Às Estrelas E Ao Abismo

07. A pura folha da árvore

| Ponto de Vista: Sun

Tivemos que levar a fadinha de volta para o esconderijo; lá, a garota mágica começou a nos dizer que alguém parecia não estar presente. Segundo ela, foi este que a fez perceber melhor o porquê do Papa Gregorius ter mantido essas pessoas cegas ao que de fato era possível, dando-as conhecimento manipulado. Estranho, já que pelo visto, tem essa casinha na fazenda que ninguém usa, tendo sido abandonada quando os avós de Sophie faleceram, e agora ela me diz que um sujeito mora aqui. Seria ele aquela kitsune que eu encontrei antes? Se for... Ele deve ter ajudado com algo a mais em mente. Mesmo se não for, ainda me é suspeito.

- Então, temos um apoiador misterioso. - Dei uma risada meio abafada, ainda não comprando toda essa história.

Moreau ergueu os ombros.

-Nem sei de onde veio esse cara, mas sério, não tô biruta por ter passado tanto tempo sendo exposta a tanta malandragem. - Ela gargalhou, errática, todos nós sabemos que isso significa tudo menos estar bem das ideias.

Jack trocou a cartola dela por seu chapéu, logo após, a colocou em si.

- Estamos juntos nessa, irmãzinha. Mesmo se tiver soltado algum parafuso aí, eu tô contigo até o Submundo.

Ela abaixou o olhar ao ouvir a última palavra, então permaneceu mais distante pelos momentos seguidos. Pelo que dá pra perceber, tudo isso deixou uma profunda marca em todas as crianças que fizeram parte daquele lugar por anos, e agora, iremos dar um fim em toda essa era em que acreditar em algo torna-se longe de saudável para as mentes de todos os envolvidos.

| Narração

Em Draconis, anos antes de todos os eventos atuais, houve uma guerra travada após uma tragédia. A queda de diversos deuses, bem como o nascimento das raízes da verdade, trazidas para o povo de Bellefleur, bem como o desaparecimento repentino do rei dos dragões, aquele que se voltou contra o seu próprio povo, para proteger os humanos. Em um reino, as garras do mundo inferior ameaçavam dominar toda a vida por ali, porém, duas irmãs, assim como o seu próprio grupo de heróis, resistia ao caos e a miséria que ameaçavam tomar conta. Morgan and Elizabeth Le Fay, duas fadas herdeiras de seu reino. A mais velha, apelidada "Elia", apaixonou-se pelo novo rei, tendo este derrotado Arthur em um duelo, seu nome era Sigard Draconis, o antigo braço-direito do governante de Muspelheim. Juntos, os dois tiveram um filho, Siegfried, e a rainha planejava ter outro, assim que tudo voltasse à calmaria. Mesmo que Morgan não entendesse a decisão de sua irmã, ela vivia em paz com seu próprio amado, Accolon, após conseguirem enfim viverem juntos. Porém, os planos de ambas foram cancelados, massacrados pelo que viria no futuro:

O rei dracônico, após sua peril luta contra o gigante Surtr, desaparece em meio à geada, na mesma tarde em que os remanescentes gigantes alcançam o reino. Cada vez menos numerosos, humanos, anões, elfos e meio-dragões se unem contra as chamas ardentes, restando apenas alguns sobreviventes comuns após as cinzas subirem aos céus, marcando o final do confronto. O que era pra ser o fim de tudo, de todo àquele mundo como os seus residentes o conheciam, tornou-se o último capítulo de uma nação, agora envolta em neve. Assim que viram a perfeita oportunidade, os inimigos mais ardilosos apareceram, os dragões. Os conhecidos como "Aventureiros da Mesa Redonda" deram suas vidas para mantê-los longe, ainda, quase nenhum restou. A determinação de Elizabeth ao atrair um exército para si, em busca de salvar seu filho, foi o que também a levou para sua derrota e eventual morte. Tendo perdido tudo naquela noite, em que as árvores e tudo além delas queimava, a fada sobrevivente semeou em seu coração a semente da vingança contra todos os dragões. O sacrifício da deusa Fenris, símbolo da natureza e da pureza, a inspirou a usar a luz para afogar todas as trevas. Mal ela sabia que... era sua irmã quem havia entendido a mensagem passada pela criadora.

Consumida por todos os seus sentimentos não-resolvidos, como seu próprio povo, ela decidiu "purificar" o mundo em seus próprios termos. Portando uma armadura mais leve, que destacava ainda mais a imponência de suas grandes asas, bem como a coroa em sua cabeça, santificada pelo santo graal. A guerra contra o mal havia apenas começado, e, não terminaria até que ele fosse erradicado por completo.

Um pouco distante dali, um sujeito não muito familiar observava o desenvolvimento dos dramas daquele lugar, oculto, sem nada dizer. Ao seu lado, a raposa parecia ter um sorriso perpétuo.

| Ponto de Vista: Sun

Se a gente achou que não poderia piorar, taí o universo seguindo a "lei de Murphy". Mas não há nada que não posa ser resolvido, é o que minha mãe me ensinou. Iremos dar um jeito de impedir que o antes próspero reino de Sigard seja devastado até sua última gota, nem que precisemos adentrar a própria Muspelheim. Sem que eu percebesse, Claire atendeu alguém que batia à porta, insistente.

- Senhorita Le Fay... Eu estava errado. - Olha, quem ainda tá vivo sempre dá as caras... ou quase sempre. - A Ordem dos Templários é uma grande mentira. Tudo foi levado pra que a ira da imperatriz atingisse o nível esperado por Gregorius. Me perdoe por não enxergar a verdade, que estava bem diante dos meus olhos e eu a recusei. Recusei porque não sabia como lidar com ela. Mas agora, eu quero ser quem eu queria ser desde que era um garoto, desde quando me acolheu no palácio. Quero espalhar a esperança e a benevolente justiça, como a deusa nos ensinou. Sem mortes desnecessárias, sem paranoias.

Nós aceitamos de uma vez o que nosso amigo arrependendo propôs, ainda que a aliança não esteja livre de suspeitas. Sophie bagunçou o cabelo dele e o deu tapas nas costas.

- Você deixou de ser um rapaz bem adestrado, não foi? - Deu umas risadinhas. - Tô brincando, fico feliz que você esteja querendo sair dessa. Nós todos fomos usados como ferramentas, e agora, podemos lutar de volta.

O sorriso genuíno dela o inspirou a abrir um também, eu não podia deixar de notar que o conforto e convicção que encontraram acalmaram também meus nervos. Agora só falta alcançarmos o Frollo do Mercado Livre e a borboleta assassina.