16. Faíscas do Passado

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| Narração :

A garota lunar, ao observar a lua por mais uma noite mal-dormida, teve o velho costume de procurar algum conforto na grande esfera celeste, mesmo que lhe dissessem que isso fosse deveras excêntrico até mesmo para um mago. Era estranho, mas ela parecia guiá-la, desde quando era pequena. Olhar para a luz lunar a enchia de certeza, de que havia algum guia em meio a tanta confusão. Quando ninguém estava por perto, a jovem de cachos dourados em sua mente, suplicava a sua velha amiga.

- O que eu faço agora...? Não quero mais vê-lo, nem de longe. Depois de descobrir a verdade sobre Kuroshinju Shiori, sobre tudo o que houve anos atrás... eu não sei se consigo nem mesmo estar em sua presença. Porém, a Sophie, eu sinto que ela não está em boas mãos. O que seria a melhor escolha a ser feita?

Uma lembrança lhe ocorreu. No dia em que conheceu Sun e seu mestre, Xuanzang. Ele era um macaco ainda indisciplinado, diferente de quem seu pai já fora, que naqueles meses, estava aprendendo os valores que seu velho não teve tempo de lhe ensinar com o paciente monge.

Ela, era uma inexperiente estudante de magia, ainda tendo a experiência fora do palácio dos estudiosos como um grande mundo novo para si. Seu pai havia a ensinado em casa, de forma diligente, tudo o que ela precisasse saber sobre o mundo que os cercava. Quem os criou, os elementos, toda a origem dos universos. E sua curiosa mente absorvia toda essa informação, ainda que, não tivesse tido ninguém de sua idade para compartilhar esta com. Em seus sonhos, pequenas estrelas escutavam todas às suas histórias, e ela as abraçava, contente de ter pelo menos a presença de mais amigos em seus sonhos. Em um dia, um livro em especial lhe chamou a atenção: possuindo uma maga de cartola e um pequeno gato como sua assistente, as cores vibrantes e sorriso da menina ilustrada a deram o impulso de pegá-lo em suas mãos, folheando página por página, mas ainda, em sonhos, em livros, estavam com quem ela poderia se distrair ou conversar. Imaginava como seria de fato o grande universo que lhe foi apresentado, mas, Yansid sempre prezava demais pelo melhor de sua filha, ao ponto de exagerar em temer os perigos que poderiam ser causados à ela.

- Ainda não. Não tenho tempo de acompanhar, Asha, e, tem muita gente perigosa lá fora. Você fica aqui, tá bom? Aproveite e se atualize em seus conhecimentos de astronomia. - Sua voz ainda rigorosa ecoou pela biblioteca, o pesado centafolho foi capturado por ela, mesmo que com muito esforço, para que o homem não ficasse bravo.

- Não se preocupe, pai. Estudar é importante... - A menina suspirou, logo já começando a voltar toda a sua imersão no tópico à frente.

Anos depois, cada vez mais inquieta, decidiu outra vez confrontar o homem sobre ter sido testada por tantos anos sobre tudo o que lia e nunca ter sido permitida simplesmente ter contato com o exterior. As desculpas já estavam esfarrapadas, elas repetiam-se e o mais velho, nem mesmo escondia seu nervosismo ao raspar sua mão em sua barba. Então, ele precisou revelar que as habilidades dela haviam sido usadas para pesquisa, por muito tempo, e que, eles haviam descoberto muitas coisas valiosas em seus sonhos, sobre a conexão com outros mundos vizinhos. Ela, era uma chance em cem em poder ter uma perfeita sincronia com seres de diferentes planos. Porém, algo deixava-o inquieto, e este era local o dos espadachins espectrais, um dos pontos de ida para todos os seres que faleceriam em Yamato e suas redondezas. Dizem que, alguém que não era dali, mas que foi assimilado como se fosse, infiltrado por sua facilidade em ganhar confiança de muitos, estava com o objetivo ambicioso de descobrir uma forma de controlar aquele pequeno universo em que se encontravam, tal qual possuía uma grande ligação com muitos outros. Daisuke Ryū havia ganhado até mesmo um posto de liderança no Shogunato da família Kuroshinju, por suas extensas habilidades que muitos nem mesmo podiam identificar, além de sua habilidade de mesmerizar quem o conhecia.

Alguém como ele... lhe fazia querer esconder sua pequena estrela, ainda que, ele tivesse que aliená-la por toda a sua existência, como julgou necessário.

Isso não impediu que o destino, de certa forma, beneficiasse o misterioso homem, talvez de forma relutante. Ele não desistia de forma alguma, tendo seu objetivo como maior que tudo e seus meios de chegar lá bem traçados. Caso não houvesse a oportunidade no momento, ele logo esperaria o momento perfeito para criá-la. E assim, conseguiu deixar o emissário do Imperador de Jade em dívida consigo, após resgatar um jovem símio sob os cuidados deste de mais uma das diversas enrascadas que este se enfurnava.

- Eu não confio muito nesse cara, senhor. - Enquanto descansavam abaixo de uma clareira, o aprendiz revelou suas suspeitas. - Ele parece meio amigável, mas de uma forma estranha. Posso jurar que vi algo maligno naquele sorriso "gentil" dele, e não só nisso, mas seus olhos, eles pareciam ser mais de prepotência que de cordialidade, como se nos visse como algo abaixo dele.

O monge balançou a cabeça, ainda incrédulo sobre a presumida falta de gratidão de seu aluno.

- Creio que não tenha aprendido sua lição ainda, Sun. Não tente passar a culpa de suas falhas para outro, torne-se responsável por seus erros, bem como comemora seus acertos. - Suas mãos juntas atrás de suas costas, o veterano seguiu caminho. - Pense nisto enquanto meditar quando chegarmos ao topo.

A montanha mais alta em Ziyou, esta que diziam ter as portas para os próprios céus, retirou o fôlego do garoto que fora apenas um causador de problemas para muitos que encontrou. Ali, sentiu-se conflitante em roubar os pêssegos do pomar de Jade, a fada que cuidava das frutas da imortalidade. Era a primeira vez em um certo tempo desde que alguém confiou nele, então, pra quê arriscar?

- Curioso sobre como seria viver para sempre, aprendiz macaco? - Com aquele velho tom casual e uma chegada discreta, o shogun tinha-lhe surpreendido, já era a terceira vez que o assustava daquela forma, e ao mesmo tempo, o irritava por parecer lê-lo muito bem.

- E o que isso tem a ver com você? Não enche. - Como um ágil vento a perambular pelo horizonte, Jin pulou de degrau em degrau para cima, onde as nuvens, já douradas no céu, marcavam a aproximação do final do dia.

Sentindo uma grande satisfação ao ver tudo entrar nos conformes mesmo que o jovem não confiasse nele, prosseguiu, sem demorar deveras, até estar enfim na presença do dragão dourado, a maior autoridade dali. Como cortesia, fez uma reverência à este, ele os mostrou todo o perímetro de seus aposentos, até chegarem no jardim de sua esposa.

- Então vocês que vieram de longe para cá? Eu não esperava ver novas faces hoje. - Ela sorriu, seu majestoso hanfu róseo complementava bem seus olhos e longos cabelos verdes.

Aproveitando que todos estavam distraídos conversando, o novato não resistiu, então, mandou um de seus clones, recém-feito, sorrateiramente surrupiar o pêssego mais apetitoso que encontrasse. Porém, ainda tentado, ele quis o segundo mais delicioso e rosado. Sua outra duplicata, surgindo por si só, quis outra. Quando os adultos mais distantes menos esperavam, uma grande confusão estava sendo causada no horto da imperatriz. Sem nem mesmo perceber, o garoto naquele dia já marcou-se como um grande alvo de suspeitas do dracônico monarca. O desfecho de tal história, porém, era negado à mente de Asha, nem mesmo ela gostaria de se recordar de tudo o que envolvia o espadachim.




























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