Episódio 2

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Uma semana depois...

Mesmo com toda a dedicação com a qual Antônio era cuidado, Juliette sabia que seu tempo na terra estava quase instinto.

Ela vivia por ele e para lhe proporcionar o máximo conforto, porém sentia que não era o ideal e a medicina já o tinha desenganado.

Foi numa noite em que ela o velava que Antônio conseguiu balbuciar:

- Perdão...

- Eu achei que você estava se despedindo da vida de solteiro e te esperava com paciência. Mas não estou preparada para me tornar viúva um mês após o nosso casamento. Por que fez isso comigo? Por que a sorte foi tão ingrata?

Antônio só chorou os olhos.

- Mas eu te perdôo. - Juliette também chorou. - Eu sei que quando você se for tudo para mim será pior e não sei como vou tocar as coisas sozinha, mas eu peço a Deus que tenha misericórdia de nós dois.

Aquela foi a última noite de vida de Antônio. Ele partiu ao amanhecer e Juliette não tinha nem lágrimas mais para chorar.

Vestiu-se de negro e estava pronta para o funeral. Mandou os funcionários irem a todos os povoados vizinhos e avisarem da morte do seu marido.

Seus pais vinheram lhe dá as condolências e os que o visitaram sentiam pena de Juliette. Mas ela não os julgou por isso, por que também sentia pena de si mesma.

- Minha filha e agora? - Perguntou Vasco ao sentar do lado da filha.

- Não sei meu pai. Nada me vem na cabeça. Estou extremamente esgotada sei que não é o momento de tomar nenhuma decisão.

- Achas que ao menos está grávida? - Alice, sua mãe, lhe perguntou.

- Não estou mãe. Não há em mim nenhum fruto dessa união.

- As vezes ainda não sabe que está.

Juliette só balançou a cabeça e junto deles chegou o desconhecido Rodolffo.

- Meus pêsames. Sinto muito pela sua perda. - ele disse com o chapéu ao peito e a mão estendida.

Juliette não lhe respondeu nada.

- Não sou o culpado pela desgraça do seu marido.

- Nada me tira da cabeça que é. Se não fosse, jamais teria vindo aqui avisar do acidente.

- Eu fiz isso por amizade, não por ser culpado.

- Por favor se retire da minha casa.

Ele a olhou com raiva e ela o olhava com rancor. Rodolffo se retirou do funeral.

- Esse tipo estava no seu casamento. Bem me lembro dele. Disse ser amigo do vosso marido. - Vasco disse a Juliette. - Até me parabenizou pela bela filha.

- Esse tipo não vale nada. Vês pela prepotência. - Juliette disse irritada. - Ele é culpado da morte do meu marido.

- Minha filha, não diga essas coisas. Não desafie esse homem, ainda mais agora que está desprotegida.

- Não tenho medo pai. 

...

A hora do enterro foi a mais dolorosa. Juliette chorou e se maldisse da vida, da sorte e todos os presentes choraram com seu lamento.

Ela insistiu que iria jogar a terra sobre o caixão do marido, mas acabou sentando-se no chão nas primeiras pás. Devido as noites em claro estava fraca e também debilitada por que mal se alimentava.

Seus pais nem se quer foram ajudá-la a levantar da montanha de terra que caia sobre ela e quem lhe deu a mão foi seu novo inimigo, o Rodolffo.

- Não seja orgulhosa. Eu estimava muito o Antônio. Faço questão em jogar a terra em sua cova.

Ela aceitou e ficou novamente de pé.  Mas quando Rodolffo cobriu totalmente o caixão, ela começou a chorar de novo e pedir que enterra-se ela junto.

- O senhor tire a sua filha daqui faça favor. Não está vendo o estado dela? Claramente está desorientada.

Rodolffo pediu em forma de repreensão a Vasco e com insistência a família conseguiu levá-la para casa.

Quando o enterro foi concluído, Rodolffo voltou a casa e foi logo abordado por Vasco.

- O senhor não vai mais entrar aqui.

- Por que não?

- As pessoas vão falar e eu não quero minha filha falada. Ela está sofrendo pelo marido falecido.

- Eu vou embora.

- E não volte nunca mais.

- Não me dê ordens. Eu odeio recebê-las e nunca obedeço.

Vasco viu o homem partir no seu cavalo.

...

No dia seguinte.

Juliette despertou e não tinha mais seus pais ao seu lado. Tudo parecia estranho e vazio.

- Senhora... Senhora? - Gerusa chamava sua atenção enquanto ela segurava uma xícara de chá.

- Estou ouvindo. Alguma coisa urgente?

- O senhor Mascarenhas está aqui. Ele quer te ver.

- Não quero ver ninguém.

- Mas ele insiste.

- Então deixei que ele entre. Estou sem disposição para insistências.

Rodolffo entrou e Juliette se pôs de pé para recebê-lo.

- O quê trás o senhor aqui?

- Bom dia. Como a senhora está?

- Estou sobrevivendo.

- Eu vim aqui falar com a senhora por que tenho interesse nessa propriedade. Pensa em vender essas terras, agora que é a única proprietária?

- Não penso. Na verdade nem sei o quê estou pensando direito. Mas se eu vender onde irei viver? Meus pais deixaram claro que não posso voltar a viver com eles.

- Se um dia mudar de ideia eu quero a preferência.

- Por que tenho a impressão que você não veio aqui só por isso? Olhe aqui... - ela pôs o dedo em riste. - Não quero que me visite. As pessoas vão falar de nós.

- O Antônio não era um homem inteligente. Ele poderia estar vivo e desfrutando de uma vida feliz do seu lado.

- Se era isso que vinha dizer, já ouvi. Pode ir.

- Juliette... Eu posso ser seu amigo. Eu tenho experiência em propriedades. Se não for pela amizade, posso ser seu funcionário. Nesse início é bom que tenha alguém que entenda disso aqui ao seu lado.

- O Antônio tinha o Jeremias como homem de confiança e eu vou continuar mantendo ele e a família comigo. Eu agradeço a sua disposição, mas não necessito dela. - ela fez uma pausa. - Quer me ajudar por que sente  remorso, mas a sua única solução é pedir perdão para Deus.

- Eu não tenho culpa da vulgaridade do seu marido. Não mandei ele beber e nem deitar com mulher nenhuma. Ele fez o destino dele e pagou pela desonestidade para contigo. Acorde, ele não era um bom homem.

- Então o senhor como amigo também não é. Sai da minha casa agora.

Rodolffo saiu pisando duro e Juliette chorou por ouvir a verdade mais doída: "ele não era um bom homem."

...

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