Capítulo 11: Os Sonhos de Indra

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Madara despertou mais uma vez, com o peito ofegante, o corpo tomado por um frio que parecia vir de dentro. O mesmo sonho... sempre o mesmo. Indra e Ashura, suas figuras pairando sobre ele como sombras antigas, presenças que traziam mais do que lembranças, traziam presságios. Indra, sempre distante, sempre enigmático, lhe mostrava um bebê, um pequeno ser envolto em luzes tremulantes. Aquilo o assombrava de forma inescapável, porque, no fundo, Madara sabia o que significava. Mesmo sem dizer em voz alta, a suspeita de uma gravidez era uma certeza silenciosa, dolorosa e impossível de ser ignorada.

Seu corpo já não respondia da mesma forma, o mal-estar, o peso, a vertigem que o cercava a cada novo amanhecer. Ele sentia-se encurralado entre o medo de ser descoberto e o desespero de não saber como reagir. Tajima, seu pai, o observava com olhos atentos, já desconfiado. Ele sugeria que Madara consultasse um médico, acreditando que o filho estivesse enfermo. Madara, com os nervos à flor da pele, recusava-se a tal ideia, inventando desculpas — dizia que era apenas a reação da pomada , uma desculpa que, por ora, segurava as suspeitas de Tajima. Mas até quando poderia esconder aquilo?

Ele não conseguia desabafar nem com Izuna, seu irmão, seu confidente de sempre. Izuna estava distante, perdido em seus próprios segredos, e Madara não queria sobrecarregá-lo com algo tão impossível, tão fora de seu controle. E como ele poderia contar a Hashirama? A mera ideia o fazia tremer. Se houvesse algum vislumbre de verdade naqueles sonhos, como poderia ser aceito? Seria visto como uma aberração? O medo consumia suas entranhas, um medo que o deixava à beira do desespero. Ele rezava em silêncio, a todos os deuses que conhecia, suplicando que não fosse verdade, que não carregasse uma criança.

Madara fitou o horizonte ao longe, enquanto pensava no encontro marcado com Hashirama. Ele estava nervoso. Não sabia o que faria, o que diria. Contar suas suspeitas? Não... não poderia. Hashirama já tinha tantos problemas, já carregava tanto em seus ombros. Madara não poderia ser mais um fardo, mais uma dor na vida daquele homem a quem amava tanto.

O amor por Hashirama era uma tempestade dentro dele, uma força que arrasava todas as barreiras, todos os medos. Não importava o quanto tentasse ser frio, distante, seu coração sempre voltava a ele, como as águas que sempre retornam ao rio. Esse amor o sufocava tanto quanto o libertava, pois, apesar de ser a razão de seu ser, também era a causa de sua maior angústia. Como poderia falar de uma criança? Como poderia transformar aquele sentimento avassalador em um peso que talvez Hashirama não quisesse carregar?

Madara caminhava sozinho, cada passo ecoando a dor que ele não conseguia verbalizar. O céu acima parecia o refletir: vasto, sombrio, cheio de nuvens prestes a se desfazer em chuva. Havia algo de profundamente trágico em amar alguém tão profundamente e, ao mesmo tempo, sentir que aquele amor poderia ser a sua própria ruína.

Dentro de si, ele sabia. Sabia que não poderia fugir para sempre. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, as verdades que ele temia viriam à tona. E, naquele instante, enquanto pensava em Hashirama e no que poderia acontecer, uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Madara, um reflexo do turbilhão que era seu coração.

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