Era dia de clássico, Barcelona contra Real Madrid. O clima no estádio estava elétrico. As arquibancadas eram divididas em uma massa de cores vibrantes, o azul e grená do Barcelona contrastando com o branco impecável do Real Madrid.
Eu, obviamente, estava do lado branco. O Real Madrid era meu time, meu coração, e nada me tirava da arquibancada em um clássico como aquele, ainda que meu time estivesse perdendo por 3x1 e faltassem apenas minutos para o fim do jogo.
Com o meu espírito futebolístico criado pelo meu avô, estava prestes a surtar por não aceitar perder. Não aceito perder, não pro Barcelona.
A frustração já tinha tomado conta de mim. Não conseguia acreditar como o Real estava jogando tão mal. Eu bebi água da garrafinha de plástico, tentando esfriar a cabeça, mas estava furiosa. Cada passe errado, cada chance perdida me fazia ranger os dentes. Para piorar, Marc Bernal, um dos jogadores do Barcelona que eu mais detestava, passava perto da arquibancada. Ele estava rindo, provocando os torcedores do Real com aquele olhar arrogante. Só de olhar pra ele, meu sangue ferveu.
Uma coisa é fato; quando não se tem Pablo Gavi em campo para provocar os rivais, temos Marc Bernal. Um estúpido de merda.
Instintivamente, sem pensar muito nas consequências, tirei a tampinha da garrafa que estava na minha mão e, num ato impulsivo, joguei na direção dele.
Acertei em cheio sua nuca.
Ok, acho que nunca me senti tão satisfeita na minha vida como estou me sentindo agora. Meu coração pareceu até se aquecer, talvez de rancor e frustração ou talvez de total satisfação.
Ele parou de repente, confuso, levando a mão à cabeça e se virando para ver de onde vinha aquilo. Quando nossos olhares se encontraram, não hesitei e levantei o dedo do meio, numa intenção desafiadora.
Já dizia aquele ditado; brasileiro além de afrontoso é irritavelmente corajoso.
Ele me encarou por um segundo, como se estivesse absorvendo a ousadia do meu gesto, e então riu debochadamente, olhando pra mim.
Aquele riso, aquele gesto, aquele olhar, aquela atitude, tudo, absolutamente tudo me irritou ainda mais. Ele era insolente e convencido, e, claro, o Barcelona estava ganhando e se duvidar depois dessa estúpida debochada dele comigo pode ter sido contado como um gol, de 4x1 pro Barcelona. Eu rolei os olhos, tentando ignorar, mas por dentro queria que ele sumisse da minha vista.
