09. Fada Carmesim

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| Ponto de Vista: Siegfried

Após este miserável tentar me enganar e me apunhalar pelas costas, eu terminei com sua insignificante existência, em apenas poucos cortes de minha lâmina, retirando dele o fragmento que precisava. O rubi neste cordão, que pertencia ao meu pai, agora abre o portal para o Submundo, onde poderei enfim tomar o lugar que meu velho poderia muito bem ter tomado para si. Pulsante, o caminho se abre, eu digo adeus à essa torre que mais cedo os deuses abominariam, certo de que poderei derrotar tudo o que vier assim que receber o poder caótico pertencente ao mundo inferior.

| Narração:

Ao se depararem com o estranho corpo corrupto que agora era mais alto que as ruínas do grande castelo, os jovens aspirantes a heróis lendários enfrentavam os mais diversos seres de fogo para prosseguirem, desbloqueando passagens e descobrindo mais sobre a história conturbada de Draconis. Pelo visto, todas as criaturas, até mesmo as que foram benignas na guerra, haviam se transformado em fantasmas rancorosos, que agora habitavam o interior da orgânica construção como uma mente coletiva. Era de fato um trágico destino, mas a cada vez que o elfo tocava sua ocarina assim que cada um era derrotado, suas almas iam embora sem mais nenhum peso, como pétalas das mais diversas cores. A cada vez que subiam um andar, também, Moreau tornava-se mais e mais atônita, assim como Alain. Considerando a forma como foram criados, era de se esperar que um local como este lhes daria calafrios.

- Eu ainda posso prosseguir, sei que a deusa nos guia, então não temo às trevas. - Leone tentou disfarçar seu nervosismo, ainda que em seu interior, ele ainda sentisse que ali receberia seu castigo por falhar.

Fenriel juntou suas mãos às dele para aliviar sua ansiedade.

- Está tudo bem, meu jovem. Você não está sozinho. E se precisar, cuidarei de vocês aqui. - Direcionou seu olhar para Sophie, que assobiou, tentando fingir que não era com ela.

O portal estava próximo, enquanto isso, lá fora, o céu aparentava não nevar de forma tão brusca quanto antes. Perto do penúltimo andar, o grupo encontrou-se mais uma vez com ela: a imperatriz das fadas, que agora, estava mudada, em aparência e comportamento. Ela caminhou com arrogância e graça a cada passo, grevas metálicas substituídas por saltos vermelhos, seu vestido mais similar a de uma rainha, ele parecia ter sido chamuscado pelas chamas. Seu olhar era coberto por uma estranha máscara de borboleta.

- Não estão temendo, ora, que valentia. - Sua voz tranquila, ainda que depreciativa, deixou-os em alerta, eles em quase unanimidade apontaram suas armas para ela, exceto por sua filha. - Ah, Claire. Eu criei você para ser tudo o que eu queria ter sido, pelo visto, isso ainda não me gerou o resultado desejado. Que desperdício.

E assim, ela passou a criar chamas por todo o quase estreito cômodo, o calor era difícil de se aguentar, exceto por Makena e Claire que ainda alternavam-se para golpear a borboleta flamejante, seus projéteis mágicos, eram de intensa magnitude, começando a fazer a princesa derreter, enquanto a guerreira, tinha marcas de queimadura por todo o torso e braço. Atordoados, Sophie, Jack e Alain tentavam resistir, enquanto Sun estava ainda pensando no jeito perfeito de aproveitar as habilidades de todos. Ele começou a distrair Morgan com seus clones, enquanto ela tentava carbonizá-los, eles evadiam logo antes de serem atingidos, tornando-a ainda mais focada em matá-los, mais que em pensar na forma de atingi-los em pontos vulneráveis como antes.

- Sua mocréia! Eu tô aqui! - Fez uma careta engraçada, antes de derreter em cinzas.

Ela deu um sorriso de satisfação ao perceber que tinha acabado com um, logo, focou-se em Alain, ainda confiante de que poderia levar logo após a garota da cartola e o pistoleiro. Porém, o posterior cavaleiro defendeu os dois com seu escudo, este agora fortalecido pela clareza do conhecimento.

- A senhora me enganou, como fez com muitos outros. Eu nunca parei pra pensar neles, apenas no meu próprio ponto de vista. Se funcionava pra mim, pra quê me preocupar se era a mesma coisa pros outros? Eu sentia que a benção viria para os merecedores mais verdadeiros, mas, muitos outros merecem tanto quanto eu, quanto nós. E eu irei lutar para que é isso o que tenham.

Sem pensar duas vezes, ela reapareceu dentro do campo de proteção de Leone, agora também envolvida pelo escudo.

- Não, meu garoto. Aqueles que não são justos o suficiente apenas perecem como deveriam. E agora, eu lhes trago o julgamento-

Os olhos do elfo brilharam, sua ocarina tocou uma canção na qual pôde enfim paralisar a mulher, ela relembrou-se de todos os momentos com seus amigos e sua irmã, o sacrifício dela lhe voltou à mente, fazendo com que ela se teleportasse para o artífice, erguendo-o pelo rosto, afundando suas afiadas unhas nas bochechas dele. O macaco percebeu que isso já representava um sinal alarmante para qualquer pensamento rápido que pudessem ter no momento.

- Quem pensa que é para imitá-la, dragão miserável? - Ele mal pôde se mexer, ela apertou ainda mais sua mão, fazendo-o parar de protestar. - Te peguei.

Ele esforçou-se para falar, mesmo com a dor e a dificuldade em se mover.

- A folha pura e sagrada da árvore da vida, espalha suas raízes pelo mundo. Livre nossos lares da escuridão, guie-nos para a claridade. - Agonizou ao sentir o sangue escorrer de sua boca, antes de desmaiar.

Sun conseguiu apanhar Fen, antes dela atacá-lo , para desta vez, silenciá-lo para sempre. O bastão de Jin pôde bloquear as garras flamejantes da colérica oponente, até que, ela começou a gritar, como se agonizasse por uma dor interna. Suas memórias passavam por seus pensamentos, ela percebeu o que havia se tornado. Gregorius queria torná-la não uma guerreira da pureza e justiça, e sim, um experimento para estudar energia dracônica. A que ela odiou por anos. Tomada pela loucura, ela começou a incendiar tudo ao seu redor, até que Claire se viu sem escolha, a não ser acertá-la em seu coração. A jovem fada foi para a linha de frente, sem se preocupar com as consequências, fechou seus olhos, para abri-los percebendo que estava protegida pela barreira do ex-cavaleiro sagrado. Ela pôde acertar a imperatriz em seu coração, este que cristalizou e explodiu em fragmentos brilhantes. A princesa então pôde sentir lágrimas dentro de si, não percebendo rachaduras em seu corpo uma segunda vez.

Por ter ficado chocada o bastante para ficar plantada ali após a luta por sólidos minutos, forçaram Sophie a voltar, mesmo que ela tivesse reclamado o caminho todo sobre não ter tido ainda uma luta épica, enquanto os outros adentraram o Submundo, antes que sua abertura se fechasse.

De fora janela, alguém ainda esperava, observando de forma diligente enquanto não havia mais ninguém por perto.

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