Capítulo 1: O Pesadelo

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O sonho sempre começa da mesma maneira. Eu estou correndo.

A floresta ao meu redor é densa, cheia de sombras e sussurros que parecem me perseguir. As árvores passam rápido, seus galhos se estendendo como mãos esqueléticas tentando me alcançar. A cada passo, sinto meu coração bater com mais força. Estou ofegante, o medo me empurra para frente, mesmo sem saber de onde ele vem. O chão sob meus pés é úmido e traiçoeiro, tornando minha fuga mais difícil.
A sensação de estar sendo caçada é inescapável. Posso sentir algo se aproximando, uma presença que me observa nas sombras. Não consigo vê-la, mas está lá. O medo é sufocante, e meu corpo reage antes que minha mente possa processar. Estou correndo pela minha vida.
À frente, o som da água rugindo me alcança. A cachoeira. Lá está ela, imensa e avassaladora, com a água caindo em um abismo sem fim. Não há para onde fugir. Minhas roupas estão rasgadas, o frio morde minha pele, e a chuva cai pesada sobre mim. O desespero se apodera de mim.
Sem pensar, eu salto.
O vento corta meu rosto, meus pulmões se comprimem, e a sensação de queda é intensa demais para ser real. Tudo ao meu redor escurece enquanto eu caio... caio... caio...
Acordo com um sobressalto.
Minha respiração está acelerada, e meu coração ainda bate forte. Levo as mãos à cabeça, tentando afastar o pânico. Foi só um sonho, mas a sensação de terror permanece, grudada em mim como uma segunda pele. Meu corpo está tenso, como se eu ainda estivesse caindo.
Abro os olhos e percebo que estou deitada em uma superfície fria e dura. O ar ao meu redor é denso, com um cheiro metálico e químico. Tento me concentrar, mas minha cabeça lateja de dor. Meus olhos piscam, ajustando-se à luz fraca. Estou em um lugar estranho, um ambiente estéril e abandonado, com equipamentos antigos e poeira cobrindo tudo. Um laboratório?
Não há ninguém por perto. O silêncio é absoluto, e isso me deixa inquieta. Tento me levantar, mas minhas pernas estão fracas. Cambaleio por um momento antes de finalmente conseguir me equilibrar. Meu corpo dói, como se eu tivesse passado muito tempo inerte. Uma manta desliza de meus ombros, e, rapidamente, procuro algo para vestir. Um jaleco pendurado em uma cadeira próxima parece suficiente por agora.
Minhas mãos tremem. Eu tento focar, mas minha mente é um borrão. Não lembro de nada. Nada de como cheguei aqui. Nada do que aconteceu antes de acordar.
Uma sensação de vazio me toma.
Saio pela única porta que encontro, e o que vejo do lado de fora não melhora a situação. O lugar está completamente deserto. Equipamentos abandonados e móveis cobertos de poeira indicam que ninguém esteve aqui por um longo tempo. A pergunta "como eu vim parar aqui?" ecoa na minha mente sem resposta.
Minha cabeça dói. Preciso sair daqui.
Sigo por um corredor longo, e a cada passo, a dor em minha cabeça parece piorar. Tento manter a calma, mas é difícil. A incerteza é sufocante, e a sensação de que algo muito errado aconteceu aqui não me abandona.
Quando finalmente encontro a saída, respiro fundo. O ar lá fora é úmido e gelado. A chuva fina cai sobre mim, molhando meu rosto e as roupas já desgastadas. O céu está nublado, uma escuridão ameaçadora se estendendo sobre mim. Estou em uma estrada deserta, com árvores altas ao redor. O cenário é desolador, sem sinais de vida, apenas o som da chuva batendo nas folhas e no chão.
Olho para os dois lados da estrada. Não há placas, nenhum carro, nenhum ser humano à vista. Nada.
— E agora? — murmuro para mim mesma, a voz rouca de tanto silêncio.
Sem ter para onde ir, escolho um lado da estrada e começo a andar. A cada passo, minha mente tenta preencher as lacunas, mas nada surge. Quem sou eu? Por que estou aqui? As perguntas me consomem, mas as respostas não vêm.
Sei que sou uma vampira. Disso, tenho certeza. Meu corpo, meus instintos, minha fome... tudo isso eu reconheço. Mas, além disso, é como se eu estivesse presa em um vazio. Tento forçar minha mente a se lembrar, mas a dor só aumenta.
O tempo passa devagar, e minha exaustão começa a pesar. A chuva continua caindo, mas não encontro abrigo. Logo, meus instintos começam a dominar. Sinto a fome crescer, uma necessidade quase insuportável. Minha garganta arde, meu corpo reclama. Preciso de sangue.
Olho ao redor. A floresta densa à beira da estrada parece me chamar. Sem pensar muito, sigo em direção às árvores. O cheiro da terra molhada e das folhas me envolve, mas algo mais começa a emergir. Algo que desperta minha natureza predadora.
Caminho pela floresta em busca de uma presa. Minha mente está focada em um único objetivo: saciar a fome. Avanço em silêncio, cada passo é um eco de meus instintos ancestrais. Sinto o cheiro de um animal, algo ferido e vulnerável. Meus sentidos estão aguçados, a caçada é iminente.
Então, vejo um cervo ferido entre as árvores. A fome toma conta de mim, e estou prestes a atacar, quando algo me faz parar.
Sinto uma presença.
Viro-me lentamente, e lá está ele. Um homem. Alto, imponente, observando-me entre as árvores. Meu corpo congela. Algo nele desperta uma memória distante, algo que eu preferia ter esquecido.
— Você... — murmuro, o pavor me atingindo. — Você tentou me matar...

Beijo de VeludoOnde histórias criam vida. Descubra agora