Décimo primeiro

4 0 0
                                    

Jennie

Acordei com a cabeça latejando. Quando abri os olhos, percebi rapidamente que estava em um quarto de hospital. Ouvi vozes femininas se aproximando, então fechei os olhos enquanto a porta se abria.

“Ela ainda não acordou?” Reconheci a voz da minha mãe. Ela parecia preocupada. A enfermeira que a acompanhava explicou que eu estava bem, os ferimentos eram leves, e era só uma questão de tempo até eu acordar. Ela mencionou que os medicamentos que me deram, combinados com a bebida excessiva, me fizeram dormir por mais tempo. Minha mãe se aproximou, e eu continuei fingindo estar dormindo. Ela ficou lá por uns 10 minutos antes de sair sem tentar me acordar. Agradeci silenciosamente a Deus por isso.

Assim que ela saiu, peguei meu telefone e vi que já eram 9 da manhã do dia seguinte. Meus pais deveriam ter viajado, mas, se minha mãe estava ali, provavelmente ficaram por causa de mim. Querendo saber o quão ruim a situação tinha ficado, abri minhas redes sociais. Tudo parecia normal, então fui pesquisar na internet. Procurei meu nome e o do meu pai, mas não encontrei nada—nenhuma notícia sobre o acidente, nada de errado comigo. A única coisa que vi foi como meu pai estava liderando todas as pesquisas eleitorais.

Quando estava prestes a mandar uma mensagem para a Sophia, a porta se abriu de novo. Para minha surpresa, era ela. O alívio que senti quase me fez chorar. Ela correu até mim e me abraçou forte.

“Você tá ótima,” ela disse, depois de me soltar do abraço.

“Tô bem, só com um pouco de dor de cabeça,” respondi, esfregando a têmpora. “E as meninas? Como elas estão?” perguntei, preocupada.

“Fica tranquila, tá tudo bem com elas. Foi você que se machucou mais,” ela disse, segurando minhas mãos. “Mas… você atropelou um cara. Lembra disso?”

Meus olhos se arregalaram enquanto eu apertava a mão dela, sentando na cama, tensa.

“Ele tá vivo,” ela continuou. “Ele estava consciente depois do acidente, mas não tenho mais notícias dele. Seu pai deve estar cuidando da situação. A única coisa que sei é que ele foi levado pela ambulância e provavelmente quebrou a perna.”

Respirei fundo, relaxando um pouco. “E o carro?” perguntei, um pouco envergonhada, já que lembrava de como ele ficou destruído.

“O seguro vai cobrir,” ela disse, andando pelo quarto. “Mas meu pai vai cortar minha mesada até o fim do ano.” Ela cruzou os braços, claramente chateada.

“Não se preocupa com isso. Você tem a mim,” eu disse, tentando confortá-la, dando um tapinha no braço dela enquanto me levantava.

Abracei-a de novo, sentindo o alívio por o pior não ter acontecido.

“Jennie, Jennie!” ela sussurrou, me cutucando enquanto a abraçávamos. “Seu pai!” Ela segurou minha cintura e me virou em direção à porta.

Eu congelei quando vi meu pai parado ali, com os dois seguranças que sempre o acompanhavam. Ele entrou no quarto, deixando-os do lado de fora.

“Saia,” ele ordenou à Sophia. Ela me olhou, dizendo silenciosamente com os lábios, Boa sorte, antes de sair.

“Pa—” eu comecei a explicar, mas ele me interrompeu.

“Você faz de tudo pra me destruir,” ele disse, se aproximando. “O que a oposição não conseguiu em anos, você quase fez em um dia.” Seu rosto estava sério. “Por que você não aprende com seus irmãos mais velhos? Eles são mil vezes melhores que você. Você não se importa com minha imagem, nem com o que as pessoas dizem sobre seu pai nas ruas.”

“Por favor, me deixa falar,” implorei, me sentindo pequena.

“Eu não vim aqui pra ouvir. Vim pra falar,” ele levantou a voz. “Se você acha que pode fazer o que quiser só porque é minha filha, está enganada.” Olhei para o chão, sentindo minhas mãos tremerem. “Dessa vez, eu não vou te salvar. Você passou dos limites—podia ter matado pessoas, e destruiu um carro.”

“Eu vou pagar por tudo, eu juro,” respondi, tentando mostrar que reconhecia meu erro.

“Não. Minha confiança não tem preço,” ele disse friamente.

“Você nunca confiou em mim, pai. Só vê o que há de ruim em mim,” falei, olhando para ele.

“E há algo de bom?” ele perguntou, e eu fiquei em silêncio, sentindo toda minha confiança desaparecer.

Ele enfiou a mão no paletó e tirou um papel. “Vim te entregar isso,” ele disse, me entregando o papel.

“O que é isso?” perguntei, pegando o documento.

“É uma intimação,” ele respondeu, e meu coração disparou.

“Quem fez a denúncia? As meninas?” perguntei, vendo o papel tremer em minhas mãos, que também estavam tremendo.

Ele balançou a cabeça. “Eu fiz,” ele respondeu. “A mídia está me perseguindo. Preciso dar algo pra eles.”

Olhei para o documento e dei um sorriso, mas não de felicidade—era de incredulidade. “Entregar a cabeça da própria filha. Sacrifício maior que esse, impossível, né?” falei com ironia.

“É uma pena que com tanta inteligência, você não saiba usá-la para algo útil.” Ele disse, virando-se e saindo do quarto sem se despedir.

Olhei para o documento em minhas mãos. “Tô com um pouco de dor de cabeça, pai. Obrigada por perguntar,” sussurrei para mim mesma, tentando segurar as lágrimas.

...

Elite Hearts (Chaennie) (prbt)Onde histórias criam vida. Descubra agora