A pizza

34 4 0
                                    

Aurora Adams


Quando eu acordei hoje e fui ao banheiro, tive uma surpresa: minha menstruação veio.

É claro que ela não poderia vir sozinha, teve que vir acompanhada de cólica e de várias coisas dando errado.

Primeiro eu bati o dedinho do pé na porta quando saí do banheiro, depois queimei meu dedo com água quente fazendo café e no treino, errei várias e várias e várias vezes passos que eu costumo fazer sem dificuldades.

Também teve a gloriosa queda de cabeça no gelo e claro, para fechar o dia com chave de ouro, abri um belo corte na mão do meu parceiro com minha lâmina.

Aquilo foi a gota d'água para mim. Assim que a treinadora deu o mínimo sinal de que estávamos liberados por hoje, eu corri para o vestiário pegar minhas coisas e voei para casa antes que eu pudesse ferrar com mais alguma coisa.

No banho, deixei a água quente cair sobre minha pele e levar o cansaço e as lágrimas embora.

Em certo momento, eu nem sabia mais se estava chorando por tudo o que deu errado hoje, se era por saudades de casa ou por exaustão física e mental.

Saí do banho e botei meu pijama quentinho de ursinho, indo para a cozinha atrás de mais um comprimido de anti-inflamatório para a cólica que voltou a me assombrar.

Deito no sofá em posição fetal e observo Hermes brincar com seu ratinho no chão da sala. Ele é minha única companhia aqui em Edmonton, por isso olhar para ele brincando com o rato que minha mãe comprou me faz ter ainda mais saudades de casa.

Se eu estivesse em Vancouver, certamente chamaria Matt para dividir um sorvete comigo – mas eu não estou. E preciso lidar com minha vida adulta sozinha.

Assim que a cólica acalma, tento tirar um cochilo no sofá, no entanto, sou interrompida pela minha campainha tocando.

Hermes, que estava deitado comigo no sofá, sai correndo para a cozinha. Eu calço minhas pantufas e vou até a porta de casa, abrindo uma fresta para ver quem é.

Já imaginava que seria um vizinho, mas ver Aaron Parker parado na minha porta com uma caixa de pizza nas mãos quase me faz cair para trás.

— Oi. 

— Oi?

— Já jantou, Adams? Eu imaginei que talvez você estivesse precisando disso – ele diz, erguendo mais a pizza para me mostrar. O cheiro que o acompanha é delicioso.

— Hm... o que você está fazen... – começo a perguntar, mas então me interrompo e abro mais a porta, tentando ser simpática – Não, não jantei. Entre.

Deixo Aaron passar e o observo em minha casa.

A julgar pelo cabelo escuro molhado, ele também tomou banho a pouco tempo – só não está de pijama e pantufas, como eu. Ao invés disso, veste uma bermuda escura e uma camiseta preta que está levemente apertada nos bíceps. Reparo também em sua mão esquerda, embaixo da pizza, com uma atadura.

— Onde posso colocar isso?

— Ali na cozinha – digo, acompanhando meu parceiro de patinação para dentro do apartamento.

Ele põe a pizza em cima do balcão e olha ao redor, encontrando Hermes em cima da geladeira.

— Ah, acho que finalmente conheci o responsável pelos meus antialérgicos! Qual o nome dele, Adams?

— É Hermes – respondo, pegando pratos para nós e franzindo as sobrancelhas – De que antialérgico você está falando?

— Dos que eu tomo antes do treino.

Aurora & AaronOnde histórias criam vida. Descubra agora