Capítulo 34

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Ponto de Vista de Gabriel

Me mexo na cama e esbarro na minha mulher, mulher que um dia eu nutri um sentimento por, que um dia já devotei tudo de mim à ela, e hoje, nem um resquício disso há. Temos uma relação horrível e só estamos juntos pelo Ângelo, "nosso" filho. Porquê as aspas? Eu duvido que ele seja meu filho.
Não há um dia que não penso em virar as costas e sumir de vez, já não me sobra nada nesta casa. Nosso grupo de amigos se separou desde que o Victor cortou relações connosco, porque supostamente lhe abandonamos durante o luto, mas eu tive meus motivos. Eu também estava de luto. Luto pela morte da mulher com quem eu mantive relações extraconjugais. Não há um dia sequer que eu não recordo de como eram bons os tempos em que tudo estava bem. Quando eu acordava todos os dias e tinha um sorriso genuíno para tirar mesmo sem motivo aparente, quando minha mulher era completamente fiel à mim. Era tudo certo.
Hoje estou aqui a partilhar a cama com uma mulher que não amo, apenas pelo "nosso" filho. Que merda! Me sinto observado e me viro para o lado, vendo Michelle acordada e com o olhar fixo em mim.

Gabriel: O que foi? (Pergunto grosso e sem paciência)

Michelle: Nada, no que tanto pensas? Todos os dias ficas assim, meio aéreo. O que se passa?

Gabriel: O que se passa é que eu quero ir embora daqui. Estou cansado de viver esta mentira e ainda por cima contigo.

Michelle: Mas o que foi que eu te fiz? (Ele se faz de incompreendida)

Aqui em casa é todos os dias a mesma coisa, a mesma discussão sem sentido.

Solto um riso sarcástico.

Gabriel: Tu achas, acreditas mesmo que eu penso que o Ângelo é meu filho? Achas mesmo que eu vou cair na tua mentirinha?

Michelle parece receber uma facada no estômago de tão paralisada que está. Eu nunca havia lhe confrontado com esse meu pensamento.

Michelle: Mas ele é teu filho. Porquê não fazes teste de DNA e verificas? E porquê achas que eu te traí? Por acaso tu me traíste?

Fico em silêncio com a descarga de perguntas.

Michelle: Responde. Gabriel, me responde.

Ela pede com os olhos cheios de lágrimas que não demoraram a escorrer pelas bochechas.
Eu continuo em silêncio e ela começa a soluçar. Ela nega com a cabeça e se levanta da cama em passos rápidos. A porta é aberta uma voz de criança soa no quarto.

Ângelo: Mãe? Mãe está a chorar?

O menino pergunta todo preocupado com a mãe dele. Sempre que lhe vejo sinto um ódio enorme por me recordar da Selena, minha filha que ficou nas mãos do Victor porque eu e Luana combinamos assim. Não queria problemas para o meu lado.
Sou arrancado dos meus pensamentos quando ouço o som de rodas rolarem no chão do quarto.

Ângelo: Para onde mãe vai?

Michelle: Vamos embora, filho.

Nem faço questão de impedir, deixo ela ir embora com o filho dela que só chorava por não entender nada. Alguns minutos depois, a porta da frente é aberta e fechada com força, em seguida o portão e finalmente, minha casa estava silenciosa. Já não preciso ir embora, já tenho a paz que tanto desejei. Sem incómodo de choro de criança, sem barulho de mulher para aturar, apenas eu.

Na Sombra da CorrupçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora