15. Enganação queima como o fogo.

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| Ponto de Vista: Sophie

Após despertar, eu senti uma forte presença de alguém. Era uma que não parecia humana, então mantive minha atenção aumentada a qualquer movimento. Ele então apareceu, portando um tipo de kimono preto, por cima um manto branco e violeta rasgado. Eu outra vez, não pude ver seu rosto exatamente, já que um grande chapéu de palha o cobria quase todo. Em mim, uma chama se fez presente, então não soube o que pensar neste momento. Essas duas energias são conflitantes e não parecem provir do mesmo ponto. O que seria isso?

- Você é a outra parte de Asha, não é? - Ele abaixou para ficarmos na mesma altura, que arrombado. Não curti a zombaria, seu esquisito. - Acredito que possa ter sentido que eu estava com você quase todo o tempo.

Credo, então por que é como se fosse diferente todas as vezes? Uma hora, era como estar num daqueles jogos de terror de bixo, outros, apenas uma invasão de privacidade que eu preferia pensar ser só coisa da minha cabeça. Eu estou ainda sem entender porra nenhuma.

- O que tu quer, filhote de jaburu?

Ele se levantou de vez e ficou parado à minha frente, talvez pensando em como contar a próxima lorota estilo Naldo.

- Eu quero que me ajude a convencer ela. A "garota estrela". Desde quando tivemos que seguir caminhos diferentes, eu quis reencontrá-la, mesmo que não tenha tido uma boa abordagem para isso até agora. Sun é seu amigo, mesmo após tanto tempo, então, eu não tenho chance alguma de conseguir recuperá-la, de que ela me escute depois de tudo o que eu fiz.

Ah, então ele quer recuperar sua Julieta, huh? Se foi vacilão perdeu, aquela menina parece muito gentil pra um sujeitinho ardiloso que nem esse, eles não vão se dar bem nunca. E, se somos realmente a mesma, eu é que não quero um cara que nunca é transparente com suas intenções.

- Que pena, né? - Gargalhei, pude ver que a boca dele tinha se contorcido para baixo, opa, parece que eu realmente antingi um ponto vulnerável. - Então a lenda do macaco que foi selado há centenas de anos foi causada não porque ele queria invadir os céus, mas era você? Nas crenças do meu povo, quem queria isso era obviamente maligno, acha que eu não vou desconfiar de ti também? Quem sabe não são o mesmo.

Ele zombou, o ar saiu de suas narinas acompanhado de uma risada contida.

- A árvore sagrada não me repeliu em nenhum momento, nem mesmo os cânticos da Catedral, nem mesmo a presença da deusa da vida. Porém, você não estava lá naquele momento, então não pôde perceber nada além de suas próprias concepções forjadas por intensos medos e inseguranças. - Um sorriso de canto estava estampado na cara desse palhaço que pensou estar esfregando minha cara no chão com sua psicanálise barata.

- Quer saber? Que seja. Eu só sei que seus motivos pra conseguir a Asha não são tão bonzinhos quanto está dizendo. Então vê se pega seu chapelão e vaza daqui, mon ami.

Ele permaneceu ali, até mesmo se sentou perante à sombra da árvore.

- Eu não sou do tipo que vai embora de mãos vazias, senhorita Moreau.

Eu senti a mesma chama dentro de mim abrasar meu interior, que diacho é isso? Noir apareceu em minha frente, emanando um calor gigantesco, ela estava distorcida, parecia ser uma pequena demônia. Sem perder tempo, eu pedi aos céus que me guiassem, mesmo sentindo que não mereço seu auxílio, então, disparei minhas cartas contra a gatinha criada de meu próprio pode imaginário. Espera... espera! Já que eu tenho uma habilidade de canalizar meu próprio interior para o exterior, formando projeções, então tudo o que senti... foi isso! Porém, pareciam ser terríveis pesadelos, por conta de tudo o que passei. Isso é uma ilusão! Meus projéteis a atravessavam, enquanto sua presença ameaçava retirar minha balança e percepção.

- Qual é, filhota? Nós duas sabemos que isso não é verdade. Tu não é isso que tá sendo mostrado pra mim. Verdadeira Noir, eu preciso da sua assistência!

Para a minha surpresa, eu agora estava envolvida em chamas, como uma gata flamejante, então sem interrupções, fui em direção ao samurai enganador, porém, eu não conseguia acertá-lo nenhuma vez, sempre sendo enganada por tudo ao meu redor. Odeio mentiras, odeio mesmo! Me fizeram acreditar em uma por anos da minha vida, assim que eu colocar minhas mãos naquele filho da mãe, eu vou-

- GAAAAH! - Ainda mais furiosa, eu pude perceber sua localização verdadeira, então, disparei para rasgar sua garganta com minhas garras afiadas. A adrenalina percorrendo todo o meu ser me impedia de pensar em quaisquer consequências, se eu falecer agora, espero que não seja em vão. - AGORA EU TE PEGO, INFELIZ!

Sem o mínimo esforço, ele captura meu pulso, o fogo corroendo-lhe não parecia o incomodar tanto. Então, foi que seu chapéu voou para longe, revelando seus olhos violetas sem nenhuma faísca de preocupação neles.

- Sophie. Você acha mesmo que pode me machucar?

Eu chacoalhei meu braço, mas, não conseguia me soltar de jeito nenhum. Mesmo com a pele chamuscada, ele não hesitava ou demonstrava nenhuma dor. Eu não entendo, não entendo mesmo. Mas o que tá acontecendo, porra?

Foi aí que, um olho gigantesco, vermelho, de esclera preta, como o de alguma máquina, tomou conta de todo o céu, que anteriormente, era apenas um belo azul em conjunto de nuvens acinzentadas e dispersas. Distraída pela imagem irreal, eu não notei uma agulha perfurar minhas costas, até eu cair já sem energia nenhuma na grama, sentindo meus olhos e meu corpo inteiro mais leves que um balão.

- Eu não queria que fosse assim, mas você não me deu outra escolha sem ser removê-la do caminho. Me perdoe, Sophie.

E assim, eu fui deixada ali, acompanhada de alguém que não pude ver, a não ser por suas botas pretas perto do meu alcance de visão.

- Agora eu poderei ter uma análise melhor de você, como esperei desde que lhe vi invadir o laboratório. Suas habilidades podem ser úteis.

Eu reconheço essa voz. Esse é o... responsável pelo lírio que deixou o Alain daquele jeito! Merda, eu preciso levantar! Todo o esforço físico e mental não foi capaz de me tirar dessa. Lutar para existir é o que o destino tem para mim, mas, isso não significa que irei apenas aceitar tudo como está. As brasas que correm em minha alma, elas são um resquício da chama dos meus antepassados. E como eles, eu seguirei, mesmo que me custe tudo.





















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