Episódio 4

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Na manhã do dia seguinte...

Juliette enxugava o corpo depois de um demorado banho e refletia sobre o seu destino quando bateram na porta.

- Gerusa um instante, por favor.

Ela vestiu-se das peças íntimas e logo liberou a entrada de Gerusa.

- O senhor já está te aguardando. Lhe servi um licor, enquanto espera.

Juliette ficou olhando para Gerusa e a funcionária se aproximou dela.

- O quê foi senhora?

- Não sei se estou fazendo a coisa certa. Ele era amigo do falecido e está tomando licor a essa hora. Não é muito cedo?

Gerusa deu um sorriso fraco e Juliette sentou-se na sua cama. A sua criada lhe ajudou a arrumar os cabelos.

- Eu tento ser forte Gerusa...

- Mas a senhora é muito forte.

- Os ventos querem me derrubar e me deixar a margem. - ela segurou uma toalha de cor lavanda e cheirou o tecido. - Bordei com tanto gosto as minhas coisas do enxoval. Sabia que a minha camisola das núpcias foi feita por mim e pela minha mãe Gerusa?

- Não sabia senhora. E por que nunca me mostrou?

- Eu a coloquei dentro do fogão, naquele dia que sentiu um cheiro estranho. Era o tecido queimando.

- Por que fez isso senhora?

- Desgosto. Tenho perguntado tanto a Deus o por quê de tudo isso. Eu não mereci o carinho do meu marido? Nós dançamos e foi bom, parecia que tudo ia bem. Ele me deu um beijo...

- Não sofra mais e entenda que ele tinha consciência que não merecia a sua candura. Não culpe a Deus por que até na dor ele é bom.

- O meu calo estourou... - ela disse mudando o assunto. - Está doendo um pouco Gerusa. O quê posso usar para melhorar?

- Mais tarde lhe faço uma compressa senhora.

Juliette pediu a ajuda de Gerusa para escolher um vestido.

- Não use mais o preto senhora.

- Eu tenho que usar. Na frente desse homem terei que dizer que ainda amo o meu marido. Só assim ele poderá me respeitar.

Juliette terminou de se vestir e logo foi ao encontro de Rodolffo Mascarenhas.

...

Sentado na sala da casa, Rodolffo esperava ansioso por aquela conversa. E quando finalmente Juliette estava diante dos seus olhos, sua cabeça reproduziu um cântico de vira, algo que nunca havia acontecido antes.

Ele deu um sorriso espontâneo e Juliette olhou em volta de si.

- Do que o senhor está rindo? É de mim? - ela perguntou claramente constrangida.

- Não. Perdoe-me. Foi só uma coisa que veio a minha mente...

- Que coisa? Ouça... Te chamei por que em todas as portas que bati, fui recusada, mas não pense nada além disso...

- Não estou pensando. Perdoe-me.

- Então sente-se.

Sentaram e Gerusa serviu um café. Juliette expôs a sua situação atual a Rodolffo, ele ouviu tudo em silêncio.

- O senhor tem essa quantia para me emprestar? - Rodolffo via no semblante de Juliette um desespero angustiante. - Se eu perder essa propriedade terei que mendigar por aí. Meus pais já deixaram claro que não vão me ajudar.

- Eu tenho senhora. Mas essa propriedade é fértil e consegue se pagar. Não imaginava que ele fosse um homem tão baixo. Estou ainda mais desapontado. O quê falta para o sucesso é os métodos certos. Ainda tem o seu funcionário?

- Tenho. Não posso deixar que ele vá embora agora. A esposa dele espera um filho depois de três anos inféis. Jeremias é um bom homem, mas sozinho não dá conta e eu não tenho como ter mais funcionários.

- A sua serviçal me falou que a senhora trabalha muito.

- Eu não tenho escolhas. Hoje mesmo já alimentei os animais e reguei algumas plantas que gosto de cultivar.

- Se me permitir, posso vir até essa propriedade e fazer a diferença. Dou a minha palavra de honra que estou aqui com a melhor das intenções. - Rodolffo tinha a mão no peito quando dizia essas palavras. - Certos serviços braçais não ficam bem para a senhora. Mas o primeiro ponto é pagar a parcela do penhor. A quem posso pagar?

- A Raimundo de Souza e Cruz. E o senhor está disposto a vir aqui e trabalhar de graça? Por que não posso te pagar.

- Se estiver disposta a receber a minha ajuda... Eu não preciso de dinheiro. O quê eu tenho é suficiente por um tempo.

- Estou disposta. Eu preciso de ajuda.

Uma lágrima fina molhou o rosto de Juliette.

Os dias estavam lhe sendo duros. A mulher de outros dias já não estava mais ali. Juliette estava branda e receptiva.

- Posso começar amanhã? Só é tempo de eu voltar a cidade, pagar a parcela do penhor e amanhã, bem cedo estou aqui.

- Pode. Eu agradeço a sua ajuda. Mas eu gostaria de lhe fazer um pedido.

- Pode fazer...

- Não diga que vem me ajudar a ninguém. Invente outro destino, mas não diga que virá para essa propriedade. O senhor é um homem solteiro e eu sou uma mulher viúva. Não quero que pensem mal de nós dois.

- Tudo bem. Para todos os efeitos, estarei em alto mar. Até amanhã senhora.

- Até.

Rodolffo saiu dali em alta velocidade no seu cavalo. E Gerusa, junto com Juliette, viram ele sumir no horizonte.

- Ele passará um tempo conosco Gerusa.

- Acho que será muito tempo.

- Por que diz isso?

Gerusa olhou para Juliette e não respondeu nada. Também não houve uma insistência pela resposta.

...

Rodolffo chegou na cidade e logo pagou duas parcelas do penhor.

- Por que está fazendo isso Mascarenhas?

- Por que eu devia um valor ao Antônio e fiquei sabendo do penhor. Aquela mulher já tem sofrido muito e eu devia, então estou pagando.

- O senhor é muito honesto.

Depois de pagar o penhor, ele viu alguns conhecidos e comunicou que partiria de viagem.

- Para onde o amigo vai agora?

- Para os braços da felicidade. Eu vou ser outro homem.

Os amigos riram, mas ele não ligou. Foi até a casa dos pais e ali os comunicou:

- Vou e dessa vez não sei a data da volta.

Seu pai foi o quê mais ficou triste.

- Meu filho não vai... Por favor.

- Eu nunca quis ir tanto como quero agora.

- Está envolvido com alguma bandoleira. Aposto. Por isso que quer ir tão depressa.

- Tem seis meses que só gasto o quê consegui nos outros seis. Está na hora de voltar ao trabalho. Dessa vez vou plantar e colher o melhor dos frutos. Eu estou cheio de esperanças meu pai.

- Que Deus te abençoe e te faça bem feliz. Mesmo que não fique saiba que aqui tem um pai para ti.

Eles deram um abraço e logo Rodolffo começou a juntar suas coisas. Estava vibrando e muito otimista.

...




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