☯ 𝕯𝖔 𝖘𝖊𝖚 𝖑𝖆𝖉𝖔

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— Você.

A voz dele era tão sombria quanto ela se lembrava.

[Nome] entrou em estado de choque. Aquilo era demais para ela suportar.

A mulher caiu de joelhos, apoiando suas duas mãos trêmulas no chão sujo para evitar que batesse a cabeça.

Não. Deve haver algum engano, não pode ser ele.

A bile subiu até o céu de sua boca, fazendo com que [Nome] a cobrisse imediatamente. Calafrios rasgavam sua espinha enquanto seus ossos se recusavam a se mover.

Como pude ser tão tola? Como pude ser tão tola?!

Ele estava lá, o tempo todo. Ele estava a observando dia e noite, bem debaixo do nariz dela.

A realização de que ela esteve tão perto dele antes a fez colapsar. É como descobrir que o demônio debaixo da sua cama, na verdade, nunca esteve debaixo dela. Ele estava deitado, bem do seu lado.

Uma mão gélida tocou o braço de [Nome] por cima da jaqueta, a fazendo engasgar com o próprio ar. Ela tentava respirar, mas era inútil. A garota tossia sem parar enquanto Mikey a erguia até que ficasse de pé.

Ele encarou o fundo de sua alma com seus olhos escuros e vazios. A observou lutando por sua vida, sabendo que se a soltasse naquele instante, ela cairia de novo e morreria sem ar.

[Nome] estava sentindo seu mundo ficar sombrio, escuro, sem cor. Ela não conseguia ver mais nada, mas sentiu quando suas costas encostaram na parede fria, sentada no chão.

Sentiu sua jaqueta abrir, e logo depois, uma enorme mão gelada em seu peito, enquanto sua mão foi pressionada contra o peito dele.

Ela se esforçou para abrir os olhos.

— É só um ataque de pânico. — Mikey disse de forma autoritária. — Respire.

[Nome] olhou para a mão pálida e gelada em seu peito, depois para a própria mão no dele.

Mikey flexionou seu peito de forma exagerada, como se estivesse respirando fundo. Os olhos dele ordenando que ela fizesse o mesmo.

[Nome] franziu o cenho, parando de raciocinar. Ela só o observava sem pensar em nada, sem ao menos perceber que já estava respirando.

Ele fechou os olhos por um momento, quase transparecendo uma expressão que [Nome] não conseguiu identificar se era alívio ou exaustão.

Mikey ajudou [Nome] a se levantar, e naquele momento, ela caiu em si novamente.

[Nome] se desvencilhou do toque dele, sacudindo sua mão até que ele soltasse. Ela se afastou até que suas costas encontrassem a parede de novo, se recusando a olhar nos olhos dele.

— O quê…? — ela murmurou tão baixo que ele não conseguiu ouvir. — Por que você fez isso?

Mikey ficou em silêncio.

[Nome] ficou inquieta, olhando para os lados. “Não sei”, era o que ela esperava ouvir dele, assim como ouviu de Ran. Talvez ele fosse outro que quisesse brincar com ela?

— Você me viu antes. — Mikey quebrou o silêncio.

[Nome] franziu o cenho, decepcionada por ele ter frisado algo que ela obviamente já havia notado.

Mikey baixou o olhar até suas roupas sujas, como se estivesse… Procurando alguma coisa nela.

— Você não vai me matar? — [Nome] murmurou.

— Não faça uma pergunta burra. — a expressão mortificada de Mikey se transformou em um rosto irritado. — Odeio pessoas que se passam por tolas.

Certo...

[Nome] quase desviou o olhar, constrangida. Ele estava certo. A pergunta dela era idiota, afinal, se ele quisesse matá-la, já teria feito isso.

— Ran disse que você queria minha cabeça. — tentou se explicar. — Não me culpe por ser cautelosa.

— Ran é esperto como uma parede e astuto como uma porta. — Mikey caminhou até a parede, onde uma grande fenda cumpria a função de uma janela naquele andar. — E é por isso que você está aqui, imagino.

[Nome] engoliu em seco. Ela não se sentia bem ao lembrar dele.

— Eu tenho outras perguntas. — [Nome] salientou, unindo forças para se aproximar um pouco mais. — Perguntas inteligentes, agora.

Mikey a observou por cima do ombro.

— [Nome], [Nome], [Nome]... — ele se virou para encarar ela. — Você é a mulher mais petulante que já pisou na terra.




Longe dali, depois de horas de busca, Rindou finalmente encontrou quem estava procurando.

Ele estava na beira de um lago, sozinho, em silêncio. O habitual penteado elegante não havia sido feito pela manhã, deixando os fios pretos e roxos se unirem a brisa gélida do local.

Ran baforou uma nuvem de fumaça que não durou mais que dois segundos no ar, sendo engolida pelo vento.

— Eu recuperei suas coisas. Ela devolveu tudo. — Rindou disse, se sentando ao lado do irmão.

— Não achei que ela fosse roubar. — Ran falou, finalmente.

Rindou deu um tapinha de cumplicidade no ombro do irmão mais velho, sorrindo fracamente.

— Eu preferia que ela tivesse me roubado. — admitiu. — Roubar de mim teria sido menos cruel.

Rindou franziu o cenho, assustado. Nunca havia escutado Ran falar coisas assim em três décadas.

— Irmão…

— Vamos lá. — Ran o interrompeu, se levantando abruptamente.

Ele jogou o cigarro aceso na grama úmida, pisando em cima dele com uma força desnecessária.

Ela vai me pagar.








𝐂𝐥𝐨𝐬𝐞𝐫 - 𝐑𝐚𝐧 𝐇𝐚𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora