𓏲𝄢 𝐂𝐫𝐮𝐞𝐥, 𝐦𝐚𝐬...

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Chegar em casa e não ver Ran era um prazer recém descoberto por [Nome].

A garota quase deu pulinhos para comemorar, mas isso foi antes de ouvir batidas em sua porta.

Inferno.

— Caim — ela se abaixou para cochichar com o husky, temendo que a pessoa do outro lado da porta ouvisse. — Se for o Ran, morda, ouviu?

[Nome] deu um sorriso satisfeito enquanto imaginava Caim abocanhando a perna de Ran e arruinando as roupas chiques dele.

Ela caminhou até a porta em passos lentos e preguiçosos, abrindo apenas um pequeno vão antes mesmo de observar a pessoa que estava do lado de fora, mas o pequeno espaço foi empurrado por uma longa bengala branca que invadiu seu campo de visão sem aviso prévio.

A porta se abriu totalmente, e lá estava ela.

[Nome] havia se preparado para esse dia.

Rika Shirazu. A doce tia Rika, uma mulher tradicional, religiosa e uma torturadora de primeiro nível.

Aquele cabelo loiro que [Nome] tanto odiava agora não era nada mais do que um amontoado de fios brancos perfeitamente penteados para trás, encobertos por um ridículo véu preto que mantinha exposta a única parte que deveria ser tampada — a boca.

O marido havia morrido há anos, anos esses que sequer foram contados por [Nome]. Ela obviamente não se importava o bastante para contar os aniversários de morte de um velho deprimente.

Era irritante como ela insistia em permanecer usando roupas fúnebres, como um eterno luto. Para os outros era tocante — um ato de amor, mas [Nome] sabia muito bem que Rika deve ter tomado um porre do seu melhor vinho para comemorar a tão esperada morte de Hiroto, o homem que batia nela todas as noites.

Os olhos de [Nome] caíram sobre Hana, que estava alguns metros afastada. Era quase como se tivesse medo da reação dela.

Rika ficou parada, batendo sua bengala no chão repetidas vezes como se estivesse esperando algum tipo de saudação. Quando percebeu que [Nome] não iria fazê-lo, suspirou, retirando seu véu escuro.

Os olhos azuis da mulher percorram todo o corpo de [Nome], sua expressão cansada, o cabelo desgrenhado, os braços machucados e as pernas desnudas. A garota não usava nada além de uma blusa folgada de mangas curtas, e seu short jeans surrado. Ela estava em casa, não em um desfile da Victoria's Secret.

— Você mudou bastante. 

Nem mesmo o tempo foi capaz de alterar o tom prepotente daquela vadia.

— Você, por outro lado... — [Nome] salientou, desviando o olhar para o batente da porta em total desinteresse.

Caim, que estava quieto, começou a rosnar ao perceber a mudança na postura de Rika, que não pareceu nada contente com o tom desafiador de [Nome]. Ela havia posicionado a bengala atrás de si, como se estivesse tomando impulso para tentar acertar a sobrinha. [Nome] sabia que era um puro blefe, uma ousadia que ela não teria coragem de cometer por um simples motivo — não era burra.

Anos atrás, ela o teria feito sem pensar duas vezes. Mas ela já estava velha, lenta e incapaz. [Nome] era jovem e forte, então, quem garantia que ela não a batesse de volta?

Os olhos da idosa congelaram em Caim até que seu corpo relaxasse de novo, mas ela não perdeu a oportunidade de dizer:

— Contenha seu cão.

[Nome] riu. 

— O que posso fazer? — ela acariciou as costas peludas dele, sorrindo enquanto o observava. — Caim é um cachorro muito sensível.

— Caim?! — ela ergueu uma sobrancelha, indignada. — Por Deus, eu não vou nem comentar sobre o nome.

— Agradeço. — [Nome] forçou um sorriso, pegando o enorme husky em seu colo.

Hana havia se aproximado sem que nenhuma das duas percebessem, se esgueirando para ficar entre as duas. 

— Então...? — a dona da casa segurou o husky mais forte, olhando nos olhos da tia. — Se a senhora veio para pontuar meu crescimento e questionar minha escolha para nomes de cachorros, já pode ir. 

Rika abriu a boca para falar e Hanajima também o fez, mas [Nome] foi mais rápida.

— Sabe que não é bem-vinda aqui. — sua voz era tranquila, mas sua expressão era cruel. — E no momento, você também não Hana.

Hanajima bloqueou a visão que [Nome] tinha da tia, ficando na frente.

— Meu Deus, [Nome]! — ela colocou as duas mãos na cintura. — Só faltam dois dias para o Natal, ela não veio para te pedir diamantes e nem nada assim, ela só queria te ver!

[Nome] ergueu uma sobrancelha. 

— Ela devia ser grata por eu não tê-la expulsado assim que a vi. — ela riu de desgosto. — Além do mais, eu tenho mais o que fazer.

— Ah, tem? — Rika empurrou Hana para o lado, ficando frente a frente com [Nome]. — Você não tem amigos para receber ou um marido para cuidar, então eu te pergunto... Irá se ocupar com o quê?

De alguma forma, aquilo causou uma fisgada no coração de [Nome].

— Tia... — Hana advertiu, segurando o ombro da mulher.

— Sua mãe, eu, Hana... — começou. — Todas já estávamos casadas na sua idade, tínhamos filhos e maridos que nos encheram de amor e momentos felizes. Mas olhe só para você, bancando a vencedora estando no auge dos vinte e quatro anos com um emprego medíocre, vivendo em uma casa velha e escura tendo um cachorro como sua única companhia. 

Rika sorriu.

— [Nome] — a chamou com um tom irritante e cheio de deboche. — Você não foi capaz nem mesmo de fazer alguém te amar. 

— Tia Rika, chega! — Hana a empurrou para o lado assim como ela havia feito antes.

— Casadas e felizes? — [Nome] ergueu o olhar para a velha maldosa, colocando Caim no chão. — Você diz minha mãe, que foi abandonada assim que eu nasci? — virou-se para Hanajima, franzindo o cenho. — Para Hana, que foi mantida presa em casa por um meses ou você, que era espancada todo dia?

Rika ficou furiosa, ficou tão furiosa que esqueceu sua compostura e partiu para cima de [Nome], mas foi contida por Hanajima, que pedia calma enquanto a mais nova ria do descontrole da tia.

— Isso não muda o fato de você ser um fracasso! Uma mulherzinha medíocre digna de pena! Você nunca vai ser amada ouviu?! NUNCA! 

Caim correu para a porta, [Nome] imaginou que ele fosse voar no pescoço da mulher histérica, mas ele simplesmente passou direto.

Ela se apressou até chegar na porta também, vendo Caim sentado obedientemente na calçada.

Ah não.

Aquele som era inconfundível.

O motor do Rolls-Royce Phantom de Ran era característico demais para ser um engano.

Especialmente se ele estivesse parado bem na frente do carro com os braços cruzados enquanto olhava para ela com aquele sorriso maldito. Como era o caso atual.

Ele se aproximou de Caim, acariciando a cabeça do cãozinho carente.

— Má hora, meu amor?

𝐂𝐥𝐨𝐬𝐞𝐫 - 𝐑𝐚𝐧 𝐇𝐚𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora