🏹Capítulo 2: Hambúrgueres Empoeirados

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  A chuva batia violentamente em meu rosto, acabando com a minha boa capacidade de visão noturna. Mesmo sem enxergar quase nada, eu seguia correndo sem rumo. "Para onde ir agora?"

A ideia de um monstro ter botado fogo na minha casa era tão inconcebível... Tão absurdamente irrealista e, ao mesmo tempo, tão macabramente assustadora. Seguia correndo, já não controlava mais minhas próprias pernas.

Então, bati com toda força em algo. Ou melhor, em alguém.

— Você!! — exclamou uma voz feminina jogada no chão — é você!!

— Oh meu Deus, me desculpe... — eu comecei, no entanto fui indiscretamente interrompida.

— Ora, por favor, pelo deuses, finalmente achei você!! — ela seguiu, erguendo-se com certa dificuldade.

Eu me levantei e estendi a mão a ela, que aceitou com um sorriso (o que eu achei que fosse um sorriso, estava escuro e chovendo muito).

— Vamos!— ela se pôs de pé e seu rosto se iluminou com a luz irradiada de um poste. Eu conhecia aquela garota. Era uma menina mais velha do colégio, estava no último ano, quase no ensino médio. Porém, nunca havia sequer trocado alguma palavra com ela. — A propósito, eu sou Cíntia, você é Eleanor, certo?

— Els, todo mundo me chama de Els... — eu disse enquanto Cintia prontamente pegou na minha mão e saiu correndo, puxando-me junto consigo. Ela corria de um jeito esquisito, mas não atrapalhava na sua velocidade.

— Então Els, não temos muito tempo, precisamos dar o fora antes que aquele monstro nos fareje...

— Monstro? Como você...? — mas segui correndo, não era boba de ficar no meio do temporal com Chad-monstro à solta.

— Eu sei de tudo, Els — afirmou Cintia, dando uma risadinha — Eu já passei por isso várias vezes, você não é minha primeira... Eu explico melhor quando estivermos num lugar seguro.

Confusa, eu segui a acompanhar Cintia pela escuridão. Embora não fosse isso que mais incomodava meus olhos — era a chuva, que agora acalmava um pouco. Eu vi que nos aproximávamos de uma parada de ônibus, completamente vazia. Ninguém em sã consciência estaria naquele lugar, àquela hora, com essa chuva.

Cintia estendeu uma das mochilas das suas costas para mim, assim que chegamos no lugar coberto.

— Fiz para você! — ela disse, sorrindo — tem tudo que você vai precisar até chegarmos no acampamento.

— Obrigada... Eu acho... Mas que acampamento? — indaguei, colocando automaticamente a mochila nas costas.

Um ônibus encostou.

— Para onde estamos indo?

Cintia ignorou totalmente as minhas perguntas, subiu os degraus do ônibus e estendeu a mão, dizendo:

— Você vem?

Hesitei. Eu nem conhecia aquela garota, como que eu ia simplesmente abandonar o meu lar em chamas e fugir. Nesse instante, um rugido ecoou na escuridão, encoberto por sirenes de bombeiro que vinham da direção da minha casa. Chad-monstro provavelmente estava se aproximando. E minha família estava a salvo.

Cintia me encarou, apreensiva, apressando minha decisão. O motorista do ônibus já gritava alguma coisa incompreensível sobre ele ter horário para sair e tudo mais.

Peguei na mão de Cintia e subi no ônibus. Ela pelo visto já tinha pago para nós, pois eu não tinha nenhum centavo. Sentamos no banco mais do fundo.

— O que disse ao motorista? Ele não estranhou duas meninas sozinhas, a essa hora... — questionei.

— Eu disse que éramos irmãs. Disse que nossa mãe foi para o hospital e nós vamos lá vê-la — ela respondeu, enquanto torcia os cabelos para tirar o excesso de água.

O Ladrão dos Sonhos | Percy JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora