Lily
Entrei no quarto e encontrei James já deitado na cama, dormindo profundamente. Imediatamente, o que me chamou a atenção foi o gesto infantil dele: estava com o dedo na boca, num comportamento quase de bebê.
Um arrepio me percorreu. Hesitei, mas avancei cautelosamente, tentando não fazer barulho.À medida que me aproximava, um som baixo e persistente interrompeu o silêncio do quarto. James estava choramingando suavemente, e embora não conseguisse distinguir claramente suas palavras, parecia que ele estava pedindo para mamar. O som era tão desconcertante que recuei um passo, surpreso e desconfortável.
Sabia que precisava esclarecer a situação com Maggie. Meu coração ainda pulsava acelerado pela estranheza da cena que acabara de testemunhar. Caminhei pelo corredor, o som dos meus passos ecoando de forma metálica. Ao entrar no escritório de Maggie, fui recebida pelo aroma de papel e o leve odor de café que preenchiam a sala. Maggie estava sentada à mesa, sua atenção focada em uma pilha de documentos.
- Oi, Maggie. Preciso te perguntar uma coisa sobre o paciente James - falei, tentando manter a voz estável enquanto a preocupação se manifestava claramente em meu rosto.
Maggie levantou os olhos dos papéis, a confusão se tornando evidente em sua expressão ao notar minha inquietação.
- Oi, o que você gostaria de saber? - Perguntou, o tom um pouco surpreso.
- Bem, eu estava no quarto de James e... - comecei, a voz vacilando um pouco enquanto procurava as palavras certas. - Ele estava com o dedo na boca e, enquanto dormia, estava choramingando e pedindo para mamar. Isso é normal?
A expressão de Maggie se transformou em seriedade. Ela se inclinou para frente, os olhos fixos em mim com um olhar que transmitia compreensão profunda. O cheiro do café parecia acentuar a gravidade da situação.
- Ah, entendo. James tem uma condição conhecida como lactofilia - começou, com um tom cuidadoso e ponderado. - É uma preferência ou desejo relacionado ao ato de amamentar. Para algumas pessoas, isso pode se manifestar de várias maneiras, incluindo comportamentos regressivos, como o que você viu.
- Lactofilia? - repeti, o peso das palavras ainda me atingindo enquanto eu tentava processar a nova informação. - O que exatamente isso significa para ele? É algo que ele controla ou que faz parte da sua condição?
Maggie ajustou os óculos e respirou profundamente, seu olhar refletindo um tom de calma que parecia ajudar a clarear a situação.
- Lactofilia é uma condição onde a pessoa tem um desejo ou prazer associado ao ato de amamentar. No caso de James, isso pode se manifestar como comportamentos regressivos, especialmente em momentos de estresse ou quando ele está relaxado - explicou, sua voz serena ajudando a dissipar a confusão. - Não é algo que ele pode simplesmente "parar" de fazer. É uma parte de sua experiência pessoal e emocional.
- Isso é muito mais complexo do que eu imaginei - disse, sentindo o peso da situação se instalar sobre meus ombros. - Como devo proceder agora? Devo falar com ele sobre isso ou há algo específico que eu deva fazer para apoiá-lo?
Maggie sorriu gentilmente, oferecendo um olhar compreensivo que parecia acolher a minha ansiedade.
- Se você sentir que a conversa pode ser benéfica e que ele está aberto a isso, uma abordagem respeitosa pode ajudar a construir uma compreensão mútua. O importante é abordar o assunto com empatia e sem julgamentos - recomendou, sua voz tranquila e encorajadora. - Ele pode se beneficiar de um ambiente onde se sinta aceito e compreendido.
Assenti lentamente, sentindo a nova responsabilidade que pesava sobre meus ombros. Agradeci a Maggie por sua paciência e clareza e voltei para o quarto de James, decidida a enfrentar a situação com a sensibilidade e o respeito que ele merece. O que eu havia visto era incomum, mas agora compreendia que fazia parte da sua identidade e precisava ser tratado com o cuidado e a compreensão apropriados.
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Amando meu paciente: A Enfermeira e o Paciente
RomanceRecém-formada em enfermagem, Lily inicia sua carreira em uma clínica psiquiátrica onde, durante o estágio, vivenciou os desafios do ambiente. Agora, como profissional, ela é designada para a ala mais complexa, onde os pacientes sofrem com transtorno...