O dia ruim

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Aaron Parker


Conforme as semanas vão se passando, eu e Aurora vamos nos acostumando com nossos programas desta temporada e melhorando com o tempo.

Claro que ainda há muito o que melhorar, mas no geral, acho que evoluímos bastante nesses últimos dois meses. A treinadora Susana também deve achar, porque eu vejo o orgulho em seus olhos quando temos um treino bom.

Hoje, porém, não é um treino bom.

Não sei o que está acontecendo com Aurora, mas ela está estranha o dia todo. Começou o dia mais calada do que o normal e foi ficando mal-humorada com o passar do dia.

Seu mau-humor, conforme percebo, parece estar intimamente ligado com seu desempenho no gelo. Ela está falhando em elementos que normalmente executa sem dificuldades, o que parece a deixar mais nervosa a cada erro.

— Aaron, eu sinto que você está me puxando forte demais nessa entrada – Aurora me diz no meio de um giro.

— O que?

Assim que fazemos a saída do giro e eu volto a ficar ao seu lado, Aurora para de patinar e segura minha mão para que eu também pare.

— Eu sinto que você está me puxando forte demais na entrada desse giro – ela repete, soltando minha mão.

— Por que? – questiono, querendo entender o motivo de sua observação.

Ao meu ver, eu estava executando a entrada do mesmo modo que venho fazendo desde que começamos a treinar, mas decido não discutir com ela hoje – não quando ela já parece estar tendo um dia ruim.

— Está difícil manter a postura necessária com a força do seu braço me puxando, entende? – explica ela, me encarando com seus olhos verdes escuros parecendo cheios de súplica – Você pode fazer isso de uma forma um pouco mais leve?

— Quer tentar de novo? – peço.

Ela assente, voltando a segurar minha mão para que possamos fazer o giro novamente.

— Tudo certo aí? – Susana pergunta de longe, ao perceber que nós dois estamos parados no meio do gelo.

— Sim, só vamos repetir o giro e continuaremos a partir daí – eu informo à ela.

Nossa treinadora faz um sinal positivo com a mão e eu e Aurora voltamos a patinar para tentar mais uma vez nosso giro.

— Assim foi melhor? – pergunto assim que volto a ficar ao seu lado – Tentei pegar mais leve. 

— Foi. Obrigada, Parker.

Voltamos a seguir nossa rotina normalmente, apesar das inúmeras pausas para ajustar algum detalhe ou das interrupções indesejadas de alguma queda ou erro grotesco.

— Aaron, cotovelo mais para cima! – ouço a treinadora Susana me corrigir – E Aurora, mais atenção com o movimento dos seus braços quando Aaron te erguer acima dele.

Nós seguimos a coreografia até chegar à elevação que escolhemos para essa parte da dança. Tudo o que preciso fazer é pegar Aurora – que está posicionada logo à minha frente e se segurando em mim – dar impulso para ela girar seu corpo até ficar em cima do meu ombro direito e então, segurá-la pelos braços para girarmos no gelo.

Essa não costuma ser uma elevação tão fácil, mas em geral não temos problema com ela. Exceto por hoje, é claro, que tudo está sendo mais complexo do que deveria.

Eu seguro debaixo da coxa esquerda de Aurora para dar impulso para ela girar, como sempre faço, porém quando solto sua perna para segurar sua cintura, sinto ela escorregando feito um peixe ensaboado para baixo.

Aurora & AaronOnde histórias criam vida. Descubra agora