LILY
Aos poucos, os raios de sol filtravam-se pelas cortinas, criando um jogo de luz e sombra no quarto. Eu me espreguicei, sentindo a maciez do lençol de algodão que me envolvia. O ambiente era silencioso, mas havia um perfume adocicado no ar, um misto de fragrâncias que não conseguia identificar. Quando abri os olhos, a confusão tomou conta de mim.
Não reconhecia o quarto. As paredes eram pintadas de um azul suave, quase sereno, e algumas prateleiras estavam adornadas com livros empilhados de maneira despretensiosa. No canto, uma planta verdejante se destacava, suas folhas brilhando à luz do dia. Uma mesa de cabeceira ao lado da cama exibia uma garrafa de água e um copo vazio, sugerindo que alguém se preocupou em me manter hidratada.
Olhei para o lado e vi Miguel, o cara da balada, deitado ao meu lado. Ele estava tranquilo, com o rosto relaxado e a respiração suave. O coração acelerou. Lembranças da noite anterior começaram a surgir: risos, danças e o momento em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez.
O quarto estava desordenado, como se a noite tivesse trazido um turbilhão. Roupas espalhadas pelo chão, uma jaqueta jogada em uma cadeira, e copos vazios indicando que a festa tinha se estendido até a madrugada. Uma música baixa ainda ecoava, quase inaudível, como se o ambiente estivesse guardando a energia da noite.
Tentando me lembrar de como fui parar ali, fui tomada por uma onda de nostalgia e um leve nervosismo. O que isso significava? O que eu realmente queria daquela noite? Olhei novamente para Miguel, agora me perguntando se ele tinha a mesma confusão nos olhos ao acordar.
Foi então que meu celular começou a tocar, quebrando o silêncio do quarto. O nome de Clara brilhava na tela, e uma onda de alívio e ansiedade me atingiu ao mesmo tempo. Atendi, tentando esconder a hesitação na voz.
- Oi, Clara! Desculpe não ter mandado notícias. Acordei em um lugar que não conheço e...
- Onde você está? Você não me contou nada! - sua voz, preocupada, me fez sentir um pouco culpada. - Quer sair pra almoçar? Estou morrendo de fome.
- Eu... - hesitei, olhando para Miguel adormecido. - Pode ser. Só preciso me organizar aqui. Te mando a localização.
- Tá bom! Mas me conta tudo depois, hein? - ela insistiu, e eu ri nervosamente.
Desconectei e respirei fundo.
Olhei para Miguel, dormindo serenamente, e uma dúvida me assaltou: deveria acordá-lo para me despedir? A ideia parecia delicada, como se pudesse quebrar a tranquilidade do momento.
Permaneci em silêncio, contemplando sua expressão relaxada. Por um lado, queria que ele soubesse que eu tinha saído, mas, por outro, não queria perturbar seu sono. Decidi que seria melhor ir embora sem mais cerimônias.
Levantei-me de fininho, tentando não fazer barulho. Vesti minhas roupas espalhadas pelo chão e me observei no espelho, ajustando o cabelo e respirando fundo. A cada movimento, sentia uma mistura de alívio e apreensão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amando meu paciente: A Enfermeira e o Paciente
RomanceRecém-formada em enfermagem, Lily inicia sua carreira em uma clínica psiquiátrica onde, durante o estágio, vivenciou os desafios do ambiente. Agora, como profissional, ela é designada para a ala mais complexa, onde os pacientes sofrem com transtorno...