Vigésimo Quinto

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Quando Alfonso chegou em casa, o silêncio o envolveu de imediato. Não havia risadas das crianças, nem os habituais sons do cotidiano. Sobre a mesa da sala, ele encontrou um bilhete de sua cunhada, Marichelo:

"Estou com as crianças. O que quer que tenha acontecido entre você e Anahí, resolvam isso o mais rápido possível."

Seu coração apertou ainda mais. Ele havia imaginado esse cenário, mas enfrentá-lo era ainda mais doloroso. Caminhou pela casa, o peso da ausência de Anahí tornando cada passo mais difícil. Enquanto olhava para o vazio ao seu redor, Alfonso tentava adivinhar onde ela poderia estar. Foi então que uma lembrança surgiu, uma memória que ele havia tentado esquecer: o apartamento antigo.

"É claro," ele pensou. "Ela deve estar lá."

Aquele apartamento sempre fora especial para Anahí. Mesmo quando ele sugeriu que o vendessem, ela insistiu em mantê-lo, como se aquele lugar guardasse uma parte deles que o tempo e a vida não tinham conseguido mudar. Agora fazia todo o sentido. Ele sabia que, quando Anahí precisava de espaço para pensar, para se reconectar com ela mesma, era para lá que ela iria.

Pegou as chaves do carro e saiu em disparada. O caminho parecia mais longo do que ele lembrava, ou talvez fosse o nervosismo, a ansiedade, que fazia o tempo se arrastar. Quando finalmente chegou ao prédio, sentiu um misto de esperança e medo. Sabia que precisava escolher bem suas palavras, que o amor deles estava por um fio, e que qualquer passo em falso poderia ser o último.

Ao chegar em frente à porta do apartamento, Alfonso respirou fundo e bateu suavemente. O som ecoou no corredor vazio. Ele esperou, o coração disparado, esperando qualquer sinal de vida do outro lado. Por fim, ouviu o som de passos leves e a maçaneta girando. A porta se abriu lentamente, revelando Anahí. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, e seu rosto, uma mistura de dor e cansaço, o atingiu com uma força que ele não estava preparado.

— Eu sabia que você viria — ela disse, a voz baixa, sem conseguir esconder a vulnerabilidade.

Alfonso não disse nada por um momento, apenas encarou-a, sentindo o peso de tudo o que havia acontecido, de tudo o que ainda estava em jogo.

— Anahí... — ele começou, com a voz embargada. — Por favor, me escuta.

Anahí olhou para ele em silêncio por alguns instantes, avaliando cada palavra não dita. Havia tanto para ser dito, mas ela estava exausta, emocionalmente desgastada. Finalmente, ela deu um passo para o lado, permitindo que Alfonso entrasse. Sem dizer nada, ela fechou a porta atrás dele e caminhou até a sala, onde os lençóis brancos ainda cobriam os móveis, como se protegessem as memórias que eles haviam deixado para trás.

Alfonso observou a cena com um nó na garganta. Aquele apartamento tinha sido um refúgio para os dois, um lugar onde eles se permitiam sonhar. Agora, era uma prisão emocional, carregada de mágoa e arrependimento. Ele hesitou por um momento, mas depois seguiu Anahí, que se sentou no velho sofá, abraçando o próprio corpo como se estivesse tentando se proteger.

Ele ficou em pé, a poucos metros dela, sem saber como começar. Cada palavra parecia inadequada, insuficiente para expressar o que ele realmente sentia. Ele queria explicar, pedir perdão, mas sabia que qualquer desculpa pareceria vazia diante do que ela havia visto.

— Eu... eu nem sei por onde começar — ele disse finalmente, a voz embargada pela emoção.

Anahí permaneceu em silêncio, seus olhos fixos em um ponto distante, como se estivesse tentando se afastar mentalmente da situação. Ela não queria ouvir mais desculpas. O que ela queria era entender como eles haviam chegado até aquele ponto.

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