Décimo oitavo

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Alfonso chega ao set de gravação mais cedo do que o normal. Ainda absorvido pela emoção da nova gravidez, tenta se concentrar no trabalho, mas um peso silencioso o acompanha, após ler o script, especialmente por saber que sua cena do dia envolve contracenar com Claudia, sua ex-namorada. Ele sabe que Anahí está desconfiada da presença dela e que esse desconforto ronda o relacionamento deles desde que ela soube da escalação da atriz para o mesmo projeto.

No set, o clima está tenso. A cena pede uma proximidade entre os personagens, quase culminando em um beijo, mas Poncho não consegue relaxar o suficiente para entregá-la com naturalidade. A cada vez que se aproxima de Claudia, sente o corpo enrijecer, e o diretor, irritado com a falta de química, decide liberar os dois para uma pequena pausa.

— Vocês dois precisam espairecer um pouco. Voltem em 15 minutos e tentem de novo, certo? — diz o diretor, sem esconder o tom de frustração.

Poncho sai do estúdio direto para a varanda, onde costuma ir para pensar. Com um cigarro entre os dedos, observa a cidade ao longe enquanto puxa uma tragada profunda. O ar fresco da noite é bem-vindo, mas a tensão no seu peito não parece diminuir.

De repente, ele ouve passos suaves atrás de si. É Claudia, aproximando-se com uma expressão de quem está prestes a puxar conversa. Ele sente seu corpo ficar mais tenso.

— Poncho — diz ela, em um tom suave, quase como se quisesse quebrar o silêncio que os envolvia. — Você está bem? Eu percebi que está meio... fora de sintonia hoje.

Ele solta a fumaça lentamente, sem olhar diretamente para ela.

— Estou bem. Só um pouco distraído, é tudo.

Claudia se aproxima mais, ficando ao seu lado. Ele sente a presença dela se intensificar, mas não se move. Ela, então, aproveita o momento para tocá-lo levemente na mão, num gesto aparentemente inocente, mas carregado de segundas intenções.

— Sabe... a gente sempre teve uma boa química nas telas — diz ela, sua voz baixa e insinuante. — Talvez você só precise relaxar um pouco. Pode confiar em mim, como nos velhos tempos.

Poncho sente a mão dela pressionar a dele por mais um segundo do que o necessário. Sua mente se enche de pensamentos confusos, lembranças do passado com Claudia e a sensação de traição para com Anahí. Ele puxa a mão de volta, sutilmente, tentando manter o controle da situação.

— Isso foi há muito tempo, Claudia — responde ele, seu tom firme, mas sem agressividade. — As coisas mudaram. Eu mudei.

Ela sorri de lado, com um ar de desafio, como se não estivesse pronta para recuar.

— Mudou mesmo? Porque, para mim, parece que estamos presos no mesmo ciclo. Sempre há algo entre nós, você sabe disso. Por que lutar contra?

Poncho apaga o cigarro, respirando fundo antes de responder.

— Porque minha vida agora é outra. Eu amo a Anahí, e nós temos uma família. Eu não posso nem quero voltar para o que já passou. O que tivemos ficou no passado, e é lá que deve ficar.

Claudia dá um passo para trás, mas o sorriso irônico permanece em seu rosto.

— Bom... se é assim que você se sente. Mas lembre-se, Poncho, sentimentos não desaparecem tão facilmente. Vou esperar você estar pronto para admitir isso.

Ela sai antes que ele possa responder, deixando um rastro de tensão no ar. Poncho fica parado por alguns segundos, tentando processar o que acabou de acontecer. Ele sabia que Claudia tinha uma intenção por trás de suas palavras e gestos, e isso só reforçava sua determinação em se afastar dela.



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