| Ponto de Vista: Sophie
Já faz uns dias que eu percebo que aquele maluco fica sempre meio de longe observando a gente, desde que partimos de Bellefleur. O pior de tudo, é que o notei antes quando retornei à fazenda em que morei quando criança, estava arrumando minhas cartas na cartola e comendo meu sanduíche, quando de repente, me veio um sentimento de não estar sozinha naquela casa. Sair correndo gritando até as plantações não ajudou muito, já que em pouco tempo ele também estava lá. Após eu tentar diversos métodos de espantar bicho, o caba ainda estava lá, com cara de tacho.
- Você já terminou de tentar utilizar esse métodos ineficientes contra mim? - Ele deu um passo à frente, eu me afastei um pouco mais, meu chapéu em mãos. - Eu vim apenas para conversar, não se preocupe.
Ah, tá. Pelo que eu me lembro, eu o percebi antes mesmo de começar toda essa jornada. Seria assim também com os outros? Preciso me certificar quando voltarem, afinal, sem uma evidência concreta, não há uma hipótese confiável. O pior de tudo, é que tudo parece ter sido deliberadamente ambíguo até agora. A luz ali era bem pouca, partindo apenas da residência de onde eu vim, então eu não podia vê-lo tão bem nesse momento. Isso não era tão necessário, já que eu ainda tinha uma noção de onde se localizava.
- Eu tô duvidando muito disso, hein? - Tentei fazer umas piadas como de costume, mas agora, era como se a pressão da situação tivesse vindo a calhar, logo agora, em que eu estou bem longe do meu grupo. - Quem quer só puxar um papo não ia ficar ficar seguindo e olhando de longe que nem alguém com tudo menos boas intenções!
Ele outra vez chegou perto, eu tava a ponto de fazer ele desaparecer como um mágico faria, isso se, eu soubesse como. Qualquer coisa, é só usar a melhor é antiga técnica: sair correndo!
- Sei que é difícil de acreditar visto que eu pareci apenas me esconder até agora, mas foi por um bom motivo. Eu tenho razões que não pode compreender ainda para agir nas sombras.
Comportamento vilanesco estampado, eu não sei por quanto tempo ele vai manter essa fachada, então só me resta esperar o momento certo pra fazer ele se dedurar. Tentando me agarrar à persona de palco, eu coloquei de volta minha cartola, então capturei uma carta e a acendi, enfim trazendo alguma luz pra aquele breu do caramba, ilumine o caminho até ele pra perceber melhor se ele estaria tentando nos matar e eu seria a primeira, igual ao lendário Sigeki de Giogio.
- Cara, "compreender" é meu ovo inexistente. Agora, vá embora, antes que eu avise alguém sobre você.
Eu pude apenas perceber seu sorriso se formar, enquanto boa parte de sua face estava oculta por um tipo de manto escuro.
- E quem acreditaria em você? Poucos sabem que eu existo até agora. Eu também te ajudei, não foi? Todo o esquema da igreja local foi descoberto com a minha ajuda. O que seria de você se eu não tivesse intervido?
Eu atirei a carta em sua direção, ele apenas moveu-se sem muito esforço para o lado, evadindo de sua rota. Porém, ela voltou, então ele desviou dela de novo, a antiga plantação de trigo agora estava em chamas. Merda, o que foi que eu fiz? Tive que correr dali, procurei sem parar por um segundo algo que poderia extinguir as chamas. O sujeito pareceu estar achando alguma graça nisso, ele se apoiou perto do armário em que eu estava, como se isso não pudesse tomar uma magnitude ainda maior se espalhando por toda a floresta que cercava às redondezas.
- Sophie, olhe da janela. - Eu decidi observar o que quer que ele tivesse pra mostrar, quem sabe... não apagou a porra do fogo? E dito e feito, era como se nunca tivesse nenhum incêndio, estranho. O cheiro da fumaça, as chamas, tudo parecia nem mesmo ter existido de um momento para o outro.
Por mais que odeie admitir, estou bastante assustada. Com as mãos trêmulas, eu peguei um garfo em meio aos talheres, pronta pra atacar qualquer filho da puta que viesse tentar arrancar o que fosse de mim. Do lado de fora, eu vi uma raposa correr pro meio das árvores de novo. Isso não é um ataque de alguém sozinho. O pior de tudo, é não saber como estão os outros, ou quantos aliados esse cara teria nesse momento. Em um piscar de olhos, ele já segurava o garfo que estava em minhas mãos, então o atirou pra longe. Peraí, que truque foi esse?
- Isso não me faria nenhum arranhão, mesmo se tentasse. - Pelo visto, agora fudeu de vez.
Eu tentei enfim utilizar as cartas pra reaparecer em algum lugar, mesmo tendo falhado diversas vezes em ter algum sucesso nisso. Quando o cara estranho já estava bem próximo, eu me concentrei o máximo que podia, direcionando meu foco à Vila da Brasa. Restaram apenas cartas caindo ao chão, quando ele por fim me alcançou.
- Hã? - O frio ao redor já denunciava minha localização, embora eu tivesse um certo medo de que isso fosse o mesmo caso do incêndio na fazenda. Porém, parecia ter algo que ou; denunciaria algum tipo de miragem, ou, mostraria que o local não foi replicado. - Que isso?
Eu me aproximei do meteorito, ele emanava uma grande iluminação, quase maior que a dos braseiros e lanternas, e, um considerável calor também. Evitei tocar nessa coisa, se for de verdade eu vou só me atrapalhar ao ter uma mão queimada. Me afastei ao perceber que o "casulo" estava rachando, dentro de si, saiu uma moça de vestes estelares, parecidas com as do povo do continente Setare, dividido em desertos e florestas tropicais. Ela manteve seus olhos fechados enquanto avançava, a passos lentos, seus cachos loiros também brilhavam.
"Sophie Moreau, você não precisa mais passar por isso..."
Escutei a voz dela na minha mente, ou isso seria só doideira minha?
"Eu, como você, já tentei evitar ao máximo algo que me trazia imenso medo e dor. Porém, eu não posso deixar que você viva os meus dilemas e conflitos."
Seus dilemas? Como assim? Tá falando daquele doidão que tava atrás de mim? Ou sobre meu terror profundo do mundo interior?
- Sim, eu estou falando sobre quem estava atrás de ti. Sobre o medo do Submundo, isso é... porque você tem um coração gentil e sensível, mesmo que tente parecer despreocupada e inafetada por todos os desafios que lhe vêm. A maldade neste mundo, a feriu profundamente, você se viu detestando tudo o que foi feita pra aceitar sem protestos.
Isso é verdade. Eu me sentia muitas vezes enraivecida quando diziam que acreditar na deusa faria todos os problemas fossem embora, quando os que diziam ser seus emissários apenas me fizeram de fantoche. Um fantoche... é o que eu sempre repugnei me tornar.
- Você percebe, não? Que ele estava, também, tentando exercer o controle sobre suas escolhas. Pareceu ser uma chave para a sua liberdade, mas, estava apenas guiando-a para criar uma necessidade de suas instruções e presença.
Eu não sou besta, claro que percebi isso. Um pouco depois, no entanto. Agora, o que eu faço com todas essas informações?
- Deixe-me cuidar disso por você. - Eu aos poucos caí no sono, que merda é essa?
Quando pude "acordar", estava sonhando, em uma praia onde a lua brilhava dourada no céu, abaixo, um mar de estrelas cercava à ilha deserta.
| Narração
A garota estelar sentiu que precisaria logo confrontar alguém bem conhecido por ela, tentando afundar suas incertezas, contou com o luar da noite para guiá-la a fazer escolhas sensatas.
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Às Estrelas E Ao Abismo
FantasyUm acidente no templo causa uma série de eventos, unindo cinco indivíduos em uma jornada para o deserto à oeste. Contudo, algo passou despercebido: as maquinações escondidas de um inimigo oculto. | Capa pelo meu mano @Drigasz | Também no Spirit | #8...