Capítulo 26 - Descanse em paz

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Na mente de Soujirou, a batalha se esvai momentaneamente enquanto ele é levado de volta ao seu passado, ao ponto de origem de tudo que ele se tornou. A cena muda, e ele se vê novamente como uma criança, pequena e frágil, vagando pelas ruas sujas e escuras de uma cidade indiferente. Ele estava sozinho, abandonado, um mero espectador da crueldade do mundo. As pessoas passavam por ele como se fosse invisível, como se não existisse.

Os abusos eram constantes. Soujirou lembra-se da fome, do frio, e do olhar desdenhoso daqueles que o viam apenas como um fardo, uma praga. Cada dia era uma luta para sobreviver, cada noite, uma batalha contra o medo e a solidão. Ele tinha aprendido cedo que não podia confiar em ninguém, que o mundo era um lugar cruel e implacável.

Mas então, houve um dia que mudou tudo. Aquele dia estava gravado em sua memória como uma marca indelével. Foi o dia em que ele encontrou Shishio. Ou melhor, foi o dia em que Shishio o encontrou.

Na lembrança, Soujirou vê o homem que mudaria sua vida para sempre. Shishio não era o ser queimado e coberto de ataduras que o mundo viria a temer. Não, naquela época, ele era um homem de aparência comum, com uma estatura magra e uma presença que emanava poder e autoridade. Seu cabelo estava preso em um coque samurai, e ele tinha um sorriso que podia ser tanto reconfortante quanto assustador, dependendo de quem o recebesse.

Shishio o encontrou nas ruas, sujo, machucado, um garoto sem esperança. Ele olhou para Soujirou com aqueles olhos frios e avaliadores, e pela primeira vez na vida, o garoto sentiu que alguém realmente o estava enxergando. Shishio estendeu a mão, não para bater ou expulsá-lo, mas para ajudá-lo a se levantar.

— *"Você não é como os outros,"* Shishio disse, sua voz calma mas carregada de um tom que Soujirou nunca tinha ouvido antes. *"Você tem potencial. Pode ser mais do que um simples garoto de rua."*

Naquele momento, Soujirou não compreendeu totalmente as palavras de Shishio, mas ele aceitou a mão estendida. Pela primeira vez, ele sentiu que havia alguém que o via como algo mais do que um peso. Shishio o levou para o seu lado, cuidou dele, o alimentou, o vestiu e, mais importante, lhe deu um propósito. Ele ensinou a Soujirou tudo o que sabia, desde técnicas de luta até a filosofia que guiava sua vida.

Shishio o treinou com uma severidade que muitos poderiam considerar cruel, mas para Soujirou, aquilo era a única forma de carinho que ele conhecia. Ele ensinou ao garoto a sobreviver, a lutar, a nunca abaixar a cabeça para ninguém. Para Soujirou, Shishio era mais do que um mestre; ele era o pai que ele nunca teve, o mentor que lhe deu as ferramentas para enfrentar o mundo.

Soujirou lembra-se das palavras de Shishio, da forma como ele falava sobre o mundo ser um lugar de sobrevivência dos mais fortes. Como o mundo não tinha lugar para os fracos e aqueles que não tinham força de vontade. Essas palavras moldaram a mente e o coração de Soujirou, criando nele uma determinação inabalável de se tornar mais forte, de nunca mais ser uma vítima.

No fundo de sua mente, enquanto a batalha com Drago pairava sobre ele, Soujirou se lembra de tudo isso. Lembra-se do calor daquela primeira vez que sentiu a mão de Shishio sobre seu ombro, do olhar que não era de pena, mas de reconhecimento. Lembra-se da força que esse homem lhe deu, a força para se tornar o guerreiro que ele é hoje.

Mas, junto com essas lembranças, há também uma sombra. A sombra da verdade que ele se recusava a encarar. Que mesmo com todo esse poder, mesmo com toda a força que Shishio lhe ensinou a buscar, havia algo dentro dele que sempre esteve quebrado. Algo que nem mesmo a filosofia de Shishio poderia consertar. O vazio que existia antes de Shishio e que, de certa forma, ainda existia mesmo agora.

Enquanto ele encara Drago, a máscara parcialmente quebrada, Soujirou se vê em um dilema. As lembranças de seu passado colidem com a realidade presente, deixando-o em um estado de confusão e dúvida. Ele foi salvo por Shishio, sim, mas será que a força que ele obteve realmente preencheu aquele vazio? Ou será que ele apenas o encobriu com camadas de poder e violência?

Tudo fica em um branco absoluto, como se o mundo ao redor de Soujirou tivesse desaparecido. Ele sente um silêncio profundo, quase ensurdecedor, como se estivesse em um limbo entre a realidade e o que está além dela. Lentamente, ele olha ao redor e vê formas se materializando no vazio. Pessoas que ele reconhece imediatamente, figuras que marcaram sua vida.

Shishio está lá, olhando para ele com aqueles mesmos olhos que o viram pela primeira vez nas ruas. Ao lado de Shishio, estão outras pessoas que fizeram parte da breve família que ele conheceu, a única família que ele já teve. Soujirou sente uma mistura de emoções ao ver aquelas faces novamente, a dura carapaça de guerreiro se desmanchando por um breve instante.

Shishio começa a caminhar em sua direção, com passos lentos e firmes. Ele está calmo, sem as ataduras e queimaduras que marcaram sua figura na última vez que Soujirou o viu. Ele está como era quando o encontrou pela primeira vez, um homem com um semblante severo, mas que de alguma forma, sempre lhe transmitia um tipo de segurança que ele nunca conheceu em outro lugar.

— *"Não precisa ter medo mais..."* Shishio diz com uma voz suave, quase paternal. Há um tom de finalidade em suas palavras, como se ele estivesse liberando Soujirou de algo que o aprisionava por tanto tempo.

Soujirou sente algo quente escorrer pelo seu rosto. Ele leva a mão ao rosto, tocando a umidade que nunca esteve ali antes. *"O que é isso..."* ele sussurra, a confusão em sua voz. Ele nunca chorou antes, nunca permitiu a si mesmo tal fraqueza.

Shishio para diante dele, inclinando-se ligeiramente . — *"Não me pergunte por quê, nem eu sei,"* ele diz, um meio sorriso nos lábios. *"Você é o meu filho, acho que é isso que importa."*

Aquelas palavras atingem Soujirou como uma lâmina afiada. Uma simples declaração, mas carregada de tudo o que ele sempre quis ouvir, mesmo sem saber. Ele fecha os olhos, deixando as lágrimas fluírem livremente agora. *"Verdade... isso é tudo que importa..."* ele responde, sua voz quebrando enquanto fala. *"Obrigado por tudo."*

No instante seguinte, o branco começa a se dissipar. As figuras ao seu redor desaparecem lentamente, dissolvendo-se no vazio. Ele sente uma paz estranha, algo que nunca havia sentido antes. Uma aceitação silenciosa do que ele é, e do que foi.

Quando a realidade retorna, Soujirou está de volta à batalha. A visão de Drago, agora em sua forma angelical, é a primeira coisa que ele vê. Mas algo está diferente. Soujirou não sente mais a mesma raiva, o mesmo desespero. Ele sente uma calma, uma aceitação.

Então ele percebe o estado de seu próprio corpo. Ele está coberto por chamas azuis, seu corpo queimado e carbonizado. A dor que ele esperava sentir não está lá; tudo parece distante, como se ele estivesse observando de fora. A batalha já havia terminado antes mesmo de ele lançar aquele cero poderoso que estava preparando. Drago, em seu novo estado, tinha finalizado o confronto de forma decisiva.

Soujirou cai de joelhos, sentindo o calor das chamas que o consomem. Mas ele não grita, não chora. Ele apenas olha para o céu, deixando um último suspiro escapar. Pela primeira vez em sua vida, ele sente uma verdadeira paz. A batalha interna, a luta constante por ser mais forte, finalmente cessou. Ele não é mais uma aberração, não é mais um guerreiro em busca de propósito. Ele é apenas Soujirou, filho de Shishio, aceitando seu destino com um último sorriso.

Drago

Eu n sei oq vc pensou, mas pra morrer sorrindo assim...ou vc era frio d+, ou vc tinha uma historia de arrepiar...

Ele pega seu casaco de couro de leão e então vai andando até o corpo de Soujirou, ele deixa o seu casaco em cima do corpo do falecido e então olha para frente desativando sua forma de arcanjo

Lutou bravamente, e tem o meu respeito....

The Syzygy 2: Capitulo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora