Capítulo 14: A Sombra do Passado e o Fardo do Futuro

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Tajima estava acordado, deitado em sua cama, mas o sono não vinha. A escuridão do quarto era tão profunda quanto as sombras que se escondiam em seu coração. A guerra que ele travava não era apenas contra os Senju; agora, a verdadeira batalha acontecia dentro dele. O rosto de Madara, tão parecido com o de seu amado, assombrava seus pensamentos. Seu filho estava se afastando, agindo de maneira estranha, e o peso do que ele desconfiava o sufocava. Gravidez. A palavra martelava em sua mente como um veneno que ele não queria admitir.

Então, ele adormeceu por um momento — ou achou que havia adormecido. No meio de seu torpor, uma figura apareceu diante dele, e seu coração parou. Era ele. Seu amado ômega, o homem que amara mais do que qualquer coisa, o único que tinha o poder de trazer à tona as emoções mais profundas em Tajima. Ele estava ali, parado diante de Tajima, mas seus olhos, antes gentis, agora brilhavam com uma intensidade feroz.

"Não ouse tocar em nosso filho, Tajima." Sua voz ecoava como trovão, cheia de dor e fúria. "Se você fizer mal a ele, eu jamais te perdoarei. Esta guerra já tirou muito de nós. Não vou permitir que ela roube também nossos filhos."

Tajima engoliu em seco, suas mãos tremendo. Ele queria falar, queria justificar seu ódio pelos Senju, mas o olhar de seu amado o silenciou.

"Você não entende... Eles..." Tajima tentou, mas sua voz soou fraca, abafada pela culpa que crescia em seu peito.

"Eu entendo mais do que você imagina," respondeu o espectro com um tom afiado, mas dolorido. "Quando todos nos rejeitaram, nosso amor nos manteve juntos. Ninguém aceitava nossa união, mas isso não nos destruiu. Você vai mesmo deixar o ódio, essa maldita guerra, matar nosso filho? Ou o nosso neto?"

A palavra neto caiu sobre Tajima como uma rocha esmagadora. O coração dele quase parou. Ele sempre fora duro, sempre carregara a máscara de um líder implacável, mas ali, sozinho em seu quarto, encarando o espírito do homem que mais amara, Tajima sentiu suas defesas se desfazerem.

"Se os Senju fizeram isso, foi para humilhar nosso clã..." Tajima murmurou, seu ódio fervendo por baixo da dor. "Eles arruinaram você, e agora querem arruinar nossos filhos. Eles... eles vão nos destruir."

"Não são os Senju que destruirão nossa família, Tajima. É o seu próprio ódio." As palavras foram um golpe profundo, uma lâmina invisível que perfurou o coração do líder Uchiha. E então, tão rápido quanto surgira, o espectro de seu amado desapareceu, deixando Tajima sozinho com sua culpa e suas suspeitas.

Ele acordou de repente, ofegante, e a escuridão do quarto parecia ainda mais opressora. Ele se levantou, suando frio, enquanto as palavras de seu amado ressoavam em sua mente. Netos. Aquilo se tornara real demais. O desespero o consumia. Ele sabia o que Madara estava escondendo, e o peso daquela descoberta o sufocava.

Ele amava seus filhos, ainda que nunca fosse capaz de demonstrar como um pai comum. Madara, com sua força, seu orgulho indomável, era a personificação de tudo o que ele esperava de um herdeiro. Mas agora, Tajima percebia, o fardo que colocara sobre os ombros de Madara o estava destruindo. Ele havia criado um filho que carregava todo o peso do clã, sem permitir que ele dividisse essa carga com ninguém. E Izuna... ele sempre fora deixado nas sombras, sempre na sombra de Madara.

Tajima suspirou, seu olhar perdido no vazio. Ele nunca havia percebido o coração bondoso de Izuna até agora. Ele via muito do próprio amado ômega em Izuna: o jeito como ele tentava proteger, mas sempre acabava submisso ao medo e à pressão do clã. Talvez, em algum nível profundo, Tajima sempre soubera disso, mas não podia admitir para si mesmo. Ele temia que qualquer demonstração de fraqueza fosse vista como traição ao clã. E agora... ele estava prestes a perder os dois filhos.

Mas e os conselheiros? O pensamento trouxe um arrepio. Se eles descobrissem, Madara seria visto como traidor. O clã o mataria sem piedade, e não parariam por aí. Izuna seria o próximo, e depois... Tajima também. Não permitiriam que a linhagem de um traidor sobrevivesse. Eles aniquilariam toda a família.

Tajima cerrou os punhos, tremendo de raiva. Ele sabia que os anciões do clã eram homens cruéis, movidos por ambições mesquinhas e ódio enraizado. Tajima sempre suspeitara que seu amado não havia morrido em batalha por acaso. A morte dele tinha sido planejada, calculada. Aqueles que deveriam tê-lo protegido o traíram, e Tajima sabia que a mesma traição poderia acontecer agora.

Ele estremeceu de fúria ao pensar nisso. Se os anciões traíram seu ômega, se foram eles que o deixaram morrer... isso significava que todo esse tempo ele havia sido manipulado, usado para alimentar uma guerra que já não fazia sentido. O ódio queimava seu peito, mas dessa vez, o alvo desse ódio não era apenas os Senju, mas aqueles ao seu redor, aqueles que se escondiam atrás de conselhos e tradições, mas que eram os verdadeiros responsáveis pela desgraça de sua família.

Tajima sentou-se na beira de sua cama, com o rosto nas mãos. Não sabia o que fazer. Seu instinto era proteger seu clã, mas como poderia fazer isso se os próprios líderes eram podres? Ele precisava proteger seus filhos, precisava esconder essa gravidez a todo custo. Se os conselheiros descobrissem, seria o fim para todos eles. Não poderia permitir que Madara pagasse com a vida por um erro que, no fundo, Tajima sabia que não era seu. Não importava o quanto isso violasse as regras do clã, ele precisava proteger seu filho.

E quanto a Izuna? Ele havia deixado o jovem alfa viver na sombra de Madara por muito tempo. Mas agora, via claramente o quanto Izuna também era forte, também era digno. Ele era bondoso, tinha o coração de seu amado, e talvez... talvez fosse Izuna quem pudesse ajudar a manter essa família unida.

Tajima sentiu lágrimas amargas subirem aos olhos, mas as conteve. Ele não podia fraquejar. Não agora.

"Eu não vou deixar que essa maldita guerra mate meus filhos," ele jurou, sua voz rouca, quase inaudível na escuridão. O peso da decisão que tomava o esmagava, mas Tajima sabia que, se não fizesse nada, perderia tudo o que amava.

Naquela noite, ele tomou a decisão mais difícil de sua vida: trair as tradições do clã para proteger sua família.

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