O convite

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Aaron Parker


A vinda de Matthew Fisher para Edmonton parece ter trazido um bom-humor duradouro para Aurora. Desde que ela esteve com seu antigo parceiro, está mais alegre, mais leve, menos estressada e se frustrando em menor intensidade quando algo dá errado no treino.

Se eu soubesse que ela ficaria assim, teria pedido para ele vir antes.

Ou não, porque sua alegria contagiante é um pouco irritante.

Não são nem 05:30h da manhã e ela já está ao meu lado cantarolando baixinho Pocketful Of Sunshine enquanto eu tento me alongar.

I got a pocket, got a pocketful of sunshine, I got a love, and I know that it's all mine, oh – ela canta – Ohhhh.

— Que dia horrível para ter esquecido meu fone, sinceramente – reclamo, mais para mim mesmo do que para Aurora, embora ela tenha escutado.

Sei que ela me ouviu pelo modo que suas sobrancelhas se franzem ao me encarar.

Do what you want, but you're never gonna break me. Sticks and stones are never gonna shake me, no – Aurora continua em voz alta, apontando o dedo indicador para mim de forma acusatória.

Eu seguro seu dedo e faço ele de microfone ao cantar o próximo verso:

Take me away.

Aurora abre a boca, surpresa. Ela puxa sua mão e tira um dos fones de ouvido.

— Você conhece essa música?!

— Eu tenho uma irmã, esqueceu?

— E você sabe a letra?

Eu dou de ombros.

— Só o refrão – admito, pois era a parte que Nathalie mais cantava em voz alta.

— Quer ouvir? – ela pergunta, me oferecendo um de seus fones.

— Não, obrigado. Já estou ouvindo o suficiente, acredite.

Aurora revira os olhos e volta a colocar o fone no ouvido, dessa vez sem cantarolar o resto da música ou qualquer outra música que venha depois daquela.

Na verdade, ela fica estranhamente quieta o restante da manhã.

— Por acaso você está brava comigo? – eu decido perguntar no meio do nosso treino, enquanto patinamos próximos o suficiente para que ela me ouça e não tenha como me ignorar.

— Não.

— Tem certeza? – questiono, dando um leve apertão em sua cintura, onde minha mão repousa confortavelmente.

— Por que eu estaria brava com você, Parker? O mundo não gira só ao seu redor.

— Mas você, sim – eu respondo, piscando para ela, já que coincidentemente estamos nos preparando para um dos giros da coreografia.

Vejo o canto dos lábios de Aurora se curvarem para cima, embora ela tente se manter séria ao dizer:

— Não foi engraçado.

Nós terminamos nosso giro e eu volto a ficar ao seu lado, apertando sua mão gelada contra a minha.

— Eu não estou brava, ok? – Aurora comenta – Só fiquei chateada porque meu parceiro não quer que eu cante.

— Ei, eu nunca disse que você não poderia cantar.

— Mas disse que já tinha ouvido o suficiente.

Aurora & AaronOnde histórias criam vida. Descubra agora