13. Reminiscências

10 0 0
                                    

| Ponto de Vista: Sun

Ainda não tivemos notícias da Sophie, ela parece ter desaparecido. Segundo os moradores daqui, a mágica partiu de volta para Bellefleur assim que entramos no portal, mas, não temos nem sinal dela até agora. Fenriel, o elfo misterioso, também não está presente, eu me pergunto como nós, principalmente Makena, nos esquecemos dele. Alain voltou à Catedral, pelo que eu entendi, a memória diversos templários está evaporando quanto à Àrvore Sagrada. Seria tudo isso interligado, ou só uma brisa qualquer de um macaco cansado?

- Merda, você sabe o nome daquele elfo que tava viajando com a gente? Eu conheço esse cara faz um tempo, mas tô começando que achar que tudo foi um delírio coletivo. - Até a ruiva esquentadinha não sabe se tudo foi real ou não. - Gente, alguém aí sabe?

É, alguma coisa de fato não cheira bem.

| Narração :

Longe dali, um ser de orelhas pontudas e aparência juvenil tocava uma melodia apaziguadora em sua ocarina, reablitando plantas murchas. Ele caminhou por toda a estrada, ainda que fosse apenas em um sonho, atrás da perdida garota. O som das poças de água abaixo de seus pés, bem como a terra molhada, não o incomodavam, era o próprio solo conectado com seu ser no âmago. Tentando recordar quem era o tal que lhe causou imenso desgosto, ainda que por poucos minutos, ela não era a única. Alain, Morgan, quem sabe muitos outros, tiveram suas consciências alteradas por objetivos que ainda não compreendia por completo. O loiro então faz sua presença perceptível ao deixar que a brisa floral passe pelas árvores que cercavam sua procurada.

- É como se a criadora estivesse aqui. Mas, é impossível. O que ela iria querer com uma desobediente incorrigível como eu...? - Sophie arfou, tentando apaziguar suas esperanças crescentes em seu peito, mas, não apenas elas. Também, havia um grande medo em escutar da deusa o que todos sempre a diziam: seu lugar não era mais com ela.

Ela devia sempre mudar, mas, por mais que tentasse, ainda era fadada às profundezas do fogo e tormento. Ela enterrou tudo isso, outra vez, reunindo sua convicção fragilizada de que tudo aquilo era apenas um exagero de pessoas menos sãs que a si mesma. Por terem-na feito pensar igual por tanto tempo, ela fechou seus punhos, afundando suas unhas em suas palmas, ferindo-as. Seu coração acelerou-se, sua vontade era de queimar toda a flores-

- Não. Eu não posso. Devo seguir com este fardo. Como o meu grande irmão, nós dançamos na tempestade, não posso cair dentro do redemoinho e girar com sua penúria, mas, poder rir em meio ao terrível destino. Se eu mereço, então irei sem que aqueles metidos se achem melhor por serem os corretos nessa.

- Aí é que está, minha jovem. Eles não são. Alguns podem lhe dizer que todo o seu pesar prova o quanto estás caminhando em caminhos tortuosos, mas, todos os humanos outos seres estão apenas aprendendo aqui, cada um, possui sua própria jornada. Nem todos tentam fazer o melhor, no entanto, você sim. Não cobre-se como fizeram contigo e aos outros. Você merece ser feliz no fim disso tudo. Seu caminho, seu polimento a cada dia... é algo bonito. - Como a brisa sussurrante, ela escutou, em seu coração as palavras de que precisava. Seu peito calejado, não sabia mais se deveria continuar a acreditar e machucar-se, porém, tudo parecia se encaixar de forma sutil, fazendo-a refletir uma segunda vez.

Fenriel, observando a uma certa distância, porém, observou uma cena que lhe trouxe uma momentânea grande dor em seu peito. Seus próprios filhos, que acreditavam e davam tudo de si para alegrá-lo todos os dias, mesmo com as distorções de terceiros, estavam queimando a árvore que foi o símbolo de sua proteção com suas crianças, os seres viventes. E no meio disso tudo, nas sombras, alguém ainda sorria com tudo isto. Ele não era um ser infernal, pelo contrário, era um humano. A garota que estava tentando resgatar, no fim, tinha seu destino ligado à este, mesmo que impusesse sua melhor luta contra isto. Para ter tal vil futuro, mesmo com a sua ajuda, mesmo com o auxílio de todos, tornou seu coração desesperançoso. Ele orou aos céus, esperando que a origem de todos o ouvisse.

| Ponto de Vista: Claire

Desde que eu precisei executar minha mãe adotiva, a imperatriz Le Fay, não tenho tido paz alguma. As responsabilidades apenas aumentam, e, eu me vejo perto de me estilhaçar outra vez. O problema, é que todos precisam de mim, precisam que eu seja um diamante que não quebrará no caminho. Será que é assim que você também se sente, Siegfried...? Porém, eu entendo. Por muito tempo, você não teve ninguém para contar além de si. Eu sempre tive muitos servos e cidadãos comuns ao meu dispor, sempre perguntando-me como eu estava. Caso não parecesse bem, eles diziam que a deusa sempre iria guiar todos os meus passos, e que, eu não deveria me preocupar. Tal noção me carregou por muitos anos, até, eu descobrir que há uma grande parcela de cidadãos que passaram por tantas coisas sendo ignorados por todos. Não culpo aqui nenhuma divindade, mas, o mundo apenas não era o que me fizeram pensar que ele era. Eu fui tão enganada por tantos anos, pensando que o mal só viria para aqueles que o faziam, mas, eles eram justamente os que mais colocavam quem não merecia em situações catastróficas. Era o oposto do que o Papa Gregorius queria que todos nós pensássemos.

O violino que me pertenceu, ainda está intacto em meu quarto, todos os concertos escondidos que eu e o o príncipe fazíamos apenas acompanhados de pequenas fadas, são momentos em que eu gostaria de estar, embora eu saiba que não devo me apegar por demasia ao que já passou.

- Ainda se segurando em fúteis lembranças, Claire? Eu não esperava isso da grande pensadora dos "grandes aventureiros".. - Seus cabelos brancos espetados como sempre, está aí uma face memorável.

- Caso não se incomode, eu queria me focar no que foi bom, mesmo que não tenha durado muito. - Ele permaneceu na janela, de pé ali. - E eu acredito que, para ter vindo aqui, você ainda tenha um pouco de apreço à nossa póstuma amizade.

- Amizade, isso não me salvou naquele dia. É o poder que importa quando necessário, não algum apego que pode ser perdido a qualquer instante, a qualquer momento inesperado. O poder é quem controla tudo neste mundo, princesa Le Fay, quando irá entender isso?

- Eu não quero me tornar como àqueles que escravizaram meu país. Eles sim usam sua influência e tudo ao seu alcance pra controlar tudo. Não posso me tornar nada remotamente parecido. - Meu rosto contraiu-se, ele estava gélido, imóvel, como eu esperava.

- Não dirá o mesmo assim que estiver à beira da morte. Todos nós partimos sozinhos, sua visão "otimista" não mudará isso. Adeus, fadinha.

E em um piscar de olhos, ele não estava mais lá. Teimoso como uma pedra de gelo. Será que iremos ter a chance de lutar outra vez? O "poder da amizade" pode ser um conceito usado mais que possa ser aplicado em uma maneira realista, porém, os verdadeiros laços nos mantém neste mundo. E um dia, talvez, você perceba isso. Não há problema em receber ajuda, mesmo que esteja tão acostumado a se virar. E eu acredito, que a união de todos nós ainda salvará este reino.



















Às Estrelas E Ao Abismo Onde histórias criam vida. Descubra agora