𝒜𝑙𝑖𝑎𝑑𝑜𝑠ִֶָ࣪☾.

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Estava escurecendo.

O anoitecer esperava ansioso pela saída do crepúsculo no inverno, mas resolveu poupar os japoneses de uma tempestade de neve naquela noite. Uma clemência da natureza sempre era bem-vinda.

[Nome] estava no último andar do edifício escuro no qual fora “convidada” a se estabelecer por tempo indeterminado.

O quarto era de um nível exacerbado de extravagância. Até mesmo o cheiro era sofisticado.

Não que ela estivesse usufruindo bem do seu olfato. Seu nariz não estava em sua melhor forma enquanto a garota chorava.

[Nome] enfiou-se mais fundo debaixo das cobertas, tentando o seu melhor para fazer seu corpo estúpido parar de tremer. Sua cabeça doía tanto que ela conseguia sentir sua própria pulsação, e aquilo era um inferno.

[Nome] não estava com medo, não estava assustada. Ela sabia bem o que estava acontecendo.

Era uma crise de abstinência. Maldito fosse…

Ela só conseguia se maldizer, e amaldiçoar tudo à sua volta por estar passando por isso em um momento como aquele.

Os narcóticos foram uma presença recorrente na adolescência de [Nome], trazendo nada mais que prazeres momentâneos e autodestruição. Hana deu Caim para a irmã sob a condição de que ela usasse o cão como sua nova âncora, tentando criar uma responsabilidade afetiva com ele que ela não tinha nem consigo mesma.

Ela cumpriu o acordo… Se entupir de tarja preta não era a mesma coisa, não é? Claro que era. Essa mentira não convencia ninguém. [Nome] estava tentando parar, Deus sabe que estava. A mulher chegou a jogar todas as pílulas no lixo, mas voltou pouco tempo depois para recuperá-las, se sentindo patética. Nas últimas semanas ela havia se entupido com dezenas de doces, o que tinha funcionado até agora.

Mas ali estava ela — sem doces, sem açúcar… Sem a sua âncora adorável de quatro patas.

O que mais doía era a saudade de Caim, o ser que ela mais amava no mundo. Tinha certeza de que ele estava bem, provavelmente brincando com seu sobrinho. Mas ela queria vê-lo mais do que queria respirar.

[Nome] sentia que sua língua podia petrificar a qualquer instante por causa da secura em sua boca, tentando o seu melhor para continuar engolindo sua saliva.

A garota teve um sobressalto ao ouvir um estrondo próximo à ela, e mesmo estando coberta dos pés a cabeça, ela sabia que a porta tinha sido aberta com um chute.

Ela ofegava de forma audível, tendo certeza que podia ser escutada no corredor.

Péssima hora. Péssima hora, péssima hora….

A garota pálida fechou os olhos com força, mordendo o lábio inferior com tanta força que sentiu o ardor quando a pele sensível irrompeu.

O lençol foi tirado de forma “gentil” de cima dela, e apesar de estar na situação mais humilhante possível, sua curiosidade a fez abrir os olhos.

A luz amarelada do corredor a fez fechar os olhos novamente por um breve instante, tentando se acostumar com toda aquela luminosidade abrupta. Seu quarto permanecia na escuridão, o que fazia a pessoa que estava diante dela ser uma sombra sem rosto, por estar no sentido contrário da iluminação.

Mas após piscar algumas vezes, ela pôde ver com clareza nada mais do que a cor do cabelo daquela pessoa.

Ela se engasgou com a própria saliva.

O homem esbelto tocou em uma das bochechas de [Nome], pressionando o dedão no local. Ela teve a estranha sensação de que estava sendo analisada, e outra sensação mais estranha ainda — de que ele estava sorrindo para ela.

𝐂𝐥𝐨𝐬𝐞𝐫 - 𝐑𝐚𝐧 𝐇𝐚𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora