Trigésimo Segundo

64 10 4
                                    

Já era manhã, e, enquanto o sol ainda despontava preguiçoso no horizonte, Anahí estava na cozinha, preparando o café da manhã para as crianças. Ela mexia distraidamente em um copo de suco, pensando na consulta com o obstetra do dia anterior e em como seria a vida com mais uma menina na família. Estava perdida em pensamentos quando a campainha tocou.

— Quem será tão cedo? — murmurou para si mesma, enquanto caminhava até a porta. Os pés descalços se os cabelos presos em um coque frouxo.

Quando abriu, foi surpreendida pela figura de Maite, já agitada, com um par de óculos de sol escondendo o rosto, como se tivesse saído apressada de casa.

— Annie, eu preciso falar com você! — disse Maite, sem rodeios, entrando na casa e jogando a bolsa em uma cadeira da sala. — Não aguento mais o Tovar!

Anahí, acostumada com as entradas dramáticas da amiga, fechou a porta e riu suavemente, mas sua expressão logo ficou preocupada.

— O que aconteceu agora? Vocês brigaram de novo? — perguntou, guiando Maite até a cozinha.

Maite tirou os óculos e se jogou em uma cadeira, suspirando exausta.

— Ah, você não faz ideia. Eu consegui aquele papel na série da Netflix, Obscuro Deseo e estou super empolgada com o projeto, mas o Tovar... Ele está insuportável com o ciúme! — ela disse, colocando as mãos no rosto, claramente exasperada. — Desde que começaram as gravações, ele não para de fazer perguntas, de insinuar coisas. Acha que só porque a série é mais intensa, com cenas de amor e tensão, eu vou acabar traindo ele com alguém do elenco.

Anahí, que estava terminando de servir o café, colocou uma xícara de chá à frente de Maite e sentou-se ao lado dela. Ela sentia pela amiga, mas também se colocava no lugar de Andrés, ela mesma havia passado por isso semanas atrás.

— Nossa, amiga, sério? — perguntou Anahí, arqueando as sobrancelhas. — Mas o Andres sempre foi ciumento, não é? Ou está pior agora por causa dessa série?

Maite deu de ombros, pegando a xícara de chá com as duas mãos, como se estivesse buscando algum conforto no calor da bebida.

— Sempre foi um pouco, mas agora está fora de controle. — Ela fez uma pausa, tomando um gole. — Ele chegou a assistir a alguns dos ensaios e não gostou nada do que viu. E olha que mal começamos a gravar! Sabe o que ele disse? Que o ator que faz par comigo, o Alejandro, estava "olhando para mim de um jeito estranho". Dá para acreditar?

Anahí não pôde evitar uma risada curta.

— Amiga, sério? Tovar está assim mesmo? Ele sabe que é só um trabalho, não é? — Anahí perguntou, tentando não minimizar a situação, mas achando um pouco cômica a situação.

Maite revirou os olhos, claramente cansada.

— Eu já tentei explicar mil vezes, mas ele não entende. Fica criando mil teorias na cabeça, como se eu não fosse capaz de separar o trabalho da vida pessoal. Eu amo o que faço, mas não suporto mais essa tensão em casa. Ele tem que confiar em mim! — Maite desabafou, e sua voz mostrava a frustração acumulada.

Anahí se aproximou mais, colocando a mão sobre a de Maite em um gesto reconfortante.

— Você já conversou sério com ele sobre isso? Tipo, de verdade? Às vezes, ele precisa ouvir você diretamente, sem tentar adivinhar o que está acontecendo.

— Já tentei, mas ele só fica repetindo o mesmo discurso de sempre: "Não é você, Maite, é o ambiente que me preocupa." — Ela fez aspas no ar, zombando das palavras dele. — Sabe como é, né? Sempre o mesmo papo de que ele confia em mim, mas não nos outros. Como se isso fosse me fazer sentir melhor.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora