⌘ 𝑪𝒐𝒓𝒐𝒂 𝒆 𝒑𝒐𝒔𝒔𝒆┆

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Ran podia ser muitas coisas, mas não era burro.

Ele estava jogando um jogo perigoso, brincando com a própria sorte por causa de uma situação que ele poderia ter evitado com um só disparo.

O Haitani havia testemunhado a selvageria de Mikey em primeira mão — e mesmo assim não pensou duas vezes antes de ignorar uma ordem direta.

Portanto, ele não mentiu. Usou o corpo de uma das devedoras mais antigas da Bonten para acalmar os nervos do Sano, como um "pedido de desculpas".

— Essa não é a barista.

Mikey observava a postura relaxada de Ran com seu olhar frio, sentado em uma enorme poltrona vermelha. Ele parecia um pouco melhor do que o normal por estar usando uma de suas roupas mais caras — o que era uma raridade. Manjiro dificilmente se arrumava.

— Não, não é. — Ran arregaçou as mangas de sua camisa de grife, não tão cara quanto a atual vestimenta de Manjiro. — Essa é uma mulher que nos deve há... Bem, sete anos? Ou são nove-

— Não me interessa. — Mikey grunhiu, irritado. — A barista. Agora.

Ran assobiou, erguendo as mãos.

— Por que se importar com uma coisinha tão... — o mais velho gesticulou, erguendo a mão no ar enquanto tentava encontrar uma palavra. — Insignificante?

Mikey continuou sentado em silêncio. Ele avaliava cada traço na expressão de Ran, sério.

O silêncio se tornou constrangedor, obrigando Ran a limpar a garganta de forma audível, tossindo logo depois.

— Tudo bem, tudo bem — o Haitani ergueu as duas mãos. — Eu não quero entregar ela.

Mikey apoiou o cotovelo na poltrona, deitando o rosto pálido sobre a palma da mão.

— Eu quero muito saber o que te deu coragem pra ser tão ousado, Haitani. — ele pressionou o dedão em seu próprio rosto como se aquilo pudesse manter seu autocontrole.

Ran riu, dando de ombros.

—  Dizem que o homem perde a noção depois dos trinta anos. Deve ser verdade. — ele suspirou pesadamente, esfregando a testa com a ponta de seus dedos. — Senhor. Eu sei que parece loucura, mas eu acho que já vi essa mulher antes.

Manjiro ergueu uma sobrancelha, encostando-se na poltrona.

— Estou ouvindo.

— Sinceramente? Eu não tenho certeza de nada. — admitiu. — Mas se ela for quem eu acho que é, acredite. Ela é mais útil viva.

Mikey franziu o cenho, irado.

— E quem disse que eu vou matar ela, seu animal?

Ran sentiu o próprio queixo bater no chão.

Perdão?

Ele ficou surpreso. Pra caralho.

— Pode estar a muitos anos debaixo do meu sapato, mas você não me conhece. — os olhos vazios do Sano assumiram uma certa faísca. — Agora vá. Não me importune mais com essa baboseira.

Demorou alguns segundos para Ran voltar a realidade.

Nunca tinha visto Mikey irritado.

Nunca deixou Mikey irritado.

Ran fez uma rápida reverência, saindo da sala ainda meio atordoado.

Ao fechar a porta atrás de si, deu de cara com Kokonoi — que parecia estar ali por um bom tempo.

O platinado estava com os braços cruzados, apoiado próximo a parede vermelho sangue do prédio antigo.

— Cansou de contar cédulas e decidiu ouvir atrás da porta, Hajime?

A expressão tediosa de Koko não mudou quando respondeu.

— Você mente mal, Haitani. — ele ficou de frente para o mais alto. — Não pense que Mikey acreditou em você. Nem por um segundo.

— Hm? — Ran deixou uma risada nasal escapar. — Tá se metendo nos meus assuntos...? — ele se aproximou alguns centímetros, ficando próximo ao rosto do menor. — ...Hajime?

Koko deu de ombros.

— Você quer alguma coisa com ela. — ele deu as costas, andando pelo corredor como se não tivesse escutado nada. — O problema, Haitani, é que o Mikey também quer.

Ran aquiesceu.

— Ele até se arrumou achando que veria ela. — Koko dava risada enquanto falava. — E só pra você saber, o Sanzu também já sabe sobre ela. Ele quer muito conhecer essa tal-

Ran de repente avançou sobre o platinado, agarrando na gola do sobretudo vermelho que estava usando.

Sanzu era um merda que adorava infernizar todo mundo que estivesse em seu campo de visão. Era um demônio incontrolável, alguém que só temia o Mikey em pessoa.

Nem Deus sabe o que Sanzu seria capaz de fazer com [Nome] só por estar entediado. Mas Ran sabia.

— Não ligo pra o que você fazer ou deixa de fazer. — começou. — Mas se você quer mesmo poupar o pescoço dessa pobre coitada...

Koko se desvencilhou do agarre de Ran, dando batidinhas no tecido vermelho.

Dê ela pro Mikey. Idiota.

Então saiu como se nada tivesse acontecido.

Era assim que ele era.

Kokonoi tinha olhos e ouvidos em todos os lugares, afinal, ele precisava vender informações para sustentar o seu vício. O vício de ter poder. De ter a informação que decide o destino de uma pessoa.

O poder vicia.

E esse fodido estava chapado com isso.

Mas isso não importava. Ela tinha colocado um alvo na própria testa. Ele já havia dito isso.

Mas foi ele que colocou aquele alvo ali.

Não interessa quem era o maldito que estava de olho nela, ele a viu primeiro.

[Nome] Shirazu agora estava marcada, mesmo que não quisesse. Mesmo que fugisse.

Ela deixou a porta aberta e permitiu que o demônio entrasse — que se apossasse dela. Era ele que ela esperava encontrar toda vez que chegava do trabalho, percorrendo a casa inteira com aqueles olhinhos ansiosos e exaustos. Ela ansiava por vê-lo, mesmo que não admitisse.

Não importa a motivação. Não importa o quão insano ele pudesse parecer.

Mesmo que ela gritasse e pedisse socorro, não havia mais volta.

[Nome] era dele.



𝐂𝐥𝐨𝐬𝐞𝐫 - 𝐑𝐚𝐧 𝐇𝐚𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora