Na manhã do dia seguinte...
Juliette enxugava o corpo depois de um demorado banho e refletia sobre o seu destino quando bateram na porta.
- Gerusa um instante, por favor.
Ela vestiu-se das peças íntimas e logo liberou a entrada de Gerusa.
- O senhor já está te aguardando. Lhe servi um licor, enquanto espera.
Juliette ficou olhando para Gerusa e a funcionária se aproximou dela.
- O quê foi senhora?
- Não sei se estou fazendo a coisa certa. Ele era amigo do falecido e está tomando licor a essa hora. Não é muito cedo?
Gerusa deu um sorriso fraco e Juliette sentou-se na sua cama. A sua criada lhe ajudou a arrumar os cabelos.
- Eu tento ser forte Gerusa...
- Mas a senhora é muito forte.
- Os ventos querem me derrubar e me deixar a margem. - ela segurou uma toalha de cor lavanda e cheirou o tecido. - Bordei com tanto gosto as minhas coisas do enxoval. Sabia que a minha camisola das núpcias foi feita por mim e pela minha mãe Gerusa?
- Não sabia senhora. E por que nunca me mostrou?
- Eu a coloquei dentro do fogão, naquele dia que sentiu um cheiro estranho. Era o tecido queimando.
- Por que fez isso senhora?
- Desgosto. Tenho perguntado tanto a Deus o por quê de tudo isso. Eu não mereci o carinho do meu marido? Nós dançamos e foi bom, parecia que tudo ia bem. Ele me deu um beijo...
- Não sofra mais e entenda que ele tinha consciência que não merecia a sua candura. Não culpe a Deus por que até na dor ele é bom.
- O meu calo estourou... - ela disse mudando o assunto. - Está doendo um pouco Gerusa. O quê posso usar para melhorar?
- Mais tarde lhe faço uma compressa senhora.
Juliette pediu a ajuda de Gerusa para escolher um vestido.
- Não use mais o preto senhora.
- Eu tenho que usar. Na frente desse homem terei que dizer que ainda amo o meu marido. Só assim ele poderá me respeitar.
Juliette terminou de se vestir e logo foi ao encontro de Rodolffo Mascarenhas.
...
Sentado na sala da casa, Rodolffo esperava ansioso por aquela conversa. E quando finalmente Juliette estava diante dos seus olhos, sua cabeça reproduziu um cântico de vira, algo que nunca havia acontecido antes.
Ele deu um sorriso espontâneo e Juliette olhou em volta de si.
- Do que o senhor está rindo? É de mim? - ela perguntou claramente constrangida.
- Não. Perdoe-me. Foi só uma coisa que veio a minha mente...
- Que coisa? Ouça... Te chamei por que em todas as portas que bati, fui recusada, mas não pense nada além disso...
- Não estou pensando. Perdoe-me.
- Então sente-se.
Sentaram e Gerusa serviu um café. Juliette expôs a sua situação atual a Rodolffo, ele ouviu tudo em silêncio.
- O senhor tem essa quantia para me emprestar? - Rodolffo via no semblante de Juliette um desespero angustiante. - Se eu perder essa propriedade terei que mendigar por aí. Meus pais já deixaram claro que não vão me ajudar.
- Eu tenho senhora. Mas essa propriedade é fértil e consegue se pagar. Não imaginava que ele fosse um homem tão baixo. Estou ainda mais desapontado. O quê falta para o sucesso é os métodos certos. Ainda tem o seu funcionário?
- Tenho. Não posso deixar que ele vá embora agora. A esposa dele espera um filho depois de três anos inféis. Jeremias é um bom homem, mas sozinho não dá conta e eu não tenho como ter mais funcionários.
- A sua serviçal me falou que a senhora trabalha muito.
- Eu não tenho escolhas. Hoje mesmo já alimentei os animais e reguei algumas plantas que gosto de cultivar.
- Se me permitir, posso vir até essa propriedade e fazer a diferença. Dou a minha palavra de honra que estou aqui com a melhor das intenções. - Rodolffo tinha a mão no peito quando dizia essas palavras. - Certos serviços braçais não ficam bem para a senhora. Mas o primeiro ponto é pagar a parcela do penhor. A quem posso pagar?
- A Raimundo de Souza e Cruz. E o senhor está disposto a vir aqui e trabalhar de graça? Por que não posso te pagar.
- Se estiver disposta a receber a minha ajuda... Eu não preciso de dinheiro. O quê eu tenho é suficiente por um tempo.
- Estou disposta. Eu preciso de ajuda.
Uma lágrima fina molhou o rosto de Juliette.
Os dias estavam lhe sendo duros. A mulher de outros dias já não estava mais ali. Juliette estava branda e receptiva.
- Posso começar amanhã? Só é tempo de eu voltar a cidade, pagar a parcela do penhor e amanhã, bem cedo estou aqui.
- Pode. Eu agradeço a sua ajuda. Mas eu gostaria de lhe fazer um pedido.
- Pode fazer...
- Não diga que vem me ajudar a ninguém. Invente outro destino, mas não diga que virá para essa propriedade. O senhor é um homem solteiro e eu sou uma mulher viúva. Não quero que pensem mal de nós dois.
- Tudo bem. Para todos os efeitos, estarei em alto mar. Até amanhã senhora.
- Até.
Rodolffo saiu dali em alta velocidade no seu cavalo. E Gerusa, junto com Juliette, viram ele sumir no horizonte.
- Ele passará um tempo conosco Gerusa.
- Acho que será muito tempo.
- Por que diz isso?
Gerusa olhou para Juliette e não respondeu nada. Também não houve uma insistência pela resposta.
...
Rodolffo chegou na cidade e logo pagou duas parcelas do penhor.
- Por que está fazendo isso Mascarenhas?
- Por que eu devia um valor ao Antônio e fiquei sabendo do penhor. Aquela mulher já tem sofrido muito e eu devia, então estou pagando.
- O senhor é muito honesto.
Depois de pagar o penhor, ele viu alguns conhecidos e comunicou que partiria de viagem.
- Para onde o amigo vai agora?
- Para os braços da felicidade. Eu vou ser outro homem.
Os amigos riram, mas ele não ligou. Foi até a casa dos pais e ali os comunicou:
- Vou e dessa vez não sei a data da volta.
Seu pai foi o quê mais ficou triste.
- Meu filho não vai... Por favor.
- Eu nunca quis ir tanto como quero agora.
- Está envolvido com alguma bandoleira. Aposto. Por isso que quer ir tão depressa.
- Tem seis meses que só gasto o quê consegui nos outros seis. Está na hora de voltar ao trabalho. Dessa vez vou plantar e colher o melhor dos frutos. Eu estou cheio de esperanças meu pai.
- Que Deus te abençoe e te faça bem feliz. Mesmo que não fique saiba que aqui tem um pai para ti.
Eles deram um abraço e logo Rodolffo começou a juntar suas coisas. Estava vibrando e muito otimista.
...
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A desafortunada
FanfictionAquela que acredita ter sido abandonada pela própria sorte.