Capítulo 3

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Ponto de vista de Victor

Estou, neste momento, no funeral de Luana. Não acredito que ela me deixou. Nunca achei que iria terminar desta forma, sempre achei que iríamos morrer juntos, velhinhos, com os cabelos já brancos e as rugas, usando bengalas para nos sustentar.
Eu sabia que não tinha superado sua morte, mas achei que seria capaz de conter minhas lágrimas no momento de seu enterro, mas comprovei o contrário, hoje, neste preciso momento, estou aos prantos enquanto ouço o discurso de sua mãe, juntamente de seu pai, meus sogros, acho eu, não sei como chamar eles agora que Luana... Ah, custam-me a pronunciar as palavras, vocês entenderam onde eu quero chegar. Ouço o discurso dos pais, que mal conseguem falar devido ao choro incontrolável. Eles estão inconsoláveis. O seu discurso foi longo, até que ouço suas últimas palavras:

Sogro: Ela era nossa filha, era mais do que uma simples filha. Ela sempre foi muito importante para nós, desde o dia do seu nascimento... E sempre terá um lugar especial nos nossos corações, mesmo que ela esteja a sete palmos. (o velho diz, já sem conseguir aguentar o choro e desaba no ombro de sua esposa)

Sogra: Nós te amamos muito filha. Um beijo (ela se aproxima e beija o cadáver da filha, após isso, ela sussura algo no ouvido da filha que foi inaudível)

Enquanto subia ao púlpito e parava na frente de todos, prestes a discursar, pensava na acção da minha sogra. Tudo bem que ela está emocionada pela filha, mas beijar cadáver é exagero, devo admitir que foi repugnante, apesar do público daqui ter se emocionado e aplaudido. Todos estavam bem apresentados, bem arranjados, pareciam ter saído de uma revista, diferente de mim. Eu não dormia direito desde que matei Thiago. Eu não me arrependo, admito ter sido satisfatório, ver aquele sangue jorrar, ouvir seus gritos por socorro, aquela expressão aterrorizada, Tudo foi excelente, eu poderia ver de novo. Mas de todo o processo, o mais prazeroso foi o que fiz com o corpo. Usei um velho serrote que tem lá em casa, esquartejei o corpo, e queimei cada pedaço com prazer. Senti meu coração e minha mente relaxar, afundar em um mar de conforto, almofadas. Foi tão bom. Mas lembrei-me que estou no funeral e tenho que discursar.
Engoli meu choro e meus prantos, assumi uma postura firme e pus-me a discursar:

Victor: Meus queridos amigos e familiares, boje nos reunimos para honrar a memória de uma mulher extraordinária, minha amada esposa e a mãe da nossa preciosa filha recém-nascida. Sua partida deixou um vazio em nossos corações que nunca será preenchido, mas também nos deixou com lembranças preciosas que sempre nos reconfortarão.
Ela foi o amor da minha vida, minha companheira fiel, a mãe dedicada da nossa pequenina. Juntos compartilhamos momentos de alegria, de tristeza, de superação. Ela era a luz que iluminava os nossos dias mais sombrios, a força que nos impulsionava a seguir em frente.
Agora, diante da dor da sua ausência, resta-me a responsabilidade de cuidar da nossa filha, de ser pai e mãe ao mesmo tempo. Uma tarefa árdua, mas que encaro com coragem e determinação, pois sei que é o que ela desejaria para nós.
Minha querida esposa partiu cedo demais, mas o seu legado de amor, bondade e generosidade viverá para sempre em nossos corações. Que possamos encontrar conforto na certeza de que ela está em paz e que um dia nos reencontraremos.
Que a sua luz continue a brilhar sobre nós, guiando-nos pelo caminho da esperança e da fé. Que a sua memória nos inspire a sermos melhores pessoas, a amarmos incondicionalmente e a valorizarmos cada momento ao lado daqueles que amamos.
Descanse em paz, minha amada esposa. Seu amor será eterno em nossas vidas.
Obrigado a todos por estarem aqui hoje para compartilhar conosco essa despedida.

Depois disso, fizemos o restante da cerimônia, alguns familiares aproximaram e me questionaram sobre a filha. Acabei de recordar que ninguém sabia, além de mim, Thiago, e aqueles outros lá, que já não mantenho contacto. Expliquei a situação toda e eles assentiram.
Terminada a cerimônia, voltei para casa. Olhei com atenção para a porta e notei uma figura feminina, achei estranho. Quem que me visitaria à estas horas da noite? As amigas da Lua sempre que vêm cá a casa estão juntas, logo não são elas. Quem será? Estacionei o carro e caminhei em direcção a porta com cautela, estava pronto para usar meu canivete que estava no bolso. Quando cheguei mais perto, percebi que era a enfermeira maluca lá do hospital que me sugeriu terapia.

Na Sombra da CorrupçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora