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Zonzo e desorientado, Kurt seguiu a pé pela margem da estrada depois de quase bater numa árvore

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Zonzo e desorientado, Kurt seguiu a pé pela margem da estrada depois de quase bater numa árvore. Os postes da longa rodovia o acompanhavam, feito dezenas de lanternas curiosas, vigiando seus passos. Os diferentes focos de luz fragmentaram sua sombra em duas: uma que se adiantava à frente, e a outra atrás, o seguindo. Vez ou outra, Kurt se assustava com a segunda.

No meio da noite, ele encontrou um carro bem disfarçado nas sombras de um posto de abastecimento fechado, mesmo que a lataria fosse de um vermelho chamativo. Um jaguar escondido entre as paredes de um lava jato inativo, esperando. Era o novo carro de Iggy. Sua frente, composta de faróis estreitos e um capô comprido, inspirava uma aparência felina; uma elegância que poderia ser lida tanto como feroz, quanto traiçoeira. Sem dúvida, fazia uma melhor combinação com Iggy do que o antigo Audi. Renascido depois do acidente no túnel.

Kurt reparou no Jaguar escondido somente porque já esperava por ele estar ali. Depois de uma espiada por cima dos ombros, verificando o vazio do acostamento, Kurt entrou para a sombra debaixo de um viaduto e atravessou correndo para o outro lado. Na beira do posto escuro, pulou por cima da grade de alumínio, arranhando as mãos dolorosamente no alto das pontas de metal.

Já deveria fazer algum tempo que Cole e Iggy estavam esperando, pelo menos 40 minutos desde que recebeu a mensagem. Ele cambaleou até o carro, mal sustentando a firmeza dos joelhos, respirando pesado. Pelo para-brisa, os rostos de Cole e Iggy pareceram estranhar, como se contemplassem alguém que não conheciam.

A porta de trás escancarou, e Kurt caiu no banco traseiro, exausto. Quando a porta fez um baque suave para se fechar, os dois da frente já estavam virados para trás. Kurt sabia que eles estavam reparando em como parecia uma amontoado de cacos; era óbvio que estavam. Precisariam ser cegos para não reparar no cabelo caótico, nas olheiras fundas, nas roupas amassadas, nas mãos agitadas com um tremor que ia e voltava.

— Kurt? — Cole estranhou.

— Você parece horrível — Iggy provocou.

Mas quando Kurt tentou dar alguma resposta, sua visão ficou embaçada, fora de foco. De repente, ele não enxergava um palmo à frente do rosto. Sua respiração acelerou sozinha, e ele abriu a boca como se nenhum ar fosse o suficiente. A pressão dentro de sua cabeça cresceu, então Kurt se abaixou, encolhido entre os joelhos, as mãos agarradas em torno da nuca, mas escorregando pelo suor frio.

— Eu só queria deixar todo mundo seguro. Eu não queria machucar ninguém. — As palavras começaram a escalar sua garganta para fora, engasgadas. Uma confissão dolorosa buscando alívio em meio ao castigo. — Me perdoem. Por favor... me perdoem. Não posso mais fazer parte disso. Não posso...

— Do quê?! Kurt?! — Cole e Iggy soaram ao mesmo tempo, com muito mais apelo. Mas era como ouví-los debaixo d'água.

— Primeiro meu pai. Mas agora foi o Ace. Foi minha culpa. Eu trago isso para todo mundo.

Colisão [2ª edição 2023]Onde histórias criam vida. Descubra agora