| Narração
O príncipe dragão, após sua vergonhosa derrota em Ziyou, buscava utilizar a única lembrança de sua família para abrir as portas do Submundo. Empunhando sua fiel espada e motivado o suficiente, ele retornou às origens de sua jornada pelo poder absoluto. A sala do trono, de onde seu pai o observava treinar todos os dias, já deteriorado pelo tempo e o fogo, não o trazia mais nenhuma boa lembrança. Ele encarou as paredes decrépitas, a prova para si que custe o que custar, ele deverá tomar o trono carmesim do gigante.
— Está quase no momento daquele velho desonesto aparecer por aqui. Que ele não me decepcione. — Murmurou para si, antes de deixar mais pegadas entre o solo nevado.
| Ponto de Vista: Claire
Ao contrário de meus companheiros, o frio não me afeta tanto, eu ainda posso perceber a mudança, no entanto, a falta de um corpo orgânico me impede de contrair qualquer doença respiratória relacionada, ou até mesmo vir a óbito devido à hipotermia. Eu só queria poder experienciar o mundo como um ser de carne, invés de uma rocha senciente. Tento pensar que, assim como minhas antecessoras, existo nessa forma por um bom motivo. Quem sabe, um dia não poderei sentir o sabor de um bolo de chocolate ou chorar de alegria ou tristeza. Sophie acabou de espirrar, seguida de "bênção", dito por Alain. Eles contrastam bem, assim como eu, Sun e Jack. Eu nunca pensei que teria amigos reais após a despedida de meu companheiro de infância, monarca de um reino perdido.
— Ei, Claire, o mapa que você comprou tá certo mesmo? Ou aquele comerciante não te enganou por ordens da outra madame de asas? — Percebi que sua cauda de macaco estava também com uma touca, eu tive uma leve vontade de rir, mas decidi não ser o momento pra isso. — A gente tá andando fazem horas, sem nenhum sinal de fogueiras por perto como ele disse.
Eu examinei todas as coordenadas, pela sétima vez. Por algum motivo, eu sempre checo de novo para ter certeza.
— Uhum. Está tudo nos conformes. — Levantei meu olhar para ele, que em resposta suspirou, o ar quase condensado saiu de suas narinas.
Sophie, ainda energética, correu à nossa frente.
— Gente! Gente, eu achei! Olha! Aquele lugar parece ter uma floresta menos nevada por perto, clima de tundra, né? Igual à uma vila de... um livro, heh.
Senti que ela estava prestes a dizer outra coisa, mas ainda, preferi não questionar, já que estávamos necessitados de um abrigo contra a tempestade de neve, o mais próximo possível. Os braseiros acesos nos guiaram em meio ao branco que predominava ali, suas chamas permaneciam altas e teimosas quanto às hostilidades dali, um reflexo da resistência dos habitantes. Eu me pergunto onde minha mãe está, visto que esse parece ser o último vestígio de uma civilização inteira. O que mais me chamou a atenção, foi uma dupla vindo ao nosso encontro.
À frente, uma moça cujos cabelos eram como as chamas corria, empunhando um machado de obsidiana, em seguida, cansado, estava um elfo da luz, ou pelo menos, era o que a alta sociedade élfica se chamava séculos atrás.
— Fen! Vem cá! Tá precisando correr mais por aí, né? Hahah! — Ela abraçou quase todos, parando no mestre macaco, quem ela pelo visto quis apenas apertar a mão. E nossa, e esse foi um que parecia ter intenção assassina por trás. — Eu conheço você, Sun Jin. Não é o dos mais agradáveis.
Ele só mostrou a língua pra ela.
— Eu poderia saber qual o motivo pra tal hostilidade? — Tentei não soar muito seca, mas, saiu exatamente assim.
A jovem gargalhou.
— Digamos que eu já fui alvo de suas piadinhas nada engraçadas. — Trouxe o rapaz em vestes verdes para perto de nós. — Esse é o Fenriel, o inventor local. Estamos tentando achar um jeito de impedir que os vales sulfurosos derramem lava por aqui. Durante tempestades agressivas como essa, as avalanches costumam a quase derramar o rio de magma nas moradias, isso sem contar alguns fantasmas de dragões que aparecem junto.
— Por isso, eu sempre toco essa ocarina para afastá-los. Eu faço o meu melhor pelos habitantes da Vila da Brasa, mas sinto que ainda não é o bastante. — A coroa de flores na cabeça dele me é familiar. Ela é igual à que a deusa é pintada usando na Catedral. Todas essas similaridades, como a canção da cura, o nome com "Fen". Seria ele...? — Hehe, foi mal fazer com que esperassem congelando aqui. Podem entrar e tomarem uma boa sopa pra esquentar o corpo!
Durante a refeição em que apenas escutei suas conversas, eu soube que a garota cujos cachos se assemelham ao fogo na verdade os têm assim por ter conseguido a espada do gigante de fogo nos vales sulfurosos, quando tinha apenas dez anos. É um feito impressionante, visto que aquele local está longe de seguro para uma criança.
— Para defender este lugar, a empunhei, neste momento senti que eu já não era mais a mesma Makena.
Eu senti a necessidade de questioná-la sobre isso, visto que mexer com esse tipo de força pode ser tanto perigoso quanto irreversível.
— Que diferenças sentiu?
A aventureira deu uma risada contagiante.
— É como se nada pudesse me parar! E eu acredito que não irá, até que meu propósito dado pelos deuses seja cumprido, mesmo que eles nem estejam mais por aqui.
Como se nada pudesse pará-la. E aqui, eu encontro mais uma semelhança. Obsidiana, a segunda fada preciosa, apareceu no continente de Latania. Forjada pelo fogo mais escaldante, era uma poderosa guerreira, lutando lado a lado com os elementais do oceano, dos trovões e do fogo, ajudou a formar um lar para todos os residentes da nação, reunindo as tribos em um bem maior para proteger a derretida forja que guarda os nomes de todos. O dia em que seu coração foi corrompido por uma força desconhecida, precisou estilhaçar-se, antes que ameaçasse a população à ruína. E agora, é como se eu a visse, já possuindo um corpo humano, que pode ter acesso a tudo o que uma rocha viva não é capaz. Ao vê-la, não me encho de emoções negativas. Isso apenas reforça em meu coração, que um dia, eu terei uma vida comum.
— Todos, rápido! — Eu deixei de mergulhar em lembranças e sentimentos ao escutar o estrondoso som do grito de Makena. — Olhem, tá vindo do castelo! Merda!
Uma profana árvore crescia, ela parecia-se como uma alta torre. Seus galhos eram formados sangue de dragões, agora condensados. Enquanto os demais residentes permaneciam em suas residências, fomos levados para fora, agora precisando nos apressar para o que quer que viesse.
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Às Estrelas E Ao Abismo
FantasiaUm acidente no templo causa uma série de eventos, unindo cinco indivíduos em uma jornada para o deserto à oeste. Contudo, algo passou despercebido: as maquinações escondidas de um inimigo oculto. | Capa pelo meu mano @Drigasz | Também no Spirit | #8...