02. Macaco vs Lagarto

15 1 0
                                    

Porto de Jade, o local mais movimentado da região de Ziyou. Decorado de coloridas faixas, grandes arcos vermelhos e verdes, bastante iluminado, mesmo à noite, lotado de comércios e turistas, o cheiro dos pratos vindo dos restaurantes mescalava-se com o das grandes árvores em cada lado da ponte de madeira resultando no mar. De canto de olho, já observo alguns burgueses pomposos de Bellefleur, a pechinchar com algum comerciante. Essa é a primeira vez que planejo deixar minha terra natal. Explorar o gigantesco mundo que me cerca me trás uma enorme euforia, mas ao mesmo tempo, as risadas e lembranças daqui, os momentos em que aprontei e tive que trabalhar por semanas, ajudar a mamãe a colher todas as ervas para que ela fizesse remédios, me aperta o coração deixar isso para trás. E falando nela, a vejo sorrir ao perceber minha figura em meio à multidão, eu sorrio de volta, então apresso os meus passos para abracá-la.

— Sun! Você está tão diferente... E a Daiyu? Ela não tenta mais provar venenos, não é? Se perceber que estão s colocando em muito risco fora de onde posso alcançar, eu... — O franzir de suas sobrancelhas deu lugar a um olhar melancólico, até que ela quebrou o silêncio. — Eu acredito em vocês, mas não posso deixar de me preocupar. Ver você outra vez, tão alto e ainda mais robusto, me enche de orgulho, eu só não quero receber a mesma notícia de anos atrás. Entende? Por mais que eu pareça chata, não é por outra razão que pego no pé de vocês dois.

Ela segurava meus ombros, ainda com o mesmo temor de quando saímos de casa para entrar para o exército do imperador. Muitos no passado já perderam suas vidas contra as mais diversas ameaças, no entanto, o motivo de eu ter sido expulso é claro no quanto isso de competência ser sério para se tornar um mestre. Somos escolhidos porque não morreremos facilmente em uma situação apertada. Enfim, mãe é sempre precavida e atenta ao nosso bem-estar, ou, na maioria das vezes. Por isso eu nem fico chateado com essas conversas. Meu pai, Wukong Jin, foi o mestre macaco antes de mim, por isso... nem mesmo quero informar mamãe de minha expulsão, ou pelo menos, não agora.

— Sabe que a gente pode se virar, né? Viu, nem é tão ruim, mãe! Estamos bem por agora. Prometo que venho super rápido se precisarmos do seu socorro! — Juntei as mãos e fechei os olhos esperando que ela levasse a sério.

Ela riu. Nos despedimos após ela checar se eu estava com todas as doenças que ela pudesse detectar, saí com alguns remédios na bagagem. Enquanto esperava pela chegada do navio para Yamato, percebi uma comoção em uma tenda próxima, um carinha alto e encapuzado parecia exigir algo de um vendedor de joias idoso, como um aventureiro certificado, preciso fazer alguma coisa. Ou, sei lá, só é entendiante ficar aqui parado.

— Essa é uma relíquia, senhor! Eu não posso vendê-la por um preço tão baixo! — O mercante erguia seus braços à frente do rosto.

Vejo uma manga azul índigo aparecer por entre o manto escuro, um botão prateado em sua extremidade. Esse tipo de roupa não me é estranha, mas ainda, não consigo me lembrar de que nação ela provém. Um medalhão dourado é mostrado, o tilitintar de cada pequeno anel de ouro junto é audível mesmo de nem tão perto. Em seu centro, um grande e reluzente rubi podia ser visto, majestoso como se fosse novo em folha. Parece que o forasteiro quer trocar uma velharia pela outra, só não entendo o porquê de tanto mistério em volta de sua aparência.

— Que tal... Isso. É uma relíquia passada de geração em geração. — A voz do carinha soa jovem, e ao mesmo tempo, ríspida e amarga. Ele hesita em entregar o objeto, ainda que este tivesse cativado a atenção do velho vendedor. Saca então uma espada azul cintilante, desembainhando-a de forma elegante.

Por acaso esse maluco é de Bellefleur? Eu deslizo para a frente do moço desarmado, meus braços sem sucesso tentando tampar toda a sua loja ali montada. O importante mesmo é não deixar que alguém saia ferido. Ele retira seu disfarce, revelando-se como algum tipo de príncipe...?

Às Estrelas E Ao Abismo Onde histórias criam vida. Descubra agora