fundo da tenda saíam duas filas muito menores. Uma fila ia para os Campos de Punição, que incandesciam e fumegavam a distância, uma vastidão desértica e rachada com rios de lava e campos minados. Quilômetros de arame farpado separavam as diferentes áreas de tortura. Eu evitava olhar muito, pensando se Luke pararia lá algum dia... Espera aí! Por que Luke iria para os Campos de Punição? Luke era um heroi, não era?

A fila que vinha do lado direito do pavilhão dos julgamentos era muito melhor. Dava num pequeno vale cercado de muros — uma comunidade com portões, que parecia ser a única parte feliz do Mundo Inferior. Além do portão de segurança havia belas casas de todos os períodos da história, vilas romanas, castelos medievais e mansões vitorianas. Flores de prata e ouro floresciam nos campos. A grama ondulava nas cores do arco-íris. Dava para ouvir os risos e sentir o cheiro de churrasco.

Elísio.

No meio daquele vale havia um brilhante lago azul, com três pequenas ilhas como um hotel de lazer nas Bahamas. As Ilhas dos Abençoados, para pessoas que escolheram renascer três vezes, e três vezes conquistaram o Elísio. No mesmo instante, eu soube que era para lá que queria ir quando morresse.

— É isso mesmo — disse Annabeth como se estivesse lendo meus pensamentos. — Este é o lugar para os herois.

Entretanto, percebi como havia poucas pessoas no Elísio, como era minúsculo em comparação com os Campos de Asfódelos ou até os Campos da Punição. Portanto, poucas pessoas se davam bem em suas vidas. Era deprimente.

O Ladrão dos Sonhos | Percy JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora