Capítulo 7: O Caminho e os Perigos

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A viagem através da floresta é silenciosa, mas não desconfortável. Jonathan e eu caminhamos lado a lado, e, conforme avançamos, uma camaradagem começa a se formar entre nós. O sol se levanta lentamente, e a luz da manhã filtra-se pelas árvores, criando um espetáculo deslumbrante de sombras e luz.

— Então, Aria, quantos anos você tem? — Jonathan pergunta, quebrando o silêncio.

— Tenho cerca de 162 anos — respondo, tentando esconder o peso da minha história.

Ele arqueia uma sobrancelha, admirado.

— Uau, você é mais velha do que eu. Tenho 74 anos. Isso é impressionante.

— Velha o suficiente para saber que a vida é cheia de surpresas — digo, forçando um sorriso.

Ele ri, e por um momento, a tensão da jornada parece diminuir. No entanto, logo minha fome volta a se manifestar, uma lembrança constante da necessidade de sangue. Enquanto andamos, percebo que Jonathan tem um cantil preso ao lado, e a ideia de me alimentar de algo mais fresco me chama a atenção.

— Você tem alguma comida ou... — começo, hesitante.

Jonathan parece entender imediatamente.

— Na verdade, tenho um pouco de sangue aqui — ele diz, puxando o cantil e segurando-o para mim. — Pode ser exatamente o que você precisa.

Agradeço, e, enquanto ele me observa, bebo rapidamente, a sensação de saciar minha fome trazendo um alívio instantâneo. A energia flui para mim, revitalizando meu corpo.

— Agora que você está nutrida, parece bonita — ele brinca, um sorriso malicioso dançando em seus lábios.

Meus olhos se widenam, surpresas misturadas com o constrangimento.

— Você realmente não tem vergonha, não é? — digo, rindo nervosamente.

— Nenhuma. O que eu posso dizer? O charme é um presente que não posso deixar de usar! — ele responde, fazendo uma pose exagerada.

Continuamos a caminhar, a conversa fluindo mais naturalmente agora. Jonathan se mostra divertido, e a leveza entre nós me ajuda a esquecer os perigos que nos cercam.

— Então, Aria, como você se sente sendo uma vampira tão antiga? — ele pergunta, mudando de assunto.

— É uma bênção e uma maldição — respondo, lembrando-me do que perdi. — Eu vi muitas coisas e vivi muitas vidas. Mas também carrego as cicatrizes do passado. Nem todos os dias são fáceis.

Ele acena, compreendendo.

— Eu entendo. Você não deve ter visto muitos de sua espécie ao longo dos anos, certo?

— Não como gostaria — admito. — E isso me deixa um pouco... solitária.

Ele dá um passo mais perto, como se estivesse prestes a dizer algo, mas antes que possa continuar, uma mudança no ar captura minha atenção. Um cheiro familiar e antigo flutua no vento, fazendo meu corpo gelar.

— O que foi? — Jonathan pergunta, percebendo meu nervosismo.

— Eu sinto... algo. Alguém está nos seguindo — digo, tentando manter a calma.

A tensão entre nós aumenta à medida que continuamos. Jonathan acelera o passo, e eu o sigo, meu coração acelerando à medida que o cheiro se intensifica. Então, ouço um som à nossa esquerda.

— Aria — uma voz profunda e familiar chama.

Eu congelei, reconhecendo-a imediatamente. Lucien. O medo se espalha em meu corpo como fogo, e Jonathan parece sentir isso também.

— Nós precisamos correr! — digo, meu instinto gritando para me mover.

Mas não há tempo. Lucien emerge das sombras, seu olhar frio como o aço, os traços marcados pela idade e o poder.

— Pensei que você tivesse aprendido a se esconder melhor, Aria — ele diz, um sorriso sardônico nos lábios. — E quem é seu novo amigo?

— Ele não é um amigo — respondo, a voz tremendo. — E você não tem poder sobre mim.

— Não tenho? — ele provoca, dando um passo à frente. — Você ainda é minha criação. Não posso esquecer o que somos.

Jonathan se coloca à minha frente, os punhos cerrados.

— Você não tocará nela — ele diz, desafiador.

A tensão aumenta, e percebo que Lucien está prestes a atacar. Em um movimento rápido, ele se lança na nossa direção.

O mundo se transforma em caos. Jonathan e eu lutamos juntos, o instinto nos guiando. A força de Lucien é assustadora, e a batalha é intensa, com golpes e chutes trocados no espaço apertado da floresta.

— Cuidado! — grita Jonathan, desviando de um golpe de Lucien que quase o atinge.

— Não posso acreditar que você ainda está aqui, Aria — Lucien diz, seu tom cheio de desprezo. — Sempre tão fraca, sempre tão ingênua. Você deveria saber que não pode escapar de mim.

A frustração e o desespero crescem dentro de mim. Lucien é implacável, e cada ataque é uma lembrança de seu controle sobre mim. Ele luta com uma ferocidade que faz meu coração disparar, e sinto que a energia começa a se esgotar.

— Eu sou mais forte agora! — grito, tentando encontrar uma faísca de poder que possa usar contra ele.

Lucien ri, um som frio e sarcástico.

— Você acha que essa pequena magia vai me deter? — ele provoca. — Você sempre foi um peão no meu jogo.

Sinto que a raiva e a dor se misturam, e, em um momento de desespero, deixo que minha magia flua. Canalizo minha energia e crio um campo de força ao meu redor, imobilizando-o temporariamente.

— Agora! — grito para Jonathan. — Precisamos ir!

Com a magia fluindo, consigo prender Lucien, mesmo que por um instante. Ele grita de raiva e surpresa, seus olhos queimando com a intensidade de sua fúria.

— Você não pode me manter assim para sempre, Aria! — ele berra, sua voz ecoando pela floresta.

Jonathan e eu aproveitamos a chance e corremos, deixando Lucien para trás, mesmo que ele ainda esteja lá, furioso e ameaçador.

— Você fez isso! — Jonathan diz, olhando para mim com uma mistura de admiração e alívio. — Você realmente o imobilizou!

— Mas isso não vai durar — respondo, ofegante. — Ele sempre encontrará uma maneira de voltar.

Finalmente, ao cair da noite, conseguimos alcançar o clã que Jonathan mencionou. A entrada é adornada com símbolos que não conheço, e sinto uma mistura de ansiedade e esperança.

— Aqui estamos — Jonathan diz, olhando para mim. — Vamos nos apresentar. Mas lembre-se: nem todos aqui são amigáveis.

Ao entrarmos, a atmosfera muda, e a sensação de que estamos sob vigilância é palpável. Mas, por enquanto, conseguimos escapar de Lucien. Enquanto nos acomodamos, uma presença faz meu corpo se tensionar. Lucien, em algum lugar fora da porta, ainda observa.

— Eu sinto falta dos seus poderes, Aria... e do seu corpo — sua voz ecoa na minha mente, cheia de desejo.

Enquanto me instalo, sei que a luta ainda não acabou. Mas agora, talvez, eu tenha uma chance de descobrir a verdade.

Beijo de VeludoOnde histórias criam vida. Descubra agora